Em seus 1400 anos de existência, a religião islâmica produziu sábios e eruditos em grande quantidade, mas poucos se comparam a Abu Hamid Muhammad al-Ghazali. Nascido no ano 450 da Hégira (1058 d.C.), Al-Ghazali era filho de pais pobres. Ficou órfão cedo e, com seu irmão, foi enviado a um internato de ensino religioso onde poderia obter abrigo e comida. Seu primeiro contato com as ciências da religião se deu, portanto, por necessidade; mas, sendo ele pessoa de inteligência excepcional, logo se afeiçoou à busca de conhecimento e a ela se dedicou com afinco. Foi aluno do Imam al-Juwaini, o maior erudito sunita de seu tempo, e se destacou a tal ponto por seu domínio da teologia e dos fundamentos da jurisprudência que foi escolhido como professor-chefe da Escola Nizamiyya de Bagdá, o principal centro de ensino superior de todo o mundo islâmico na época.

Cinco anos depois, no entanto, sofreu uma crise espiritual, dando-se conta de que jamais buscara e transmitira o conhecimento religioso em vista da glória de Deus, mas o fizera por motivos mundanos, como fama e riqueza. Assim, abandonou o cobiçado cargo acadêmico que ocupava, distribuiu todos os seus bens entre os pobres (reservando apenas o suficiente para sustentar a família) e partiu em peregrinação rumo aos lugares santos. Durante anos levou vida ascética e dedicou-se a exercício espirituais seguindo os métodos do tasawwuf (sufismo), e alcançou desse modo a sinceridade de coração e o conhecimento direto (ma‘rifa) de Deus que representam a culminação do caminho sufi.

A partir daí, Al-Ghazali se dedicou a escrever livros que influenciaram todas as gerações islâmicas posteriores. O principal deles foi A Revivificação das Ciências da Religião, em 40 volumes, que detalha todos os aspectos da vidaexterior e interior dos muçulmanos; mas escreveu também livros de teologia e jurisprudência, uma obra autobiográfica e tratados polêmicos contra os filósofos e outros grupos heterodoxos de seu tempo. O valor de suas contribuições valeu-lhe o título de “A Prova do Islam” – aquela pessoa que, por seu grau de piedade religiosa, virtude e sabedoria, é a prova viva da veracidade e do poder transformador da religião islâmica.

Entre as obras escritas por Al-Ghazali nesse período tardio de sua vida está Os Noventa e Nove Nomes de Deus, que a Editora Bismillah lança agora em tradução direta do árabe feita por Marcelo Brandão Cipolla. Os Noventa e Nove Nomes de Deus é um tratado teológico em que Al-Ghazali comenta e explica os nomes divinos enumerados numa famosa tradição atribuída ao Profeta Muhammad (que a paz esteja com ele). Cada um dos noventa e nove nomes mencionados no hadith é comentado, e Al-Ghazali mostra também de que modo esses belos atributos podem ser incorporados na vida dos seres humanos.

Antes disso, contudo, ele faz uma investigação dialética sobre o que seria um “nome” e sua relação com o ente nomeado e o ato de nomear. Aplica aí sua bagagem lógica e escolástica para dissipar certas concepções errôneas que haviam surgido em sua época. Em seguida, ainda no quadro das explicações preliminares, Al-Ghazali esclarece o status dos nomes aparentemente sinônimos e daqueles que podem ter mais de um significado e explica de que modo se pode conceber que os seres humanos adquiram qualidades atribuídas originalmente a Deus.

Com efeito, ao lado da explicação dos nomes em si na medida em que se aplicam a Deus, é esse o outro grande tema do livro: o que significa dizer que os seres humanos devem revestir-se dos atributos de Deus Altíssimo e de que maneira isso colabora com seu progresso espiritual e o impulsiona. E é no quadro dessa explicação – dada tanto no que se refere a cada nome quanto de maneira geral – que Al-Ghazali introduz aspectos místicos em seu tratado teológico. Trata, assim, de assuntos como a impossibilidade de se descrever Deus por meio de imagens que remetem às coisas criadas; de como se deve entender o hadith segundo o qual “Deus criou o homem segundo a Sua forma”; de qual é o conhecimento de Deus possível ao homem; e de como esse conhecimento se efetiva nos profetas e nos gnósticos. Nesse contexto, Al-Ghazali também refuta os erros daqueles que entendem erroneamente certas afirmações dos sufis, as quais parecem dar a entender que haja algum grau de comensurabilidade entre o Criador e as criaturas.

Os Noventa e Nove Nomes de Deus reúne, portanto, a teologia e a mística, além de trazer riqueza de informações sobre os nomes e atributos divinos com todo o poder explicativo de seu autor, considerado até hoje um dos grandes expositores e intérpretes do Islam. A edição brasileira, preparada com a ajuda de especialistas em língua árabe, busca estabelecer um novo padrão de qualidade para traduções islâmicas no Brasil. Para adquirir o livro, siga o link: https://www.editorabismillah.com.br/produto/pre-venda-do-livro-os-noventa-e-nove-nomes-de-deus-de-al-ghazali/.