Por volta do final do século XIX, no início do XX, o Império Britânico foi considerado o maior país muçulmano do mundo, devido a todas as terras islâmicas que anexou.

Anteriormente, no século XVI, a famosa rainha Elizabeth I havia se voltado em aliança ao Império Otomano e recebido propostas de cooperação para colonização das Américas, do sultão marroquino Ahmad al-Mansour, mas a história de alianças politicas de monarcas britânicos com o mundo islâmico possui uma trajetória ainda mais antiga.

Em 1213, o Rei João da Inglaterra, ele mesmo, o inimigo do Robin Hood, irmão de Ricardo Coração de Leão e filho de Eleonor da Aquitânia, enviou uma comitiva ao Califado Almóada, e seu líder supremo, o califa Muhammad al Nasir, na qual propunha sua conversão ao Islã e a transformação da Inglaterra num reino muçulmano.

As alegações aparecem no Chronica Majora, escrito alguns anos após o evento pelo monge beneditino Mateus de Paris. Em 1207, o Papa Inocêncio III colocou a Inglaterra sob um interdito que efetivamente fechou as igrejas do país.

Ele excomungou João dois anos depois. Enfrentando guerra com a França e rebelião em casa, o monarca estava em uma situação difícil, e também com todas as pressões para que assinasse uma Magna Carta.

Esse foi o plano de fundo para, talvez, a iniciativa diplomática mais inusitada da história inglesa. João enviou Thomas de Erdington, Radulus, filho de Nicholas Esquire, e um clérigo, Robert de Londres, em uma missão secreta rumo ao Marrocos e sua capital, Marraquexe.

Ao chegarem, eles se aproximaram do poderoso califa Muhammad an-Nasir, que ainda amargava sua derrota em Las Navas de Tolosa, contra os reinos cristãos da Espanha. Sua tarefa era cooptar seu exército para ajudar a derrotar os inimigos convergentes de João.

Mateus alegou que eles levaram uma carta da oferta do rei, propondo colocar a Inglaterra à disposição do califa e prometendo que João “não só renunciaria à fé cristã, que ele considerava vã, mas também aderiria fielmente à lei de Muhammad”.

De acordo com a crônica, longe de ficar impressionado, o califa mandou os emissários de João embora, secamente, assegurando-lhes que não tinha intenção de se aliar a alguém tão carente de fé, e que pretendia se tornar apóstata de sua religião por pura conveniência política. Assim, rejeitado, João acabou tendo que apaziguar o Papa e os barões.

A história é verdadeira? Bem, embora João estivesse certamente explorando várias opções diplomáticas extremas na época, muitos historiadores medievais importantes acreditam que a história de sua oferta de se converter ao Islã possui problemas de precisão.

Afinal, embora Mateus de Paris possa ter sido um historiador contemporâneo, ele também era propagandista, com a intenção de atacar a posição do rei, extremamente impopular, e difamá-lo. Por outro lado, ele reivindicou uma fonte impecavelmente colocada para a história. Paris era monge na abadia de St. Albans, onde o abade chefe era Robert de Londres, um dos membros da missão que teria partido rumo ao Marrocos.

Contudo, João não teria sido o primeiro monarca britânico que ameaçou tornar-se muçulmano por estar brigado com o papa. Seu antecessor, Henrique II, possui uma história ainda mais completa neste sentido. Mas este será o tema de outro artigo.

Bibliografia

  • Chesterton, G.K. (1925). The Everlasting Man. London: Hodder & Stoughton. p. 215.
  • Ronay, Gabriel (1978). The Tartar Khan’s Englishman. London: Cassel. pp. 28–34.
  • Graham Stewart, The king who wanted Sharia England. The Times, 16 February 2008

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