Texto de: Jerlerup

A Suécia é a “capital mundial do estupro”, como o Breitbart e demais anti-islâmicos do mundo todo afirmam? Qual é o pano de fundo para os altos números de estupros relatados na Suécia? É a chamada “invasão muçulmana de imigrantes” a responsável por isso? A “cultura muçulmana do estupro” está por trás disso? Na verdade, o fato é que simplesmente a Suécia tem leis mais rígidas contra crimes sexuais como estupro, e que as mulheres suecas são criadas para não aceitarem qualquer coisa.

Eu sou sueco. Quando frequentava a escola, há 30 anos, ouvi sobre o caso de dois jovens estudantes americanos de intercâmbio que estupraram meninas suecas. Muitos suecos reagiram com horror. Muitos culparam TODOS os americanos pelos erros desses dois. “Todos os jovens brancos americanos são assim, racistas e estupradores”, “Os EUA são loucos”, “Os americanos são estupradores”. “Muita violência na TV americana.”

Breitbart e os islamófobos em todo o mundo fazem a mesma coisa com os muçulmanos. “Muçulmanos estupram mulheres”, afirmam. “Muçulmanos” estão atualmente “estuprando” a Europa, de acordo com o editor sênior do jornal Breitbart, Milo Yiannopoulos.

A chamada “evidência” para isso é a alegação de que o número de estupros supostamente está “disparando” na Europa, e tudo é atribuído a imigrantes muçulmanos.

É pior na Suécia, afirmam. A Suécia é um inferno onde os “muçulmanos” estupram, matam e queimam carros, dizem eles.

A Suécia é a “capital do estupro do mundo ocidental?”

O Breitbart odeia a Suécia mais do que qualquer outro país europeu. A Suécia é um reduto do feminismo e um país que aceitou muitos refugiados, especialmente muçulmanos. E todos nós sabemos que feministas, imigrantes e muçulmanos fazem o Breitbart enlouquecer! Quase todas as vezes que o jornal fala sobre a ”cultura islâmica do esturpo” na Europa, eles mencionam a Suécia como o pior cenário. A Suécia é a “capital do estupro do mundo ocidental”, afirma.

Como “evidência” para isso, são citadas estatísticas internacionais. Na verdade, de acordo com essas estatísticas, muitos estupros são registrados na Suécia: 63.5 incidentes de estupro por 100.000 habitantes. Os EUA, com 300 milhões de habitantes, têm 27. Isso levaria você a pensar que o número de estupros está disparando, mas então você para para analisar os dados. A Suécia com dez milhões de pessoas tem 5.960 estupros, Azerbaijão 16, Índia apenas 22.000, Líbano 19, Moçambique 44! E a Arábia Saudita afirma que quase não há estupro em seu país, e o Egito tem cerca de 100 ao todo, e no Canadá 576.

Então, o que há de errado?

Estatísticas

Isso significa que a Suécia não é segura para as mulheres e que a Arábia Saudita, Egito e Moçambique são o paraíso feminio?

Claro que não, existem grandes diferenças entre todos os países. A primeira é que o que é definido como estupro em Moçambique e na Arábia Saudita não é o mesmo que na Suécia ou na Alemanha e o que é legalmente definido como estupro nos EUA não é o mesmo que na Suécia.

Moçambique ainda tem as antigas leis coloniais que diziam que os estupradores não seriam punidos se casassem com suas vítimas e permanecessem casados ​​por pelo menos cinco anos. Arábia Saudita, bem … Mulheres são estupradas, mas o sistema legal não parece se importar com isso. Já a lei egípcia parace não proteger eficientemente bem as mulheres.

A lei sueca considera muitos atos como agressão sexual e estupro que outros países não consideram. Tem havido muita discussão global sobre o caso de Julian Assange. Se você concordar em fazer sexo com uma mulher na Suécia, usando preservativo, e tirá-lo no final do ato sexual, sem o consentimento da mulher, pode ser considerado estupro. A Suécia tem fortes leis contra o estupro conjugal e os estupradores podem ser condenados mesmo se a própria esposa não denunciar o estupro pelo marido. Existem propostas de lei que tornarão o assédio sexual online um crime, como o envio de fotos não solicitadas de um pênis para mulheres. O bullying sexual no trabalho é considerado crime e, se envolver contato físico sem consentimento, pode ser considerado estupro (n.t. então, obviamente, com tantas coisas sendo consideradas estupros ou “sexual harassment”, além da penetração sexual forçada, claro que o país terá os maiores números, não significando exatamente que há uma onda de muçulmanos abrindo pernas de suecas e enfiando seus órgãos reprodutores, ou estupros no sentido que entendemos no Brasil, por exemplo).

Nos EUA, o estupro conjugal ainda não é totalmente considerado crime em 13 estados.

Tem havido alguma discussão sobre isso online.

Imagine, por exemplo, se seu chefe se esfregasse em você de uma forma indesejada no trabalho uma vez por semana durante um ano. No Canadá, isso seria potencialmente um caso de agressão sexual. Sob as leis mais limitadas da Alemanha, não haveria nenhum caso. Na Suécia, seria contabilizado como 52 casos separados de estupro. Se você se envolveu em meia dúzia de atos sexuais com seu cônjuge, mais tarde sentiu que não havia dado consentimento, na Suécia, isso seria classificado como seis casos de estupro.

A BBC escreveu:

Dados oficiais das Nações Unidas mostram que houve 17 sequestros por 100.000 habitantes na Austrália em 2010 e 12,7 no Canadá.

Isso se compara a apenas 0,6 na Colômbia e 1,1 no México.

Então, por que não ouvimos nenhuma dessas histórias de terror? As pessoas estão sendo raptadas em massa nas ruas de Sydney e Toronto, enquanto o mundo faz vista grossa?

Não, o alto número de casos de sequestro nesses dois países é explicado pelo fato de que as disputas dos pais sobre a guarda dos filhos estão incluídas nos números. Se um dos pais leva uma criança para o fim de semana e o outro faz objeções e chama a polícia, o incidente será registrado como um sequestro, de acordo com Enrico Bisogno, estatístico das Nações Unidas.

E o terceiro fator é que o foco nos direitos das mulheres levou a um aumento nas denúncias de estupros à polícia. As mulheres suecas estão mais conscientes de seus direitos e não têm medo de denunciar agressões sexuais ou estupro.

Imigrantes muçulmanos são os que mais cometem?

O Globe and Mail escreveu:

Mas os refugiados e imigrantes não são responsáveis por grande parte das agressões sexuais na Suécia?

Num sentido. As estatísticas mostram que os nascidos no estrangeiro na Suécia, como na maioria dos países europeus, têm uma taxa de acusações criminais mais elevada do que os nativos, em tudo, desde furtos em lojas a homicídios (embora não o suficiente para afetar a taxa de criminalidade em mais de um minúsculo margem). O oposto é verdadeiro na América do Norte, onde os imigrantes têm taxas de criminalidade abaixo da média.

Sim, você leu correto. Os imigrantes têm taxas mais altas de acusações criminais do que os nativos na maior parte da Europa, mas nos EUA ocorre o contrário.

Mas a Suécia não possui estatísticas que cobrem a descendência de estupradores condenados. Dinamarca, o país vizinho, tem.

A Dinamarca é um dos países que tem números “disparados” de estupros, de acordo com o Breitbart. Bem, certamente há uma super-representação estatística dos imigrantes nas estatísticas de estupro. O jornal dinamarquês BT relatou há alguns anos que três vezes mais pessoas de origem imigrante são condenadas por estupro do que pessoas de origem dinamarquesa. Isso parece assustador, certo?

Vamos dar uma olhada nas estatísticas. Isso é de 2015. A primeira manchete é sobre crimes que têm a ver com agressão sexual (Sexualforbrydelser). A segunda manchete trata de estupro (Voldtaekt). As estatísticas mostram o número de condenados por ano e sua descendência.

89,77% da população da Dinamarca de mais de 5.580.516 era de ascendência dinamarquesa. Isso significa que há 10%, ou cerca de 560.000, com descendência estrangeira. Deles, cerca de 200.000 a 250.000 são muçulmanos. Em 2015, 553 pessoas foram condenadas por crimes sexuais, 456 eram descendentes de dinamarqueses. 49 foram condenados por estupro, 21 eram de ascendência não dinamarquesa (statistikbanken). Ruim, mas dificilmente tão alarmante que você possa alegar que “a Europa está entrando em colapso” devido a “estrangeiros” que “predominantemente” são “muçulmanos”. (E alguns dos não-dinamarqueses são visitantes do país que não vivem na Dinamarca.)

Abaixo você tem os números de 2014. 425 descendentes de dinamarqueses foram condenados por agressão sexual em 2014, em comparação com 39 estrangeiros (menos de 10%). 18 descendentes de dinamarqueses foram condenados por estupro, 12 descendentes de estrangeiros. (statistikbanken) Sim, os imigrantes e seus filhos têm taxas de criminalidade mais altas do que os dinamarqueses nativos, mas dificilmente é o desastre de que o Breitbart alerta.

Existem diferenças entre a Dinamarca e a Suécia, mas não grandes. O que é verdade para a Dinamarca deveria ser verdade para a Suécia.

A ironia é que o Breitbart odeia o feminismo e o conceito de direitos iguais para as mulheres. O feminismo torna as mulheres feias, afirmam. Eles escreveram vários artigos ridicularizando as mulheres que relataram sobre estupro e agressão sexual. Basta pesquisar no Breitbart e você verá: Estupro + boato. Estupro + falso. Estupro + mentira.

O Breibart zomba das vítimas de estupro e afirma que há um aumento nas alegações falsas de estupro. Mesmo assim, eles afirmam estar preocupados com o chamado “estupro islâmico”. Hipocrisia!

Ainda há muitos problemas na Suécia e na Dinamarca com a opressão das mulheres e com estupro e agressão sexual e alguns imigrantes trazem consigo uma visão das mulheres que não é aceitável para a maioria dos suecos. Mas isso NÃO justifica calúnias contra todos os imigrantes ou muçulmanos.

Não é a primeira vez…

Deve ser enfatizado que existem muitas semelhanças entre o ódio atual contra os muçulmanos e a forma como os judeus hoje, e historicamente, têm sido caluniados e odiados,

Os nazistas espalharam as mesmas mentiras sobre os judeus na década de 30, como o Breitbart espalha sobre os muçulmanos hoje. Alegou-se que existia algo como “Cultura do estupro judaico”. Especialmente a revista Der Sturmer ficou famosa por espalhar esse tipo de mentira.

Na foto abaixo, de Der Sturmer, você pode ver a ”cobra judia satânica” que está estuprando uma mulher, e ao fundo você pode ver o Talmude Judaico.

Na década de 1930, alegava-se que os refugiados judeus da Europa Oriental estavam sobrerrepresentados nas estatísticas criminais da Alemanha. Isso pode ser verdade, já que eles eram socioeconomicamente mais pobres que os judeus alemães nativos. Da mesma forma que o Breitbart faz hoje, os nazistas alegaram que isso era “evidência” da “criminalidade judaica” e da “cultura judaica de estupro”.

A Suécia e os países nórdicos estão no topo da lista de países onde as mulheres têm mais direitos, onde há mais igualdade entre os sexos. Existem problemas, mas vamos resolvê-los sem culpar todos os muçulmanos e sem espalhar mentiras.

Fonte: t.ly/sk9J