A Primeira Guerra Mundial, também conhecida como a Guerra das Guerras, ou ainda “a guerra para acabar com todas as guerras”, como é de conhecimento geral, foi uma guerra global que envolveu diversas potências mundiais entre os anos de 1914-1918, dentre elas o Império Britânico e o Império Otomano.

Essas duas nações iriam estar no centro de um conflito durante a Grande Guerra que seria posteriormente considerada por alguns historiadores como a maior derrota dos Aliados na Primeira Guerra e uma das maiores derrotas militares sofridas na história militar Britânica, senão a pior (CATHERWOOD, 2014).

Antes da declaração de guerra entre o Império Otomano e a Grã-Bretanha, o comando britânico já havia despachado a Indian Expeditionary Force (IEF), Sexta Divisão Indiana, para o Golfo com o objetivo de garantir as instalações de petróleo da Anglo-Persian Oil Company na ilha de Abadan no Shatt al-Arab. O objetivo era também fortalecer a posição britânica na região e, se possível, ocupar Basra, no Iraque.

Novamente segundo Catherwood (2014), o tal racismo dos britânicos contra os turcos e a sua consequente subestimação foi um erro fatal da Grã-Bretanha ao se chocar com o Império Otomano. Assim, o general britânico na Mesopotâmia, Charles Townshend, estava convencido de que as forças imperiais britânicas seriam invencíveis se comparadas com as tropas turcas.

No dia seguinte ao início da guerra entre os dois impérios, a 6 de novembro de 1914, o IEF começou a agir, ocupando primeiro Fao e depois Abadan. O comando otomano estava despreparado, com poucos recursos em tropas e enfrentando problemas com as forças tribais locais. Como resultado, o avanço do IEF na região de Basra ao longo do vale do Tigre foi fácil e rápido; a cidade caiu em 23 de novembro de 1914 e Qurnah em 9 de dezembro de 1914.

Como o porto de Basra havia sido capturado, foi de lá que o exército inglês comandado por Townshend partiria em direção à Bagdá, outrora uma cidade vital para o Império Otomano e hoje capital do moderno Estado do Iraque. Contudo, devido à arrogância do general britânico, o mesmo acabou por avançar demais e consequentemente ficando muito afastado da sua base de suprimentos em Basra. A situação ainda iria piorar para o Império Britânico: em Ctesifonte, que um dia havia sido a capital do grande Império Sassânida, os ingleses se viram obrigados a recuar; contudo, por se tratar de um recuo tático, não era a manobra mais inteligente voltar até Basra devido à distância, motivo pelo qual pararam em Kut.

Devido à própria geografia da cidade, Charles Townshend acreditou que estava em segurança até que chegasse o resgate do seu exército em Basra. Kut, porém, estava muito distante da sua base de suprimentos, mas o cerco à cidade começaria de qualquer forma. Entre dezembro de 1915 e abril de 1916, pelo menos três tentativas externas seriam realizadas para derrubar o cerco otomano, porém todas sem sucesso. A última, realizada pelo general George Corringe no começo de abril de 1916, envolveu cerca de 30 mil soldados; apesar do elevado número de tropas, foi um fracasso assim como as expedições anteriores

As tropas otomanas eram comandadas por Halil Paxá, levantando o cerco Otomano no dia 7 de dezembro de 1915 quando percebeu que tinha forças o suficiente para encurralar os britânicos em Kut. Para piorar a situação britânica, os otomanos contavam com cerca de 11 mil soldados comandados pelo general alemão Baron von der Goltz, que também recebia apoios a todo instante.

Townshend, contudo, também recebeu alguns auxílios de outros generais britânicos, conforme citado anteriormente. A primeira expedição a tentar derrubar o cerco otomano em Kut ocorreu em 6 de janeiro de 1916 na batalha de Sheikh Saad, onde as tropas comandadas pelo general George Younghusband se aliaram com as brigadas do tenente-general John Aylmer, sendo agora comandadas por este último. No dia seguinte, Aylmer chegaria com cerca de 19 mil homens, comandando os ataques pela esquerda enquanto o general Kemball comandava pela direita. As tropas de Kemball conseguiram um relativo sucesso contra o exército otomano, porém o lado esquerdo das tropas otomanas conseguiu segurar as investidas de Aylmer. No dia 9 de janeiro os otomanos recuariam de Sheikh Saad.

O cerco pelas forças do 6º Exército Otomano

De Sheikh Saad os otomanos foram expulsos para Wadi a cerca de 16km de Sheikh Saad, e em 13 de janeiro as tropas de Aylmer atacaram com todas as forças, fazendo os otomanos recuarem mais 8km e sendo novamente perseguidos pelos britânicos. Ao recuarem, as tropas do Império Otomano se alojaram no desfiladeiro de Hanna, e lá os britânicos perderam quase 3 mil soldados (2.700 ao todo), o que provou ser um desastre para o cerco que ocorria em Kut. Para piorar, nesse momento Halil Paxá, que era o governante da região, adentrou na batalha com cerca de 20 a 30 mil soldados, impondo uma grande derrota ao general Aylmer. Posteriormente ao receber mais apoios, Aylmer tentaria novas expedições, dessa vez em Dujaila, mas apenas para fracassar novamente, perdendo agora cerca de 4 mil soldados. Após esse último fracasso do general Aylmer, ele seria substituído pelo general George Gorringe.

Suleiman Agha, chefe da tribo curda dos Ertushi, em seu retorno da vitória otomana do cerco a Kut Al Amara contra os britânicos, que nas palavras do historiador Christopher Catherwood foi "a pior derrota dos Aliados na Primeira Guerra Mundial'', 1916.
Editar
 
51
 
9 partilhas
 
Gosto
 
 
 
Comentar
 
 
Partilhar
 
 

Como adiantado anteriormente, a expedição de Gorringe contava com cerca de 30 mil homens e acabou fracassando no fim. A batalha começou em 5 de abril e os britânicos logo capturaram Fallahiyeh, mas com grandes perdas. A última tentativa seria contra Sannaiyat em 22 de abril. Os Aliados não puderam tomar Sannaiyat e sofreram cerca de 1.200 baixas.

Em abril de 1916, o Esquadrão No. 30 da Royal Flying Corps realizou a primeira operação de suprimentos aéreos da história. Alimentos e munições foram enviados para os defensores de Kut pelos céus, mas uma parcela significativa caiu no rio Tigre e até mesmo nas trincheiras otomanas. As rações de comida fornecidas entre 11 e 29 de abril foram suficientes para tão somente três dias.

A guarnição, dois terços dos quais eram índianos, se rendeu em 29 de abril de 1916. Durante o cativeiro, muitos morreram de calor, doenças e abandono. Esses homens emaciados foram fotografados depois de serem libertados durante uma troca de prisioneiros.

As perdas britânicas foram desastrosas: cerca de 23 mil soldados foram mortos ou feridos, enquanto os otomanos devem ter perdido por volta de 10 mil. Não obstante, os otomanos ainda perderam o general der Goltz, que morreu uma semana antes da rendição dos britânicos, provavelmente por tifoide. A situação, contudo, era mais desesperadora para os ingleses, que chegaram ao ponto de subornar os turcos otomanos. Não somente, mas tentaram ainda negociações através de intermediadores famosos desse período, como Lawrence da Arábia e Aubrey Herbert. Tudo sem sucesso.

Os britânicos também pediram ajuda aos russos. O general Baratov, com suas tropas de 20 mil homens compostas em grande parcela por cossacos, estava na Pérsia nessa época. Atendendo ao pedido, ele avançou para Bagdá em abril de 1916, mas voltou quando recebeu a notícia da rendição britânica.

Charles Townshend e Halil Pasha após a queda de Kut

Após todas as tentativas falharem, os britânicos não encontraram outra alternativa senão se render. O general Townshend organizou um cessar-fogo no dia 26 de abril e, se rendendo em 29 de abril de 1916 após um cerco de 147 dias. Cerca de 13.000 soldados Aliados sobreviveram para serem feitos prisioneiros, com a expectativa de cerca de um terço desses soldados terem morrido durante o cativeiro, muitos por não suportarem a rota de Bagdá e Mosul e terem padecido por problemas como desinteria, febre e dentre outros. Townshend foi levado para Constantinopla e acabou sobrevivendo à guerra.

Dez meses depois do cerco de Kut, o Exército da Índia Britânica conquistaria a região inteira, abrangendo Kut à Bagdá, que caiu para o Império Britânico em 11 de março de 1917.

REFERÊNCIAS

CATHERWOOD, Christopher. The Battles of World War I. Allison & Busby, 2014.

ÇETINSAYA, Gökhan. Kut al-Amara. International Encyclopedia of the First World War, 2017. 

CROWLEY, Patrick. The siege of Kut al-Amara, 1916. The History Press, [n.d.].

WRIGHT, Thomas Edmund Farnsworth; KERR, Anne. A dictionary of world history. Siege of Kut. Oxford Reference, 2015.