Até o começo do século XVI, o Egito era dominado pelo Sultanato Mameluco e se tornou província otomana em 1517. Sob o domínio otomano, Muhammad Ali Pasha era o nome mais influente do Egito e sua família governou a região por mais de um século

Quando o Império otomano foi fundado no começo do século XIV, era o Sultanato Mameluco que controlava o Egito. Recebendo honra e estima no mundo islâmico após derrotarem os cruzados e os mongóis, o Sultanato Mameluco reverenciava as cidades sagradas e o simbólico Califado Abássida.

O Império Otomano sempre teve boas relações com os mamelucos. Quando os otomanos ganhavam batalhas, eles costumavam mandar mensageiros ao Egito para anunciar as notícias e distribuir no Cairo os espólios da guerra. Da mesma forma, a conquista de Constantinopla em 1453 foi celebrada com grande entusiasmo no Cairo – bandas marciais chegavam a tocar no pátio do palácio do sultão.

No entanto, o crescimento gradual do pequeno estado otomano na Anatólia havia começado a causar inveja nos mamelucos. Quando o sultão Mehmet, o Conquistador, recebeu as notícias do tratamento inaceitável dado a um embaixador otomano pelos mamelucos do Cairo, ele reagiu de maneira hostil.

Além disso, o apoio dos mamelucos aos inimigos dos otomanos aumentou ainda mais a tensão entre os dois estados. Um embaixador, que foi enviado ao governante da Índia a mando do sultão Mehmet, o Conquistador, foi preso pelos mamelucos em Jidá durante a viagem de volta e os presentes que ele trazia foram confiscados.

No entanto, Bayezid II decidiu não reagir após tomar posse logo depois do falecimento do sultão Mehmet II. Ainda assim, a situação não permaneceria desse jeito. Quando o governante do Sultanato Mameluco deu proteção ao sultão Cem, irmão rebelde de Bayezid II, as relações entre o Egito e os otomanos foram arruinadas e uma guerra foi iniciada.

No entanto, quando nenhum dos lados conseguia derrotar o outro por estarem com seus exércitos enfraquecidos e seus recursos esgotados, o problema foi resolvido diplomaticamente. Nos anos seguintes, a aliança do Cairo com o Irã xiita decretou o fim dos mamelucos.

Nenhum sultão mameluco jamais havia perdido uma batalha ou morrido em campo batalha, até que dois sultões foram derrotados pelo sultão otomano Selim I nos anos de 1516 e 1517, e foram mortos. O Egito agora era uma província otomana.

Localizado na rota comercial das especiarias, o Egito sempre atraiu o interesse dos imperialistas. Em 1798, Muhammad Ali do Egito alcançou proeminência entre os voluntários que haviam se juntado para salvar o Egito da ocupação francesa com sua inteligência, capacidade e fortuna. Mais tarde ele se declarou quediva do Egito. O Império Otomano, que estava combatendo o exército francês na época, teve que aceitar a imposição.

Muhammad Ali Pasha, que foi eficaz na supressão da rebelião grega, não foi capaz de levar um insulto do Grão Vizir Hüsrev Pasha. Após ter sido enganado pelos franceses, que aproveitaram a brecha e se rebelaram, ele foi para Kütahya.

Os otomanos buscaram maneiras de obter o apoio da Inglaterra contra a revolta. O problema foi resolvido com a transferência do governo da Síria para Muhammad Ali Pasha, além do governo do Egito. Ele logo demonstrou que não podia ser subestimado. 

Após esses eventos, o Egito permaneceu sob o domínio otomano como um estado aparentemente obediente mas, na verdade, autônomo.

O canal de Suez, que liga o mar Mediterrâneo ao oceano Índico, não deu boa sorte ao país. Como fazia parte da rota para a Índia, atraiu a atenção de Londres. Em 1882, os britânicos ocuparam o Egito, que não pôde pagar os débitos e, em 1914, eles anexaram oficialmente o território egípcio à Inglaterra.

Durante a era republicana, surgiram sérias crises entre os dois países. Mustafa Kemal foi reconhecido como herói entre o povo egípcio pela sua luta contra o imperialismo. Ele foi uma figura muito popular na região.

Contudo, a deportação dos antigos membros do regime, principalmente os membros da dinastia otomana e o fato deles terem se abrigado no Egito, levou os egípcios a verem a situação da Turquia de maneira mais realista. As práticas antirreligiosas do governo Ankara geraram antipatia nos países islâmicos. 

Alguns dos primeiros problemas entre o Egito e a Turquia se deram após um acontecimento absurdo. Numa recepção no Ankara Palas em 29 de outubro de 1932, Mustafa Kemal ordenou que o embaixador egípcio Abdülmelik Hamza removesse o seu chapéu fez. O embaixador, atônito, relutantemente removeu o chapéu, que era reconhecido como o chapéu oficial do Egito. Depois, o chapéu foi banido na Turquia durante sete anos.

O chapéu fez foi colocado numa bandeja e carregado pelo atendente para longe, de modo a lembrar uma cabeça decepada. O embaixador, com o resto vermelho, se retirou da recepção. Os jornais britânicos fizeram uma cobertura detalhada do acontecimento durante dias e o Cairo mandou uma nota de protesto para Ankara.

Dois meses de tensões acabaram assim que o governo de Ankara mandou um pedido de desculpas para o Cairo. Depois, certos jornais egípcios publicaram artigos provocando Mustafa Kemal Pasha. Apesar do governo turco ter dirigido fortes críticas aos artigos, Cairo mandou uma mensagem dizendo que os artigos eram de humor e não deveriam ser considerados ofensivos. No fim das contas, essa tensão causou desvantagens para os turcos que esperavam reaver propriedades da era otomana na região do Egito.

Outra crise estourou em 1954. Fuad Hulusi Togay, então embaixador turco no Cairo, era o filho do famoso Fuad Pasha, uma personalidade política popular da época do sultão otomano Abdülhamid II. Ele era um homem rígido tal como seu pai e era casado com a Princesa Emine da dinastia do Egito. Os jornais publicaram alguns artigos negativos sobre Emine depois da derrubada da família real num golpe militar.

Togay desejava retornar à Turquia, mas foi rejeitado pelo governo por um tempo, até que teve seu retorno aceito – uma estratégia diplomática comum. Em sua cerimônia de despedida, Togay decidiu não convidar nenhum oficial egípcio.

“Ninguém me verá num lugar com tanta desordem novamente”, disse ele.

Dois dias depois, durante a cerimônia de inauguração do novo governo egípcio com o corpo diplomático, Togay também não apertou a mão do presidente golpista Gamal Abdel Nasser.

“Aperto somente a mão de cavalheiros”, disse Togay.

Um dia depois de ele ter sido declarado persona non grata, solicitaram que ele deixasse o Egito dentro de 48 horas. Togay foi insultado no aeroporto pouco antes de embarcar. Não permitiram que ele entrasse no salão dos diplomatas e seus pertences pessoais passaram por uma revista tediosa. Suas últimas horas no aeroporto foram fotografadas e publicadas por dias e, depois disso, as relações entre o Egito e a Turquia tiveram um bom tempo de paz.

A abolição do Império Otomano e a renúncia dos turcos ao califado no mundo islâmico foram os fatores que motivaram o Egito a se tornar a nação líder do Oriente Médio. Um regime socialista se instaurou após o reino ter sido abolido em 1953 e o país passou a seguir a União Soviética. O Egito também se tornou uma potência no Oriente Médio e tinha sob seu domínio outros países árabes pequenos do período como a Síria, o Iraque e o Iêmen. Isso causou ansiedade na Turquia, sua aliada, e nos EUA.

Quando Nasser foi derrubado em 1970, surgiu esperança. A chegada de Enver Sedat ajudou o Egito a traçar seus próprios planos sem a influência dos soviéticos. Quando Sedat foi morto em 1981, o Egito continuou em meio a uma disputa entre os EUA e a aliança da França com a Alemanha. Os EUA nunca tiveram relações muito amigáveis com os governos que iam contra Israel.

Fonte: https://www.dailysabah.com/feature/2017/02/03/strong-at-times-how-problematic-relations-between-egypt-and-turkey-evolved-over-centuries