Embora o termo Fake News seja um termo consideravelmente recente, elaborado a não menos que cinco anos atrás, notícias falsas e seus desdobramentos são quase tão antigos quanto a própria civilização humana. E se hoje em dia dispomos de mecanismos mais seguros para assegurar fatos, como fontes checáveis, vídeos ou registros, em períodos como a Idade Média era quase impossível dissociar o fato do boato, especialmente onde a fonte oral predominava.

Assim, a Conspiração dos Leprosos é, em toda a sua constituição, uma daquelas fake news típicas do período medieval que, por uma série de razões, evoluiu fomentada pelo preconceito – e em alguns casos pela ganância – para mais um triste episódio de perseguição e morte.

Durante a Idade Média Europeia, a lepra era indiscutivelmente a pior de todas as doenças que um indivíduo poderia contrair naquela época: ela era uma enfermidade letal, sem cura e que se degenerava progressivamente. Durante os estágios de definhamento progressivo, a doença atacava o sistema nervoso dos pacientes, fazendo-lhes perder a percepção de dor ou de outras sensações nas áreas infectadas; a lepra também causava feridas internas e externas na forma de incontáveis vermelhões, geralmente produzindo pus fedorento. Pouco a pouco, dedos, narizes, língua e tantas outras partes do corpo se separavam do corpo, sem qualquer resposta de dor. No fim, o paciente encontrava uma morte lenta, mau cheirosa e que muitas pessoas considerariam asquerosa.

Numa época em que o contágio e os aspectos gerais da doença ainda eram pouco compreendidos, como continuariam sendo até os avanços na Medicina dos últimos três séculos, a lepra era uma doença compreensivelmente temida, sendo bem antigas as legislações das primeiras sociedades humanas para isolar leprosos do convívio social comum, evitando a proliferação de seu contágio.

Historiadores frequentemente entram em conflito sobre o tipo de tratamento que um leproso recebia em contexto medieval. De fato, é incoerente pensar que eles estavam próximos da condição social desfrutada por uma pessoa saudável, a discriminação pela doença naturalmente ocorreria em um ambiente onde antibióticos modernos eram algo inconcebível. Todavia, a condição social do leproso na Idade Média Católica também não era tão ruim quanto se poderia pensar; especialmente quando temos em mente a revolução religiosa sofrida no Ocidente com a prevalência do Cristianismo sobre o Paganismo Europeu.

Leprosos seriam expulsos de cidades e vilarejos, frequentemente teriam entrada negada em grandes centros urbanos e poderiam até mesmo serem destratados e segregados do convívio comum. Por outro lado, eles recebiam assistência social organizada principalmente pelas instituições religiosas e estabeleceriam suas próprias comunidades: os leprosários. Entre estes, destacam-se leprosários especiais administrados pela fraternidade de São Lázaro, cujo santo patrono não é ninguém menos que a figura da famosa parábola de Cristo, do Rico e do Lázaro; São Lázaro se converteu em santo patrono dos pobres e dos leprosos, além de ter seu próprio dia no calendário da Igreja. Na altura das Cruzadas, esta Ordem se militarizou e contou com um braço armado – adicionado ao braço monástico que permaneceu – de cavaleiros leprosos e não-leprosos, oficialmente conhecidos como Lazaristas ou Cavaleiros da Ordem de São Lázaro, que chegaram a obter castelos nos Estados do Oriente Latino assim como os Templários, Hospitalários e outras tantas Ordens famosas.

“Afastados da comunidade saudável, os leprosos formaram comunidades permanentes com base em um padrão monástico apoiado por benefices e doações dadas por uma ampla gama de benfeitores. De acordo com o Cônego-Penitenciário de Saint-Victor em Paris, Robert de Flamborough, que escreve em 1208-1215, os leprosos que viviam em leprosários eram considerados comunidades religiosas, uma vez que viviam de acordo com um conjunto de regulae baseado em princípios cristãos semelhantes aos dos monges e cônegos [...] Guy de Foulques, bispo de Le Puy eventualmente eleito como Papa Clemente IV, em 1256-1259 também elaborou um conjunto muito detalhado de regulamentos sobre leprosários, escritos com o objetivo de garantir os direitos dos leprosos residentes, garantindo seu autogoverno, mas garantindo a segregação do membros saudáveis ​​da comunidade para evitar a propagação da infecção.

[...]

Em 1265 a bula Venerabilibus fratribus de Clemente IV confirmaria os privilégios da fratres Sancti Lazari e colocaria todos os leprosários no Ocidente sob sua proteção e governo.” (SAVONA-VENTURA, 2019, p. 33-35)

Conhecer esse aspecto das comunidades leprosas, abastecidas por doações, será importante para uma compreensão completa dos eventos descritos a seguir.

Em 1321, informações circulavam na França sobre o que viria a ser um suposto complô de leprosos locais para espalhar sua doença pela contaminação de fontes de água, incluindo água de poço, com seus pós e venenos. Como todos os boatos e lendas do período, o relato evolui progressivamente: de uma história pouco elaborada até um relato mais complexo e sistemático que é enriquecido com toda a sorte de detalhes. E como todo boato e conspiração contra o povo de bem das comunidades medievais, os judeus logo foram associados ao plano maléfico, ainda que não houvesse a princípio nenhuma motivação coerente além do suposto ódio que a raça de Sião nutria contra a Igreja de Cristo; o terceiro estágio da conspiração foi introduzir os muçulmanos nela, e logo a Conspiração tinha um corpo elaborado onde os leprosos agiam por ordens dos judeus, que por sua vez foram subornados pelos muçulmanos da Espanha numa tentativa de destruir a população cristã da Europa; na sua forma mais madura, o próprio “Sultão de Granada” tinha se tornado o mandante final da Conspiração, o que era bastante sincronizado com os atritos militares do Emirado Granadino com o Reino de Castela naquela época.

 Embora talvez seja difícil descobrir onde ou por quem os rumores começaram, sabemos ao menos que eles se desenvolveram de forma endêmica primeiro no sul da França, no verão de 1321. Durante as torturas e julgamentos que se seguiram, diversas confissões foram extraídas. O leproso Johan de Bosco, em 16 de maio de 1321, confessou às autoridades de Regale Ville que o Geraldus, o responsável – também leproso – pelo leprosário de Alterque trouxe bolsas com pós e ordenou que todos lá as colocassem em fontes e rios, para que uma pessoa saudável que bebesse delas ou morresse ou se tornasse leproso também. Os boatos logo chegaram aos ouvidos dos nobres, dos bispos e das demais autoridades civis e religiosas, culminando nos reis e no próprio Papa.

Foi assim que o famoso inquisidor Jacques de Fournier, bispo de Parmiers e melhor conhecido pelos julgamentos e investigações de heréticos no vilarejo de Montaillou, se encarregou de investigar a questão ele próprio. Nos registros inquisitoriais do bispo-inquisidor – os quais ainda não foram necessariamente liberados ao público pelo Vaticano, embora alguns trabalhos acadêmicos tenham sido feitos através do estudo destes – temos registros de funcionários da Igreja responsáveis por leprosários que foram depostos por envolvimento com a suposta conspiração da lepra. Os arquivos de Fournier nos contam como o eclesiástico Guillaume Agasse, chefe do leprosário da própria Parmiers, teria confessado em 9 de junho de 1321 que 50 ou 60 representantes eclesiásticos de leprosários da França teriam se reunido num local específico para organizar o envenenamento da população “com a ajuda do rei muçulmano de Granada” (na época Ismaíl I). Os conspiradores, conforme contam a confissão, deveriam negar “sua fé em Cristo e na sua lei” como parte de sua conspiração.

Aqui acabe um adendo importante, que também não deixa de ser um pouco de juízo de valor: este não é o tipo de testemunho que uma pessoa em pleno controle das suas faculdades mentais faria. Embora a historiografia revisionista – a priori sem nenhuma conotação negativa com o termo – defenda que a tortura na Inquisição tenha sido algo raro, a natureza das informações dadas nos documentos, que muitas vezes omitem ou são ambíguos sobre a prática de tortura, deixam inegável que essas não são confissões legítimas, ainda que digam que o próprio Jacques de Fournier – tornado Papa em 1334 sob o nome de Bento XII – empregou tortura muito raramente, baseando-se nas poucas menções explicitas de tortura nos documentos sobreviventes. A não ser que a Inquisição seja dotada de um amplo aparato de suborno, um elemento até então desconhecido pela nossa Historiografia, ou de um poderoso aparato de terror dos seus réus – algo potencialmente provável, mas muito longe do que se precisaria para adequar-se a evidência – deveríamos seriamente levar em consideração que, de fato, temos diversos casos de tortura não documentada nesses registros de julgamentos.

Um grande catalisador para o crescimento abrupto da histeria dessa conspiração foi a Cruzada dos Pastores (1320), um outro movimento histérico de jovens e campesinos de todos os gêneros que formaram um grupo armado e completamente caótico com o objetivo de combater o Emirado de Granada e expulsar definitivamente os muçulmanos da Europa. O levante, que até chegou a adentrar em Aragão, fez uma trilha de destruição pelos dois reinos, atacando judeus, comunidades de leprosos e até clérigos, oficiais reais e castelos pelo caminho. Praticamente todos os historiadores associam a Conspiração da Lepra, ocorrida um ano após o rei de Aragão dispersar a turba armada e executar seus líderes por seus crimes, como um subproduto direto daquele movimento que canalizou diversas frustrações das classes camponesas da época (e.g. colheitas ruins, fome, endividamento com banqueiros judeus etc.) e eventos naturais e sobrenaturais. Aliás, é até importante notar tal correlação justamente por ser Aragão o segundo país a sofrer com a histeria que começou na França.

“A virada do século XIV encontraria a população rural da França pronta para um levante geral, com um forte desejo de iniciar uma cruzada para combater a ameaça moura na Península Ibérica. Este levante experimentaria uma transferência de atenção para as comunidades judaica e leprosa na França e Aragão, dando origem à Cruzada dos Pastores e alegações de uma Conspiração dos Leprosos em todo o país, onde – supostamente – as comunidades leprosas e judaicas, juntamente com o Sultão de Granada, haviam conspirado para envenenar os poços da França e, assim, matar as comunidades saudáveis ​​ou infectá-las com a lepra.

[...]

O mundo cristão europeu na virada do século XIV experimentaria uma série de eventos que abalaram os fundamentos político-religiosos e socioeconômicos da sociedade medieval, causando inquietação na população rural da França e da Península Ibérica. Em 1291, o mundo cristão foi expulso do Outremer, fazendo com que perdesse o tênue domínio que ocupou por duzentos anos na Terra Santa. Qualquer esperança de recuperar um ponto de apoio na cidade central das origens da fé cristã parecia ter sido destruída com a eventual prisão sob a acusação de heresia e julgamento dos principais cavaleiros da Ordem dos Templários em 1307 e a eventual execução pela queima de seus líderes em 1314.

Enquanto o Outremer era cada vez mais visto como uma causa perdida, as forças islâmicas no sul da Península Ibérica, representadas pelo Reino de Granada, eram um assunto diferente. O Reino de Granada viveu em uma relação estável com o Reino de Castela depois que o primeiro aceitou se tornar um estado vassalo deste último em 1236. No entanto, as últimas décadas do século XIII viram uma tensão crescente que se intensificou em 1319 com uma tentativa de invasão de Granada pelo exército castelhano. Esta tentativa de invasão provou ser inútil e foi totalmente derrotada pelo general mouro – uma derrota que enfatizou a ameaça potencial das forças islâmicas subirem a Península Ibérica avançarem para a França. Para aumentar ainda mais as tensões, a situação socioeconômica da população rural europeia piorou com o fim da Época Quente Medieval (900-1300), durante a qual condições relativamente quentes teriam prevalecido em várias partes do mundo encorajando o desenvolvimento agrícola. A nova Pequena Idade do Gelo, começando na virada do século XIV, trouxe uma série de mudanças climáticas no sul da Europa, caracterizadas por secas e períodos prolongados de chuvas fortes, levando a quebras de safra e fome em grande parte do norte e centro da Europa. Isso trouxe inquietação e descontentamento entre as massas. Na França, as frustrações provocadas por religiosos fervorosos contra a ameaça de incursão islâmica em terras cristãs, aliadas ao sofrimento gerado pela fome induzida pelo clima, foram vistas como um castigo por não seguirem a religião seriamente.

(SAVONA-VENTURA, 2019, p. 1-2)

Enquanto a Cruzada dos Pastores (1320) foi condenada pelos Reis de Aragão e da França, assim como pelo próprio Papa João XXII, a questão da Conspiração dos Leprosos foi tratada como um assunto à parte. É interessante notar, contudo, que as sementes do segundo podem ser encontradas facilmente no primeiro: durante os julgamentos dos “cruzados”, estes alegaram ter encontrado barris com pão bolorento durante uma ação de pilhagem em uma colônia leprosa francesa; os militantes usaram esta evidência para fazer a extraordinária alegação de que os leprosos estavam preparando esses pães para a confecção de venenos que pudessem contaminar águas de poço.

Na altura que os rumores explodiram no Sul da França, o próprio Rei Felipe estava de passagem pela região. Como apoiar ou condenar os rumores iria ou minar sua autoridade ou proliferar a violência, respectivamente, o monarca optou por encarregar estas tarefas à Inquisição. O encarregado pelas investigações foi ninguém menos que o infame Bernardo Gui. Após extensa investigação, o consagrado inquisidor notificou o crédulo rei francês de que:

“Detectamos e prevenimos um plano maligno dos leprosos contra o povo saudável do Reino da França. De fato, ao conspirar contra a segurança do povo, essas pessoas, doentes de corpo e insanas de mente, haviam conseguido infectar as águas dos rios, das fontes e de poços em todos os lugares, ao colocar veneno e material infectado neles e ao misturar [na água] pós preparados, de forma que os homens saudáveis bebessem delas ou usassem água infectada, tornando-se leprosos, ou morrendo, ou quase morrendo, e assim o numero de leprosos seria incrementado enquanto o número de saudáveis seria decrementado.” (TIBBLE, 2020)

O Rei decretou que todos os leprosos deveriam ser presos e “examinados” sob tortura, os culpados deveriam ser queimados na fogueira, punição adequada aos inimigos da fé e aos heréticos. Porém, como os crimes relatos na Conspiração foram enquandrados como lesa-majestade, as propriedades dos leprosos culpados estariam sujeitas ao confisco, sendo absorvidos pela própria Coroa. O arranjo parecia muito benéfico à monarquia, que poderia enriquecer às custas de propriedade confiscada; se não fosse o fato de que a maior parte dos bens já havia sido confiscada por nobres locais, sob o mesmo princípio legal. A julgar pelas isenções, doações e status desfrutados pelas comunidades leprosarias, tais confiscos seriam uma adição significativa aos bens régios e um antecedente católico, medieval e de menor escala do que aconteceria no século XVI com a Reforma Protestante.

“Embora os estudiosos suspeitem que essas alegações sejam falsas, as acusações persistiram, levando à prisão de muitas pessoas com lepra [...] Judeus e muçulmanos também foram incluídos nessa trama, culpados ou não, e estavam sujeitos a níveis comparáveis de violência. Como as comunidades de leprosos, judeus e muçulmanos ocupavam posições incômodas na sociedade cristã, de forma que a trama serviu de base para discriminá-los ainda mais. Os rumores também serviram como desculpa para confiscar propriedade, assassinar e segregar ainda mais as pessoas com lepra do resto da comunidade.” (DREISINGER, Olivia. Make Them All Sick: The Leper Plot of 1321. Coven Berlin.)

O rei de Aragão foi notificado da suposta conspiração pela carta de um parente, o rei de Maiorca nas Ilhas Baleares. Mas diferente da França, que esperou o confiável inquérito de Bernardo Gui, o rei aragonês decidiu sobre o assunto em uma semana, enquanto leprosos franceses adentravam o reino por conta da perseguição em sua terra natal. O rei aragonês ignorou completamente o papel dos judeus na suposta conspiração, por conta do seu importante valor econômico, e decidiu perseguir com violência os leprosos estrangeiros, prendendo, torturando e confiscando seus bens, inclusive leprosários da Igreja; eventualmente, os leprosos de Aragão seriam alvo das mesmas medidas, e a Inquisição se estabeleceu em Manresa, Ejea de los Caballeros, Huesca, Montblanc, Tarazona e Barcelona para coordenar a situação; assim como na França, os culpados eram queimados vivos na fogueira.

Após as perseguições, dúvidas sobre a autenticidade dos boatos emergiram, e uma espécie de consciência pesada atingiu a Igreja e o Estado. Os leprosos de Limoges, que haviam sido marcados com ferro em brasas e presos perpetuamente, foram soltos depois de um mês. Os judeus continuaram sendo perseguidos, mas as alegações de envenenamento de poço passaram a ser tratadas como “algo que foi dito” e menos como um fato; curiosamente, parece que os europeus não eram desconhecidos à arte da origem da fonte. O próprio Jacque Fournier, agora Papa, tentou ajudar os leprosos de Tolouse a reaver seus bens em 1338, já 17 anos após o caso; o Sumo Pontífice, antes perseguidor, agora dizia que os leprosos já haviam sido considerados inocentes pelas cortes seculares, o que demandava a restituição dos bens confiscados. Não sabemos dizer, porém, quais foram os resultados de seus esforços.

“Os julgamentos da Inquisição

Em dezembro de 1320, o Bispo de Dax mandou prender todos os leprosos de sua diocese, um ato que pode ter ajudado a precipitar a violência subsequente e contribuir para as acusações contra os leprosos na primavera de 1321. Em fevereiro de 1321, as comunidades de Toulouse, Albi e Carcassonne haviam feito uma petição à monarquia francesa para segregar os leprosos e expulsar os judeus da França. Os cônsules ainda tentaram obter jurisdição sobre as propriedades autônomas pertencentes aos leprosários, oferecendo seus serviços para administrar as receitas e doações devotas provenientes dos leprosos e providenciar a manutenção destes.

[...]

Enquanto as ações contra os leprosos e os leprosários eram empreendidas pelas várias autoridades municipais, o rei Filipe V estava em Poitiers presidindo uma assembleia das cidades do sul da França. Em 21 de junho de 1321, ele emitiu uma ordem declarando que este complô de envenenamento do abastecimento de água pelos leprosos constituía um atentado à majestade real e, portanto, sujeito à autoridade das cortes do rei. Desta forma, todos os bens apreendidos dos leprosos eram revertidos para a Coroa. Leprosos que confessassem seu envolvimento na trama seriam queimados na fogueira; aqueles que fossem considerados inocentes ou que tivessem menos de quatorze anos seriam aprisionados nos leprosários. [...] Indivíduos acusados ​​de perpetuar a conspiração dos leprosos foram levados perante o Tribunal da Inquisição presidido pelo Bispo Fournier (mais tarde eleito Papa Bento XII) em Palmiers, no sul da França. Em 16 de agosto, o rei desistiu da apreensão dos leprosários franceses e alguns dias depois perdoou todos os leprosos que haviam sido presos e considerados culpados durante o tumulto: em essência, ele aceitou sua inocência e o fato da Conspiração dos Leprosos ser um hoax.” (SAVONA-VENTURA, ibidem, p. 38-39)

 Convêm, finalmente, citar o testemunho de João de Bosco, leproso, sobre os detalhes da Conspiração durante sua suposta reunião solene em Tolouse:

“Você vê e ouve como os cristãos com boa saúde nos veem, os enfermos, em reprovação e abjeção, como eles nos rejeitam de sua companhia e multidão, e como somos considerados em escárnio, blasfêmia e desprezo. É por isso que foi discutido, deliberado e ordenado por nossos superiores que, por todo o mundo cristão, os cristãos saudáveis ​​receberão, simpatias e poções por meio das quais todos morrerão ou se tornarão leprosos, ou doentes. E assim, os enfermos e os atuais ministros assumirão a administração e o poder que [os saudáveis] detêm, receberão suas terras e as governarão e até mesmo se apropriarão delas. E para isso, foi deliberado e decidido pelos superiores ter o rei de Granada como aliado e defensor. Este rei já anunciou a alguns de nossos superiores que estava disposto a nos fornecer conselhos, ajuda e assistência neste ponto. A fim de efetuar e levar isso a uma conclusão bem-sucedida, foi decidido que em todos os lugares da cristandade, os enfermos devem colocar pós, simpatias ou poções nas fontes, poços e águas correntes, para que essas águas sejam infectadas e corrompidas, e aqueles que bebem deles se tornem leprosos ou morram em pouco tempo. Para isso, à conselho dos médicos, foram preparados muitos pós que cada pessoa aqui presente receberá em bolsas de couro ou de tecido para levar e colocar na água, cada um no lugar onde vive ”.

O testemunho revelou ainda que 'Os comandantes superiores enviaram o comandante do leprosário de Bordéus para tratar com o rei de Granada e com o sultão [da Babilônia], e foi ele quem nos comunicou isso'. Os potenciadores muçulmanos exigiram que os leprosos renunciassem a Cristo e cuspissem na cruz como sinal de seu compromisso. [...] O envolvimento e apoio muçulmanos à conspiração dos leprosos era falsa, assim como não havia um sultão em Bagdá naquela época. Ele [o confessor] foi julgado culpado apenas da acusação de heresia e blasfêmia, e condenado à prisão perpetua. Ele não foi considerado culpado de envenenar a água (Ibidem, p. 41-43)

Bibliografia:

SAVONA-VENTURA, C. The Leper's Plot of 1321 -Evidence of a nation-wide leprosaria network in 14 th century France. Disponível em: <https://www.academia.edu/41304538/The_Lepers_Plot_of_1321_Evidence_of_a_nation_wide_leprosaria_network_in_14_th_century_France>. Acesso em 8 de junho de 2021.

NIRENBERG, David. Communities of Violence: Persecution of Minorities in the Middle Ages. Princeton, 1996.

TIBBLE, Steve. Medieval Strategy? The Great “Lepper Conspiracy” of 1321. Yale University Blog, 2020. Disponível em: < http://blog.yalebooks.com/2020/09/11/medieval-strategy-the-great-leper-conspiracy-of-1321/>. Acesso em 8 de junho de 2020.