Keumalahayati ou somente Malahayati (1550-1615), foi uma almirante da marinha do Sultanato de Aceh, dominando a área que compreende Sumatra, na Indonésia moderna. Conhecida não somente pela sua história e conquistas, Malahayati é lembrada também como a primeira mulher a se tornar almirante na história do mundo moderno.
 
Malahayati não só se tornou almirante, mas também era filha de um, Machmud Syah do Império de Aceh. Após se graduar em Pesantren, uma Escola Islâmica, ela continuou seus estudos na capital do sultanato, na Academia Militar Real, também chamada de Mahad Baitul Naqdis.
 
Sendo estudante em um internato, com graduação militar e também já viúva, liderou um exército de demais viúvas para se tornar uma das forças mais temíveis e formidáveis a navegar pelos mares aos arredores de Sumatra. Sim, isso mesmo que leu, um exército de mulheres (recrutadas principalmente de outras viuvas cujos maridos morreram combatendo invasores coloniais europeus).1
 
Temida e também admirada, prova de sua competência em batalha foi no icônico caso envolvendo o comandante de uma expedição holandesa, chamado Cornelis de Houtman2. Em sua expedição para a atual Indonésia, Cornelis atracou no porto de Aceh, sendo recepcionado pacificamente pelo sultão Alauddin Mansur Syah. Entretanto, de Houtman mesmo que aceito de maneira pacífica em território indonésio, acabou insultando quem o recebeu. Vale mencionar que Cornelis de Houtman já havia travado batalhas contra o Sultanato de Banten ao nordeste da ilha de Java antes de chegar em Aceh.
 
Após seus desentendimentos com o sultão, Cornelis decidiu atacar. Acontece que o explorador holandês não contava com um exército de viúvas para frustrar seus planos. Nesse sentido, Malahayati e as Inong Balee3 travaram diversas batalhas violentas contra a ameaça holandesa, no fim vencendo e matando Cornelis de Houtman em 11 de setembro de 1599.
 
Um ano depois outro holandês voltaria a perturbar a região, dessa vez foi o almirante Paulos van Caerden, que roubou um navio mercante de Aceh quando ainda na costa da província. Após o incidente, em junho de 1601, Malahayati ordenou que outro almirante holandês fosse preso, dessa vez Jacob van Neck.
Os problemas relacionados com os holandeses eram comuns na costa indonésia, o que levou (após vários casos semelhantes) ao bloqueio de expedições por parte da Marinha Holandesa na região, havendo também a ameaça da frota espanhola e portuguesa. Depois de ocorridos vários incidentes, Maurits van Oranjeenviou emissários com objetivos diplomáticos, pedindo desculpas ao Sultanato de Aceh.
 
Os emissários enviados por van Oranje se encontrariam em agosto de 1601 com Malahayati para que pudessem firmar acordo. Do tratado em questão foi acertado cessar fogo, tendo sido pago também 50 mil florins holandeses como compensação pelas atitudes de Paulus van Caerden, enquanto que em contrapartida Malahayati soltaria prisioneiros holandeses. Após o acordo firmado entre a almirante e os emissários de Mautis van Oranje, o sultão de Aceh enviou também três emissários para a Holanda.
 
Essa não foi a única ocasião em que a reputação de Malahayati levaria à forças estrangeiras preferir um caminho pacífico. Em 1602 a sua fama como guardiã de Aceh levou a Inglaterra a seguir o mesmo caminho da Holanda: pacífico e diplomático, para que pudessem entrar no estreito de Malaca. Uma carta escrita pela Rainha Elizabeth I foi enviada através do emissário James Lancaster para ser entregue ao sultão de Aceh, sendo as negociações lideradas por Malahayati com o emissário da coroa inglesa. O método diplomático foi um sucesso para a Inglaterra, uma vez que abriu a rota até Java, estabelecendo posteriormente centros mercantes em Banten.
 
Malahayati seria morta em combate ao atacar uma frota portuguesa em Teleuk Krueng Raya, sendo lembrada como uma das maiores guerreiras de todos os tempos, cujo nome foi utilizado em várias construções importantes, como hospitais, universidades etc. Há inclusive um porto levando seu nome, assim como um navio da marinha Indonésia, o KRI Malahayati.

Notas

[1] Não era algo incomum as mulheres exercerem algum papel de liderança no Sultanato de Aceh, uma vez que o reino foi governado por uma série de sultanas após o reinado do sultão Iscandar Sani. Na história islâmica podemos ver outros grupos de mulheres pegando em armas para defender seu território, não sendo o caso de Malahayati e seu exército algo isolado, com amostras presentes desde a época do Profeta no século Vii.
 
[2] Cornelis de Houtman (1565-1599) foi um explorador marítimo holandês, sendo lembrado principalmente por descobrir uma nova rota da Europa até a Indonésia. Pioneiro na exploração marítima holandesa, comandou uma expedição até a Indonésia, onde encontraria Malahayati;
 
[3] O exército de Malahayati era composto pelas viúvas dos homens de Achém, chamadas de Inong Balee;
 
[4] van Oranje (1567-1625) era um “estatuder”, isso é, alguém que exercia um cargo político nas províncias holandesas, cumprindo funções executivas. Mais tarde Maurits se tornaria príncipe de Orange, uma região no que hoje é o sul da França.
 

Bibliografia:

 
-M.C. Ricklefs. A History of Modern Indonesia Since c. 1300, 2nd ed. Stanford: Stanford University Press, 1994;
-EL-ZAHER, Sumaya. The First Female Commander in the Modern World Was Muslim – Meet Aceh Malahayati. Mvslim Inspires. 2017;
-HANANTO, Akhyari. Meet the First Female Admiral in the Modern World. Not from the West. 2018.