Sem dúvida o elemento mais representativo e icônico do cangaço é o chapéu, que reúne símbolos mágicos e místicos do movimento. Segundo Millan (2014) O chapéu meia-lua de couro, com uma estrela no meio, lançado por Virgulino, hoje é o símbolo do nordeste brasileiro. O chapéu, que tem a aba virada naturalmente para cima quando se cavalga, durante o período do cangaço, serviu de suporte de arte, já que eram colocados alguns enfeites,e também de alerta, pois nenhum cangaceiro poderia correr o risco de ser surpreendido em uma emboscada, por isso não poderia andar com a aba abaixada escondendo os olhos.
Burton assinalava que:
 
" Do chapéu de couro à alpercata de rachino, o taje do cangaceiro é todo imponência […] quando pudera ver nos sertões do São Francisco, no tocante à primeira de tais peças, que “os elegantes levantam um pedaço da larga aba e, prendendo-o com um grande botão metálico, transformam o chapéu num tricórnio”. E confirmava: “Esses chapéus são feitos de couro de cabra, carneiro ou veado; os últimos são melhores, mas qualquer um serve (1867,p. 200). "
 
Todos os chapéus eram enfeitados com medalhas e moedas, a base e as correias do chapéu de Lampião estavam carregadas, que mais parecia uma numismática. Trazia no chapelão de couro 7 moedas e 25 medalhas de ouro de lei e outros adornos. Completavam a fachada um monograma de ouro de lei, onde se lima letras CL, significando Capitão Lampião (Jasmim, 2011).
 
Frederico Pernambucano de Mello, no livro a estética do Cangaço ( 2010, p. 73 ) assinala que:
 
O chapéu é o ponto de concentração dos acrescentamentos simbólicos que caracterizam o traje do cangaceiro. A fachada ainda mais ostensiva de uma indumentária ostensiva por inteiro. Nas missões silenciosas, caminhassem o bando por lugar aberto, sujeito a ser avistado de longe, ou entrasse em canoa para atravessar o São Francisco, o chefe riscava com a advertência infalível: tirar o chapéu! E como que apeavam momentaneamente da condição de cangaceiros, ao simples desatar do laço simbólico de maior expressão no conjunto do traje.
 
Estrategicamente. O mesmo motivo que levou Lampião a despir o chapéu de couro e a se meter em chapéu de feltro bem-comportado, nada de aba quebrada em desafio, no momento em que se pôs, com o bando, a serviço do Governo Federal para repressão aos revoltosos da Coluna Prestes, sob as bênçãos do padre Cícero em 1916.
 
Os símbolos são motivos florais, signo de Salomão, Flor de Lis e Cruz de Malta.
 

Motivos Florais:

 
Os motivos florais aparecem em versões de 4, 6 e 8 pontas, nunca em números ímpares. Além de usados ​​como símbolos de proteção, também são desenhos recorrentes nos bornais, pederneiras e outras peças da vestimenta e constituem uma herança da estética ibero-mudejar dos povos Islâmicos residentes na Península Ibérica, não apenas dos Cangaceiros mas também na estética das roupas dos vaqueiros, como mostra Suria Seixas Neiva na sua dissertação Desenhos de Couro ( Seixas, 2017 p. 83 ), citando Franklin Pereira:
 
" O desenho de couro sertanejo nas selas de couro, por outro lado, teve considerável alteração de repertório visual, muito embora a base técnica seja a mesma, a de punção ou ferreteamento e costuras, e a memória dos motivos seja ainda rastreável. Segue-se descrição particularmente familiar, se tivermos em mente os desenhos de couro do sertão pernambucano (e mesmo não sendo nosso objeto focal o desenho de couro que aparece no cangaço lampiônico, a descrição a seguir ainda alcança as chinchas e os bornais dos cangaceiros):
 
No campo dos lavrados (realizados por goiva em V cortante), encontra-se uma série de ornamentos devedores ao legado islâmico. Assim, vemos largas molduras de estilizações florais inscritas em SS deitados - também lidas como dispostas numa estrutura de espiral, colocada alternadamente ao longo de uma linha, em ondas, em enlaçado vegetalista de dois cabos, ou em rombos; no campo, aparecem palmetas simétricas, flor de quatro pétalas sobre quadrado (cada canto entre pétalas), minuciosa decoração floral com pássaros, 8 duplo/ nó do infinito.A estilização da folha de acanto - denominada em estudos espanhóis como "palmeta digitada" apresenta-se como gomos e anéis, ou meias luas com curvas internas, ou gomos em torno de espiral; esta estilização é continuadora daquela iniciada no Califado e que se prolongou até ao Sultanato de Granada. (PEREIRA, 2008, p.121) "
Estrelas de 6 ou 8 pontas:
 
É o símbolo mais importante para o Cangaceiro, sua origem é milenar e possui diversas interpretações. Cada uma de suas pontas pode representar um metal, um planeta, ou características da matéria que juntos representam o todo do universo. Muito comum como elemento de proteção, nos rincões do Sertão era prática entre os homens desenhar na terra uma Estrela de Salomão como forma de proteção ao avistar um redemoinho do vento. Muito provavelmente reminiscências de cripto-cabalismos diluídos na cultura sertanejas como afirma Cesar Malta Sobreira no artigo Etnografia do cripto-cabalismo na cultura Nordestina, citando Nathan Wachtel ( Sobreira, 2015 p. 16 ):
 
" Em relação signo-de-salomão, é curioso destacar que a iconografia popular representa Lampião ostentando chapéu de couro adornado com a estrela hexagonal. Entretanto, a documentação fotográfica do capitão Virgulino Ferreira não corresponde à reprodução iconográfica. Lampião possuía um cantil que tinha uma estrela de seis pontas estilizada, mas seus chapéus apresentavam variações de octógonos ou de florais em forma de cruz. Outros cangaceiros utilizavam florais hexagonais e um deles, Canário, ostentava no enorme chapéu a estrela de David, denominada na cultura sertaneja como signo-de-salomão."
Mais adiante ele continua:
 
" Em outra obra, inédita no Brasil e dedicada totalmente ao Nordeste, Nathan Wachtel testemunha que:
Une mémoire marrane encore vivant se perpetue obstinément au Brésil, plus de cinq centes ans après la convertion forcée, jusque dans les terres arides du Nordeste, dans le lointain et mythique sertão.
[ Uma memória marrana ainda vida se perpetua no Brasil, mais de 500 anos após a conversão forçada, mesmo nas terras áridas do Nordeste, no sertão distante e mítico. ] les nouveaux-chrétiens jouent enconre un role éminent dans ce vaste mouvement d’expansion, comme en témoigne aussi la formation d’une culture populaire sertaneja comportant bien dês trais hérités d’influences judaïsantes {1}.
[ os cristãos-novos continuam a desempenhar um papel de destaque neste vasto movimento de expansão, como também evidenciado pela formação de uma cultura popular sertaneja que incorporou traços herdados de influências judaizante. ] ”

Flor de Lis:

 
A flor-de-lis é, simbolicamente, identificada à Íris e ao Lírio, como o fez Mirande Bruce-Mitford no seu livro "Signos e Símbolos", informando que Luís VII, o Jovem (1147), teria sido o primeiro dos reis de França a adoptar a íris como seu emblema e a servir-se da mesma para selar as suas cartas-patentes, e como o nome Luís se escrevia na época Loys ou Louis, esse nome teria evoluído de fleur de louis para fleur de lis (flor de lis), representando, com as três pétalas, a fé, a sabedoria e o valor. No Sertão Arcaico ela representava a vitória da vida sobre a morte e a superação desta.

Cruz de Malta:

Também muito aplicada em adornos e revestidos. Inicialmente usada pela ordem medieval dos Cavaleiros de Malta, foi ressignificada pelos cangaceiros para representar os quatro pontos cardeais, uma vez que a habilidade de conduzir seus homens na geografia do sertão era habilidade imprescindível para um líder cangaceiro.