Com a ascensão de Dom Afonso III ao trono de Portugal, este deu continuidade ao expansionismo rumo ao sul muçulmano que havia iniciado seu ancestral Dom Afonso Henrriques. A expansão de Afonso III dá-se no contexto da perda gradativa das fortalezas do vale do Guadiana e da parte oriental do Gharb al-Andalus ou “Algarve’’ por Ibn-Mahfuz, emir da taifa de Niebla, do período das segundas taifas pós-almoadas, e último representante do poder muçulmano no Alandalus ocidental. Com a conquista de Sevilha em 1249, Ibn-Mahfuz fica completamente isolado, não lhe restando outra alternativa que não um acordo com Fernando III de Castela.

A cidade de Faro, isolada e sem esperança de socorro por parte das forças muçulmanas, rendeu-se facilmente perante as forças das ordens militares, experientes e bem disciplinadas, mesmo sendo estas constituídas, provavelmente, por um pequeno número de soldados. Assim se explica porque nas fontes contemporâneas muçulmanas esta e outras fortalezas algarvias surjam não como conquistadas, mas como "entregues" aos cristãos. Afonso III tomou posse da cidade do Faro em 27 de março de 1249, das mãos do alcaide Aloandro Ben Bakr, do proeminente clã dos Banu Harun, de origem muladi (ibero muçulmana). Tanto os nomes "Madragana'' como "Aloandro'' são adaptações lusas de seus nomes originais.

Seguindo o caminho de monarcas ibéricos anteriores como Alfonso VI de Castela que casou-se com a princesa muçulmana Zaida de Sevilha, Dom Afonso III tomou como concubina a filha do alcaide, Madragana Ben Aloandro, mesclando assim a linhagem real portuguesa com a dos Banu Harun. Pelas relações intimas com o rei Afonso III de Portugal, rei católico, e por ter filhos com este, foi batizada, tendo na época recebido um novo nome cristão, passado assim a chamar-se Maior Afonso, ou Mor Afonso (sendo que o termo Mor era uma abreviatura de Maior, nome bastante comum entre as mulheres do Portugal medieval). O nome Afonso foi-lhe atribuído e significa "A filha de Afonso", o que segundo alguns historiadores pudera querer dizer que depois de amante real D. Afonso III foi seu padrinho de batismo, transformando-a assim numa filha espiritual. Depois de a paixão do rei desaparecer, Madragana foi casada com Fernão Rei, de quem teve uma filha devidamente documentada e chamada Sancha Fernandes.

Por via das relações de Madragana com o rei Afonso III de Portugal, de quem teve cinco filhos, resultou uma numerosa família que se tornou antecessora de quase todas as famílias reais e aristocráticas da Europa, dentre eles D. Martim Afonso Chichorro (1250 - 1313) e Dona Urraca Afonso de Portugal, passando pela Casa de Sousa (Condes de Miranda, Marquês de Arronches e Duques de Lafões). Um dos seus mais ilustres descendentes foi Rui de Sousa, que em 1494 negociou, escreveu e assinou o Tratado de Tordesilhas, em nome do seu rei, João II de Portugal. Rui foi acompanhado à corte castelhana pelo filho, João de Sousa, que também assinou o tratado. Destacam-se também Martin Afonso de Sousa, senhor de Martagoa, que participou na batalha de Aljubarrota em 1385, ou outro Martin Afonso de Sousa, governador do Brasil e da Índia portuguesa no século XVI.

As famílias reais europeias também descendem dela por meio de Charlotte de Mecklenburg-Strelitz, bisavó da Rainha Vitória, e por casamentos subsequentes de membros da família real inglesa com os de outras casas reais.  Contudo, Afonso III não seria o único na linhagem dos reis portugueses a se casar com uma princesa muçulmana. Mais recentemente, o príncipe brasileiro João Maria de Orleans e Bragança casou-se com a princesa egípcia Fátima Scherifa Chirine, ex-esposa do príncipe egípcio Hassan Omar Toussoun de Alexandria em 1949.

Bibliografia:

-Herculano, Alexandre. História de Portugal. 3. [S.l.]: Casa da Viúva Bertrand e Filhos. p. 8.

- David, Henrique; Pizarro, José Augusto P. de Sotto Mayor (1989). «A conquista de Faro : o reavivar de uma questão». Instituto Nacional de Investigação Científica. Revista de História. IX

-BRANDAO, António (1632). Quarta parte da Monarchia lusitana : que contem a historia de Portugal desdo tempo del Rey Dom Sancho Primeiro, até todo o reinado delRey D. Afonso III. Lisboa: Mosteiro de S. Bernardo. pp. 220 verso

-Luís Suárez Fernández, (1976). Historia de España Antigua y media. Editorial Rialp.

-Anselmo Braamcamp Freire, (1973). Brasões da Sala de Sintra. Imprensa Nacional-Casa de Moeda.

-António Caetano de Sousa, (1946). História Genealógica da Casa Real Portuguesa. Atlântida. I Vol.

-Felgueiras Gaio, (1940). Nobiliário das Famílias de Portugal. Braga.

-José Augusto Sotto Mayor, (1999). Linhagens Medievais Portuguesas. Porto, Universidade Moderna.

-Rei, António (2011/2012). Descendência Hispânica do Profeta do Islão - Exploração de Algumas Linhas Primárias. Instituto Português de Heráldica.

-Manuel Abranches de Soveral, (2000), "Origem dos Souza ditos do Prado", em Machado de Vila Pouca de Aguiar. Ascendências e parentescos da Casa do Couto d'Além em Soutelo de Aguiar, Porto.