Ao navegarmos nas redes sociais, realizar pesquisas na internet ou em viagens, às vezes nos deparamos com sistemas de escrita diferentes. Algumas delas, inclusive, são escritas e lidas da direita para a esquerda. No Facebook, por exemplo, ao respondermos uma pessoa que tem o nome com caracteres hebraicos ou arábicos, notamos que a direção da digitação muda, o que pode nos confundir. Mas por que isso acontece?

O hebraico, a língua da Bíblia: uma famosa língua que se escreve da direita para a esquerda.

A primeira coisa que devemos saber é que há diferentes tipos de alfabetos que se desenvolveram sob diferentes condições e períodos históricos, representando diferentes conceitos de linguagem. Os caracteres ocidentais latinos e gregos, escritas da esquerda para a direita, representam tanto vogais quanto consoantes. Já as línguas hebraica e árabe, são escritas da direita para a esquerda e representam apenas consoantes. Há ainda aquelas que representam sílabas, como o chinês e o japonês.

O chinês e o japonês, que são tradicionalmente escritos na vertical e da direita para a esquerda, passaram a ser escritos da esquerda para a direita na horizontal, com a tradicional escrita vertical se transformando numa “norma culta” ou “arcaica”. Um outro exemplo de língua escrita que mudou sua direção são as línguas nórdicas e germânicas, como o norueguês e o anglo-saxão: quando eram escritas no futhark, o alfabeto rúnico, ambas eram escritas da direita para a esquerda e, após a chegada do cristianismo, mudaram sua direção de escrita e seu alfabeto.

O alfabeto rúnico, ou futhark: caiu em desuso após a introdução do cristianismo e do alfabeto latino.

Algumas línguas, no entanto, não mudaram: o hebraico e o árabe são os exemplos mais famosos dessas escritas “dextrosinestrais” (termo técnico), assim como o farsi e o amazigh. Mas ainda não respondemos à pergunta inicial: por que isso ocorre? A resposta mais aceita é mais simples e surpreendente que se imagina: assim como os alfabetos são influenciados por processos históricos e locais, a direção da escrita também é. Mais do que isso, a principal influência sobre a direção é, na opinião da maioria dos estudiosos, o material onde ela era escrita.

O árabe talvez seja a mais conhecida língua escrita da direita para a esquerda, e desde o advento do Islã é escrito em papéis, sejam eles os modernos de celulose ou os antigos de pele de cabra.

Como o material pode influenciar na direção da escrita? É simples: sociedades que apenas tinham acesso à escrita por meio da inscrição em pedras, rochedos ou placas de pedra desenvolveram uma escrita da direita para a esquerda pelo fato da maioria dos entalhadores serem destros, e, uma vez que a mão direita seria usada para o martelo, e a esquerda para o cinzel, isso tornaria a escrita da esquerda para a direita difícil e contraintuitiva. É o caso dos já citados alfabetos árabe e hebraico: nascidos num ambiente rochoso, árido e austero, eles não tinham técnicas elaboradas como a dos egípcios para fazerem papiro, que era em si um material muito caro, tendo então que praticar a escrita nas rochas que os cercavam.

Antes da introdução do papel na era pós-islâmica, o árabe antigo era escrito em rochas.

Enquanto isso, é geralmente aceito que sociedades com fácil acesso ao papel e seus predecessores (como o papiro) desenvolveram escritas da esquerda para a direita por causa da conveniência para os escribas – em sua maioria também destros – uma vez que lhes era mais confortável e limpo (por causa da tinta) escrever assim. O grego, passou a ser escrito da esquerda para a direita ainda na Antiguidade, era originalmente escrito ao contrário – da direita para a esquerda – pois isto era feito nas rochas da Grécia, num tipo de escrita que os arqueólogos chamam de boustrophedon.

Exemplo de escrita grega boustrophedon, lida da direita para a esquerda.

Desse modo, isso nos lança luz sobre as já citadas direções de escrita sino-japonesas e nordo-germânicas: enquanto entre os nórdicos e germânicos, que só tinham acesso à escrita em pedras, quando eram pagãos e utilizadores do alfabeto rúnico, após a introdução do cristianismo – e, portanto, do papel de cabra e do latim – acabaram por adotar o alfabeto latino junto à Cruz e o papel.

Apesar de essa teoria não ser totalmente confirmada pelos estudiosos e linguistas, ela é, geralmente, a mais aceita, até mesmo em virtude da importância do ambiente onde se vive para o desenvolvimento das sociedades, da importância dos processos históricos, além dos estudos e análises arqueológicas, que apoiam a veracidade dessa hipótese sobre as outras.

Bibliografia: