A recente guerra entre Israel e Hezbollah, no Sul do Líbano, reacendeu o interesse acerca do país e de sua realidade histórica. Uma breve análise da realidade, no entanto, mostra não apenas que os analistas brasileiros estão redondamente enganados a respeito do país, de sua formação e de seu papel geoestratégico dentro da Ásia, como também tendem a não reconhecer o caráter fratricida e genocida da invasão israelense, que até o momento, segundo o Ministério da Saúde Libanês, já assassinou 3 mil civis e feriu 13 mil, dentre eles 185 crianças e 589 mulheres [1].

Memorando, também, e de modo contumaz, que as Forças de Defesa Israelense possuem uma doutrina militar específica destinada à destruição de infraestrutura civil e de morte dos mesmos, a Doutrina Dahiya, que recebe esse nome devido à incursão brutal no Líbano em 2006, que culminou na derrota israelense em frente ao Hezbollah e em punição de civis, sendo o nome “Dahiya” oriundo do subúrbio ao Sul de Beirute [2].

Retornando historicamente, de qualquer modo, em 1517 os otomanos conquistaram grande parte da Ásia Ocidental. O Sultão Selim organizou a região que engloba Síria, Líbano, Palestina, Jordânia e Israel no que era chamado de Província da Síria [3][4].


Mapa do Oriente Próximo controlado pelos Otomanos – Atlas Cedid de 1803 (Wikimedia).

Mesmo assim, o controle direto otomano se restringia às áreas urbanas, e o Líbano, principalmente em suas porções rurais, dentre todas as províncias governadas pelos turcos, detinha a maior autonomia dentro do império, se restringindo, mesmo nas parcelas urbanas, à coleta de impostos e à manutenção da ordem social por meio de seu estamento burocrático, observando cuidadosamente o equilíbrio de poder das “zuama” [5], as famílias que detinham o verdadeiro poder político no Líbano.

No séc. XIX, por sua vez, os camponeses drusos e maronitas se revoltaram várias vezes. Inicialmente, em 1821, uma revolta maronita foi encabeçada pelo arcebispo Yusuf Istifan contra o governante otomano, o Emir Bashir, em virtude de, segundo a comunidade maronita, o mesmo ter favorecido os drusos em sua política de impostos, tendo ele o feito por medo do poder crescente dos clãs drusos. Em 1841, drusos e maronitas, durante a ocupação egípcia do Líbano, se revoltaram contra a política de conscrição de Ibrahim Pasha, filho de Muhammad Ali Pasha, governante do Egito, e após sua supressão, a revolta retorna novamente com amplo apoio britânico aos revoltosos. Sob a égide da busca pela igualdade trazida pelas reformas do período Tanzimat no Império Otomano, conflitos sectários nascem novamente nas décadas de 1850 e 1860, numa brutal guerra civil entre drusos e maronitas, com drusos apoiados pelos britânicos e maronitas apoiados pelos franceses, tendo a França o objetivo claro e definido de projetar poder geopolítico na região através da minoria maronita, tendo o Imperador Napoleão III, inclusive, enviado 6.000 tropas neste intuito, sob o pretexto de restaurar a paz na região [6][7]. A favor dos drusos, por sua vez, Lorde Dufferin interveio junto aos britânicos [8].

É interessante notar que a intervenção francesa a favor dos maronitas fez os clãs drusos crerem que a intenção maronita era tirar seu poder político histórico na região, deixando uma profunda marca psicológica nos drusos [9]. Ao todo, 11 mil cristãos foram mortos, e mais de 80 mil se tornaram refugiados [10].


Corpo expedicionário francês liderado pelo General Beaufort d'Hautpoul, desembarcando em Beirute em 16 de agosto de 1860 (Wikimedia).

Em 1861, uma comissão formada por Império Otomano, Prússia, França, Inglaterra e Áustria concluiu que a partição orgânica anterior, que separava a região entre drusos e maronitas, foi responsável pela sectarização que levou às guerras civis contínuas. Partindo desse pressuposto, então, foi estabelecido um novo mutasarrifiyah (distrito) comandado por um novo mutasarrif (governador), que deveria ser um cristão de origem não-libanesa, apontado pelo Império Otomano e aprovado pelos mediadores europeus [11].

Durante esse período, a França iniciou uma forte atividade missionária no Líbano, no intuito tanto de resguardar seus interesses imperiais, quanto de formar uma elite em moldes nacionalistas alinhada aos seus objetivos de projeção de poder geopolítico. Os jesuítas estiveram à frente dessa empreitada, estabelecendo a Casa de Impressão Católica, em Beirute, em 1852, e tendo acesso à primeira máquina de impressão a vapor, em 1867, fazendo também a transferência da Universidade Ghazir para Beirute, em 1875. Nessa mesma época, a Terceira República Francesa e a Igreja Católica começaram a ter problemas em virtude do secularismo francês. Todavia, em termos de relações geopolíticas, a relação dos jesuítas com a França permanecia pragmática. Segundo atesta o historiador Serkan Gul:

“Embora a existência das congregações na França não fosse um fato desejável para os republicanos seculares, sua abordagem era diferente para fora da França. Quando seus serviços consideráveis ​​nos campos da educação, da cultura, da sua contribuição para a economia e da política eram considerados, proteger e apoiar os missionários era muito crucial para os interesses franceses no exterior [12].”


Universidade de São José, Beirute, Século XX (Typographie.org).

Nessa mesma época, durante o fim do Império Otomano, entre os séculos XIX e XX, surgiu entre a elite dos maronitas libaneses, fortemente alinhados à França, a ideologia do “fenicianismo”, que pregava a construção de uma nação libanesa sem raízes árabes, vendo todos os seus vizinhos como inferiores e separados do corpo político libanês. Indo ao extremo, no caso do poeta libanês Saʿid Aql, de tentar traçar paralelos entre os povos fenícios e todas as grandes conquistas da humanidade [13].

Testes genéticos recentes, no entanto, feitos com haplogrupos, notaram não apenas que não há variações genéticas relevantes entre a população muçulmana e não-muçulmana do Líbano, como também que a pouca divergência entre os maronitas e o resto do povo libanês se deve não a uma herança fenícia, como o mito nacionalista-fenicianista prega, mas sim tem sua origem no DNA europeu que veio até a Ásia Ocidental durante o período das Cruzadas [14].

Após a derrota otomana na Primeira Guerra Mundial, a França, então, assume factualmente o controle do Líbano e da Síria, na Conferência de San Remo, em 1920.

Apesar da unanimidade histórica em falar do “progresso político” que a França trouxe ao Líbano (agora “État du Liban”), tentando construir um sistema burocrático moderno e em moldes europeus no país, é necessário frisar que tal construção se deu através de um sistema explorador de super-taxação da população local. Tal sistema também taxou fortemente os setores agrícolas e industriais, de modo a favorecer e fortalecer o setor bancário e financeiro em Beirute, assim como de maneira a consolidar o forte aparato policial nascente. A França utilizou então o CIC (Compte d’Intérêts) para controlar os setores energéticos do Líbano, assim como as holdings monopolistas nas áreas de tabaco e transporte. Como resultado direto da desigualdade oriunda deste processo, 1930 foi um ano marcado por protestos, greves e boicotes no Líbano [15][16].


Comandante do Exército Francês no Levante, General Henri Gouraud, participando da Proclamação do estado do Grande Líbano em Beirute, junto com o Grão-Mufti de Beirute, Sheikh Mustafa Naja, e à sua direita está o Patriarca Maronita Elias Peter Hoayek; setembro de 1920 (Wikimedia).

Em 1943, o Líbano se torna independente, com as tropas francesas saindo em 1946. Todavia, o legado econômico da França ao país foi de profunda desigualdade social, disparidade e, pior, acentuação das divergências sectárias que marcam a região devido à sua diversidade étnica e religiosa, com o governo francês fortalecendo a minoria abastada [17].

O primeiro estudo acerca da desigualdade econômica e social no país, conduzido décadas depois, notou que 4% da população libanesa concentrava 32% da renda nacional. 50% do povo libanês vivia em estado de pobreza, recebendo apenas 18% da renda produzida no Líbano [18].

Retornando à cronologia, apenas uma década antes da independência, nasceu no Líbano o “Kataeb”, a “Falange”, inspirada no falangismo espanhol, no fascismo italiano, no nazismo alemão e, também, porém menos conhecido, no movimento sokol da então Tchecoslováquia. Em 1936 seu fundador, Pierre Gemayel, visita a Alemanha Nazista como atleta e retorna ao Líbano impressionado. Em suas próprias palavras:

“Eu era o capitão do time de futebol libanês e o presidente da Federação Libanesa de Futebol. Fomos aos Jogos Olímpicos de 1936 em Berlim. E eu vi então essa disciplina e ordem. E eu disse a mim mesmo: "Por que não podemos fazer a mesma coisa no Líbano?" Então, quando voltamos para o Líbano, criamos esse movimento jovem. Quando eu estava em Berlim, o nazismo não tinha a reputação que tem agora [19].”


Pierre Gemayel (extrema direita) antes do jogo amistoso em Beirute contra o clube austríaco Admira Vienna em 1937 (Wikimedia).

Entre 1948 e 1951, por sua vez, Israel e o Kataeb formam fortes laços, numa aliança mediada pelos Estados Unidos, para enfraquecer o governo do primeiro-ministro Riad al-Solh, em parte devido ao seu forte apoio à Causa Palestina dentro da Liga Árabe, considerado o pai do Líbano moderno pelo seu papel na independência do país [22].

Concomitantemente à expansão israelense na Palestina, à política de kibutz israelenses, assentamentos expansionistas, e aos conflitos com a população árabe, além da Guerra dos Seis Dias, que vitimou 17 mil árabes [20], a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) cria seu próprio networking no Líbano, e, em 1969, os fedayeen, as guerrilhas do grupo, começam a treinar em solo libanês [21].

Alguns anos depois, em 1975, o Kataeb, alinhado a Israel, atacaram um ônibus com refugiados palestinos, matando 27 pessoas e ferindo 30, no Massacre do Ônibus de Beirute [23]. Anteriormente, divisões sectárias já ocorriam no país devido à forte estrutura de desigualdade social deixada pela França, todavia o evento foi o marco inicial da Guerra Civil Libanesa. 


Esquerda: ônibus atacado pelos falangistas. Direita: fedayeen palestinos do Fatah em demonstração em Beirute (Wikimedia).

A partir daí, um conflito sangrento se instaura, com a coalizão liderada pelo Movimento Nacional Libanês, formada por sunitas, xiitas, secularistas, socialistas, palestinos e nacionalistas árabes ocupando parte do país, enquanto o Kataeb e os clãs maronitas que historicamente compõem a elite econômica libanesa ocupam o restante [24].

Em 1982, observando o envolvimento sírio na guerra e o vácuo de poder, utilizando como pretexto a tentativa de assassinato do embaixador israelense na Inglaterra, Israel invade o Líbano com uma força de 40 mil homens no que, segundo Rafael Eitan, foi uma guerra pela Eretz Israel (Grande Israel), rapidamente então Israel ataca as posições sírias e palestinas, após intensos bombardeios aos campos da OLP, no Sul do Líbano, e em apenas 4 dias de combate o Exército Israelense conquista todo o Sul do país e fortalece suas posições [25].

Durante a invasão, e com forte apoio israelense, o Kataeb, agora tremendamente fortalecido em suas posições, comete o famigerado massacre de Sabra e Chatila, após o plano de Ariel Sharon, Ministro da Defesa Israelense, dar errado, já que sua ideia era instaurar um regime maronita fantoche e transformar o Líbano num satélite, o que culminou no assassinato de Bachir Gemayel, líder das mílicias do Kataeb, e no Massacre de Sabra e Chatila, que vitimou 3.500 pessoas, em sua maioria mulheres, crianças e idosos, que estavam nos campos de refugiados. Além disso, a maioria dos corpos estavam mutilados e as mulheres carregavam sinais de estupro [26]. Yasser Arafat e a OLP retraem para a Tunísia, parando suas operações palestinas no Líbano.

 


Corpos de vítimas do massacre no campo de refugiados de Sabra e Chatila (Wikimedia).


Até então, o Hezbollah era o movimento Amal (esperança, em árabe), que defendia politicamente os interesses xiitas no Líbano, todavia o Massacre de Sabra e Chatila teve um papel crucial na radicalização de seus membros, segundo carta aberta do grupo, mantida pelos arquivos da CIA, após sua fundação [29]:

“Os israelenses e os falangistas massacraram alguns milhares de nossos pais, filhos, mulheres e irmãos em Sabra e Chatila, em uma única noite, mas nenhuma renúncia ou condenação prática foi expressa por qualquer organização internacional ou autoridade contra esse massacre hediondo [...]”

Menachem Begin, primeiro-ministro israelense, fortemente pressionado pelo governo americano, decide retirar as tropas israelenses do Líbano, em 1982, e Ariel Sharon é forçado a renunciar do cargo de Ministro da Defesa, pelas investigações da Comissão Kahan, que culpabilizam Israel pelo Massacre de Sabra e Chatila - ao todo, 19 mil sírios, libaneses e palestinos morreram durante a invasão israelense [30].

Um pequeno grupo de oficiais e soldados israelenses permanece no Líbano, dando apoio logístico e de inteligência às milícias do Kataeb. Em 1983, o Hezbollah realiza um ataque suicida usando um caminhão contra os Marines estadunidenses em Beirute, matando, no total, 241 soldados americanos [31], o que causa uma retirada das tropas americanas do Líbano, em 1984, devido à forte pressão do Congresso Americano [32]. Ao todo, em apenas um dia, o Hezbollah matou mais americanos que todo o Exército Iraquiano durante a Guerra do Golfo, na qual apenas 143 soldados dos EUA foram mortos [33].


O Quartel dos Marines em Beirute após o bombardeio, 23 de outubro de 1983 (Wikimedia).

Em 1992, ao fim da Guerra Civil, o Hezbollah adentra à política partidária do Líbano. 1 ano depois, Israel ataca o grupo novamente, na Guerra dos Sete Dias, matando 118 civis libaneses sem conseguir vencer o Hezbollah. Em 1996, novamente Israel tenta controlar as regiões ocupadas pelo Hezbollah, atacando uma instalação da ONU na vila de Qana, matando mais de 100 civis. O desfecho se repete [34]. No ano 2000, seguindo a resolução 425 do Conselho de Segurança da ONU, Israel se já retira completamente do território libanês [35].

Em 2005, o primeiro-ministro libanês, Rafic Hariri, é assassinado. Israel então acusa o Hezbollah do assassinato e, posteriormente, Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, acusa Israel da morte de Hariri, já que o mesmo possuiu um alinhamento leniente com Hafez Al-Assad durante a maior parte da vida, e apenas no último momento sinalizava pouca afeição em relação ao Regime Sírio, não tendo sido, historicamente, parte dos grupos de oposição ao envolvimento sírio no Líbano que, até então, sequer possuía no Hezbollah um aliado, memorando que o grupo inicialmente não apoiou Bashar Al-Assad durante a Primavera Árabe [44][45][46].

Em 2006, buscando trazer a libertação de prisioneiros libaneses e palestinos, além de conquistar a região ocupada por Israel das Fazendas de Sheba’a, o Hezbollah mata 2 soldados israelenses, no território de Israel, e sequestra mais 3. Israel, em resposta, invade o Sul do Líbano, matando 1.109 civis libaneses, perdendo 119 soldados e falhando, novamente, em erradicar o Hezbollah. Além disso, o Hezbollah consegue disparar centenas de mísseis em território israelense, fazendo 500 mil israelenses saírem de suas casas no Norte israelense, matando, nos ataques, 43 civis.

O Hezbollah permanece intacto e fortalecido, Israel sai do Líbano, após um cessar-fogo negociado pela ONU, em agosto de 2006, e a Comissão Winograd, de Israel, chega à conclusão de que a operação foi falha e uma gigantesca derrota a Israel [36].


Floresta de Birya, Israel, queimada em decorrência do lançamento de mísseis pelo Hezbollah em 2006 (Wikimedia).

Durante o conflito, em 2006, Israel desenvolve então a Doutrina Dahiya, nomeada de acordo com um bairro, no Sul do Líbano, que o país destruiu. Tal doutrina militar consiste em punir infraestrutura civil e matar civis, de modo a buscar causar uma mudança política em qualquer inimigo israelense. Segundo o General Gadi Eisenkot [37]:

“O que aconteceu no bairro de Dahiya, em Beirute, em 2006, vai acontecer em cada vila de onde Israel for atacado. [...] Nós aplicaremos força desproporcional nela (a vila) e causaremos grandes danos e destruição lá. Do nosso ponto de vista, essas não são vilas civis, são bases militares. [...] Isso não é uma recomendação. Isso é um plano. E foi aprovado."

Inicialmente, durante a Primavera Árabe, o Hezbollah adotou uma política de neutralidade em relação ao conflito entre rebeldes e o regime sírio do presidente Bashar Al-Assad. Posteriormente, no entanto, se envolveu favoravelmente ao regime, apoiado pelo Irã e pela Rússia, dando suporte técnico, logístico e militar a Assad, treinando as “Milícias Populares” compostas por drusos, alauítas, cristãos e muçulmanos. Ao todo, entre 20 e 30 mil combatentes foram treinados pelo Hezbollah. Além disso, há entre 7 e 9 mil combatentes ativos do Hezbollah apenas na Síria, tendo o grupo participado diretamente da conquista de Aleppo e de outras batalhas na região de Qalamoun, contra o Estado Islâmico (ISIS/ISIL) [38].

Atualmente, o Hezbollah é o exército insurgente com maior poder de fogo, experiência em combate e força tática do mundo, contando com um arsenal de mísseis entre 120 e 200 mil foguetes, e entre 40 e 50 mil combatentes. Até o momento, o Hezbollah atirou apenas 10 mil desses foguetes no Norte de Israel, tendo ainda capacidade de fabricação, deslocando os habitantes da região e fazendo pressão no governo de Netanyahu [39][40][41].


Combatentes do Hezbollah no sul do Líbano, maio de 2023 (Wikimedia).

Em resposta, Israel realizou um ataque terrorista coordenado utilizando pagers, ferindo 1.200 pessoas, dentre elas mulheres e crianças, sem, no entanto, retirar a capacidade operacional do Hezbollah, o que indica que seus combatentes e comandantes operacionais saíram ilesos, num ato israelense que atenta diretamente contra os artigos 51 e 85, do Protocolo I de 1949, da Convenção de Genebra, que proíbe ataques direcionados a civis [42][43]. Mesmo assim, o Norte de Israel segue despovoado e sofrendo fortes bombardeios do Hezbollah.

Israel inicia, então, uma invasão ao Sul do Líbano, buscando conter o Hezbollah. Até o momento, 3.000 libaneses foram mortos, dentre eles 589 mulheres e 185 crianças [47]. Segundo o Ynet News israelense, o número de soldados israelenses mortos e feridos em Gaza chega à casa dos 10.000 [48], com o número de baixas totais, envolvidas em todas as frentes nas quais Israel guerreia, atingindo a casa dos 70 mil, segundo o Canal 3 israelense [49]. Tal número destoa vertiginosamente das baixas de 2006, onde Israel não foi vitorioso, que ficaram na casa de apenas 119 soldados mortos.

Até o presente momento, 15 de novembro de 2024, segundo o portal “Liveumap”, a linha de frente não avançou absolutamente nada no Líbano, indicando forte resistência dos combatentes do Hezbollah, além da capacidade de conter o Exército Israelense. Se as FDI (Forças de Defesa Israelenses/IDF), em 1982, atingiram Beirute em apenas 4 dias, atualmente não conseguiram ainda, após quase 2 meses de conflito, sequer tomar o Distrito de Tire [50].

O resultado escancara não apenas a falha militar e tática de Israel, mas também escancara a incapacidade diplomática dos EUA em negociar um cessar-fogo. A embaixadora americana no Líbano, Lisa Johnson, segundo o The Cradle, está tentando, inutilmente, organizar um levante libanês, nos moldes do que Ariel Sharon tentou em 1982, contra o Hezbollah e a favor de Israel [51]. Todavia, é pouco provável que obtenha êxito, dado o fato de Israel estar atacando e matando, diariamente, um número alto de civis no Líbano, o que retira sua legitimidade política diante da sociedade libanesa e acabará, no longo prazo, gerando um clima político favorável à legitimidade do Hezbollah.

REFERÊNCIAS:

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