Uma invenção que dominou o final do século XX foi feita quase 1.000 anos antes, e não 100 como a maioria dos historiadores imaginava. Seu esquecimento pode ser um reflexo da falta de respeito que a Europa pós-renascentista mostrou às tecnologias de outras culturas.

O aço inoxidável é um aspecto quase onipresente na vida moderna, com o cromo e quantidades menores de outros metais fornecendo proteção contra a ferrugem, permitindo-nos usar o aço de maneiras antes inimagináveis. Acredita-se que a ciência básica por trás disso tenha sido descoberta por volta dos anos 1800 e amplamente aplicada pela primeira vez em meados do século XIX. No entanto, essa crença se deparou com a dura e fria realidade das evidências da fabricação avançada de aço muito antes.

A produção inicial de aço era mais arte do que ciência. Consequentemente, as descobertas de vestígios de cromo em armas e ferramentas de aço antigas foram consideradas acidentes. No entanto, a Dra. Rahil Alipour, da University College de Londres, encontrou evidências de que, em vez disso, os persas eram mestres siderúrgicos que, por centenas de anos, tinham um nição muito boa do que faziam.

A evidência disso vem não apenas do aço antigo, mas de um manuscrito intitulado al-Jamahir fi Marifah al-Jawahi (”Compendio para o Conhecimento das Gemas) do século X ou XI pelo calendário ocidental. O Compêndio inclui uma receita para fazer aço em um cadinho, o único documento que existe desde uma época em que poucos fabricantes de aço eram alfabetizados.

Fragmento de escória de aço com adição deliberada de cromo encontrado em escavações no Irã.

O autor, o polímata muçulmano Abu-Rayhan al-Biruni, famoso pela amplitude de seus estudos, dreferiu-se a um ingrediente vital para a fabricação de aço. No entanto, o passar do tempo significou que os estudiosos modernos não tinham certeza do que realmente era o ingrediente de que Biruni estava falando.

No Journal of Archaeological Science, Alipour afirma que o ingrediente secreto de Biruni era a cromita, que, como o próprio nome sugere, é rica em cromo. “Nossa pesquisa fornece a primeira evidência da adição deliberada de um mineral de cromo na produção de aço”, disse ela em um comunicado.

Documentos antigos referem-se a Chahak, na Pérsia, como um centro de fabricação de aço. Alipour e co-autores encontraram pedaços de aço deixados para trás em escórias de cadinho encontradas em uma das aldeias iranianas conhecidas como Chahak. Estes continham entre 1-2% de cromo, muito menos do que o usado no aço inoxidável, mas o suficiente para fornecer alguma resistência à oxidação.

Alipour também traduziu um manuscrito do século XIII que elogiava o aço Chahak por seus belos padrões, mas referia-se a suas espadas como frágeis. Em uma época em que a vida dos soldados dependia da longevidade de suas armas, e sobrava-lhe tempo para limpa-las, a resistência à ferrugem era menos importante do que a robustez. No entanto, se o método tivesse sido preservado, poderia facilmente ter levado às modernas técnicas de fabricação de aço muito antes de serem descobertas. Em vez disso, o valor de adicionar cromo ao aço precisou ser redescoberto do zero.

Os autores esperam que suas descobertas possam ser usadas para rastrear artefatos de aço de origem persa que podem ter sido amplamente comercializados ou coletados para museus.

Fonte: t.ly/yMHA