Nascido em Portugal por volta da primeira metade do século XVII, António de Jesus eram um missionário católico agostiniano que em 1691 foi enviado à capital da Pérsia safávida de Isfahã no atual Irã, durante o final do reinado do xá Suleiman I. Lá ele inicialmente serviu na comitiva de Gaspar dos Reis, então chefe do mosteiro agostiniano da cidade, antes de sucedê-lo no cargo. Antonio desempenhou um papel importante nos contatos entre diplomatas portugueses e o governo do xá na época em que Portugal tentava uma aliança luso-iraniana contra os sultões de Omã no Golfo Pérsico.

Entre os anos de 1694 e 1697 durante o governo do xá Sultan Husayn I, Antônio converteu-se ao islamismo xiita, adotando o novo nome de Aliqoli Jadid-ol-Eslam. O motivo exato de sua conversão permanece envolto em especulação. No entanto, sabe-se através de correspondências entre ele e o frade capuchinho residente em Isfahã Raphael du Mans, sobre sua insatisfação com a prática dos missionários de subornarem muçulmanos para que se tornassem cristãos segundo ele, uma clara evidencia de corrupção da fé, que se fosse verdadeira, não necessitaria pagar falsos conversos para se passarem por apostatas do Islã (prática que continua até hoje em meios cristãos não-católicos, diga-se de passagem). Contudo, Antônio de Jesus não foi o único missionário da época a apostatar. Há o caso de seu colega também ex-missionário agostiniano Manuel de Santa Maria, que viveu no Irã e que adotou o nome de Hasan-Qoli Beg após abraçar o Islã xiita.

Depois de apostatar, Aliqoli se tornou um ferrenho apologista do xiismo, bem como um grande polemista contra o cristianismo, Islã sunita, sufismo e o judaísmo, contra os quais escreveu numerosos tratados e livros em série cujo alguns sobreviveram até hoje na língua persa. Em uma de suas obras intitulada: "Sayf ol-mo'menin fi qetal ol-moshrekin'' "A Espada do Crente na Derrota dos Infiéis'', Aliqoli não só fez um fervoroso ataque apologético a cristãos, judeus e muçulmanos sunitas, mas também a filósofos, místicos sufis e antinomianos. Após deixar a batina Aliqoli também casou-se, escrevendo um tratado sobre os benefícios do casamento na perspectiva islâmica intitulado ''Fava'ed-e ezdevaj'' ou "Vantagens do Matrimonio''.

Suas contribuições na teologia xiita estão ligadas ao reavivamento da corrente conservadora majlesi do teólogo Mohammad-Baqer, e ele também esteve ligado a expulsão da proeminente família católica armênia dos Sceriman da corte safávida, com a ajuda dos armênios georgianos. Profissionalmente, passou a servir como dragomano, tradutor e intérprete de línguas europeias na corte do Xá em Isfahan, vindo a falecer por volta de 1722, devido a tuberculose pulmonar.

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