Todo império tem um começo e um fim, e não foi diferente com o Califado Abássida. Algo que na verdade parece constante na história é que por mais poder que um Estado adquira em seu auge, a sua queda se encontra ao virar a esquina. Nesse virar de esquina os Abássidas se depararam com os Mongóis, que inicialmente sob o comando do lendário Gengis Khan, expandiram seus territórios até que o loovuz mongol se deparasse com o turbante árabe.

Nessa batalha de gigantes, os herdeiros de Genghis Khan vieram a derrubar um dos governos mais icônicos e prolíficos da História Islâmica, os Abássidas, que por sua vez estavam centrados em Bagdá.

A ascensão dos Abássidas

Descendendo do tio do profeta Muhammad, Abbas ibn Abdul-Muttalib (566-653), a dinastia Abássida viria a derrotar os Omíadas no episódio que ficou marcado na história como Revolução Abássida (750).

Os Abássidas, descendentes de Abbas ibn Abdul-Mutallib, afirmavam ser os verdadeiros sucessores do Profeta, diferentemente dos Omíadas, que segundo eles estavam mais distantes da linhagem de Muhammad. Isso pode ser fundamentado tanto pelo fato de que os Abássidas eram descendentes do tio do Profeta, quanto pela própria questão tribal árabe de antigamente, ou seja, Abbas era do mesmo clã coraixita de Muhammad, os Banu Hashim, enquanto que os Omíadas descendiam dos Banu Umayya.

Em que pese existisse essa ótica tribal e sucessória na argumentação Abássida, a ideia de califado dentro do Islã sunita não compreende necessariamente um califa que seja descendente do Profeta. Nesse caso, os próprios Omíadas poderiam de uma forma ou de outra alegar uma descendência com Muhammad, afinal eram oriundos do bisavô de Muhammad.

Indo mais além em suas alegações, os Abássidas afirmaram também que a dinastia Omíada não era um califado autêntico, genuíno, mas sim um “reinado de tiranos”, constituído de arrogantes, mantendo seu poder através da força e da opressão (KUNG, 2007).

Os Abássidas teriam outra carta na manga em sua argumentação oposicionista aos Omíadas: procuraram garantir o apoio dos muçulmanos não-árabes, chamados de mawali, que haviam ficado de fora da administração governamental, justamente pelo fato de não serem árabes, vistos inclusive pelos Omíadas como “cidadãos de segunda classe”. Mesmo o Islã fazendo parte do grupo das “religiões universais” e ficando claro nas palavras do Profeta Muhammad no seu último sermão (Khutbatu l-Wida’) que não existe superioridade entre árabes sobre não-árabes (e vice-versa) ou de um branco sobre um negro (e vice-versa), por algum período de tempo na história islâmica, houve um preconceito contra não-árabes por parte da elite árabe governante. Nesse sentido:

Apesar de um processo de conversão fácil e do conceito igualitário da comunidade de crentes, eram visíveis os novos preconceitos na classificação das províncias (árabes e não árabes), bem como nas divisões administrativas e nas cidades, além da definição das principais características dos povos (BETHENCOURT, 2018, p. 28).

Como pode ser compreendido com o que foi dito acima, a Revolução Abássida não teve apenas um caráter político, “tribal” ou sucessório, mas também social, que por sinal é brilhantemente explicado por Ira M. Lapidus (2002):

Os Abássidas acabaram com a supremacia da casta árabe e aceitaram a igualdade universal dos muçulmanos. Eles acabaram com o anacronismo da “nação em armas” árabe e, francamente abraçaram todos os muçulmanos como seus apoiadores. A supremacia da casta árabe havia perdido seu significado político, e apenas um regime de coalizão, unindo elementos árabes e não árabes, poderia governar um império do Oriente Médio (LAPIDUS, 2002, p. 58).

Foi justamente devido a esse abandono de uma visão de “castas” árabes versus não-árabes que levou o Califado Abássida ao seu apogeu, onde cristãos, judeus, muçulmanos e demais trabalharam em conjunto independentemente de diferenças religiosas, mas sempre em prol da incessante busca pelo conhecimento. Para isso, não foi necessário fazer uma revolução ou uma reforma nas doutrinas islâmicas, mas simplesmente seguir aquilo que o Profeta havia ensinado durante toda a sua vida e que enfatizou em seu último discurso.1

Durante o governo de Omar II (r. 717-729), o bisneto de Abbas ibn Abdul-Mutallib começou a organizar uma oposição aos Omíadas, defendendo que o poder deveria retornar para a família do Profeta Muhammad, aqui representado pelos descendentes de Abdul-Mutallib. Ibrahim al-Imam também viria a se revoltar contra os Omíadas, dessa vez no governo de Marwan II (r. 744-747).

Pouco depois, em 747, Abu Muslim organizaria uma revolta contra o governo Omíada onde contaria com o apoio de 10 mil soldados, derrotando as forças do governo em três batalhas principais: de Gorgan, de Nahavad e de Karbala. Em que pese Abu Muslim tenha organizado sua insurreição contra os Omíadas em 747 e as batalhas vindo a ocorrer em 748, foi somente em 750 quando o irmão do já mencionado Ibrahim, Abu al-Abbas as-Saffah, viria a derrotar definitivamente os Omíadas na batalha do Zab, tornando-se em seguida o primeiro califa da Dinastia Abássida.

Bagdá

Bagdá, a cidade que entrou no imaginário Ocidental de fábulas, mistérios e excentricidade, principalmente por conta de percepções Orientalistas ou influenciado por histórias como das 1001 Noites, por séculos viria a servir como a capital do califado Abássida. Bagdá foi fundada em 762 pelo califa Al-Mansur, o segundo califa Abássida

A fundação de uma nova capital é normalmente associada ao símbolo de um novo começo (KUNG, 2002), e isso é um fato. No caso dos Abássidas, os mesmos queriam uma capital que eles pudessem governar, deixando uma marca única para a história, e de fato deixaram. Bagdá viria a transcender as expectativas de seus fundadores, que de um centro militar e administrativo, tornou-se a capital do mundo islâmico inteiro, atraindo não só muçulmanos, mas não muçulmanos que iriam estudar na famosa Casa da Sabedoria (Bayt al-Hikmah).

Algo interessante de se observar é que no califado Abássida, os não-árabes tiveram um papel importantíssimo na administração pública e em demais cargos burocráticos, intelectuais etc. Exemplo disso é a família afegã de origem budista, os Barmakid. Não só o califa al-Mansur viria a encarregar a construção de Bagdá em 762 como responsabilidade dos Barmakid, mas posteriormente o califa Harun al-Rashid nomearia novamente os membros da família para cargos importantes na administração Abássida, como o caso de Yahya bin Barmak que foi tutor do próprio Harun al-Rashid.

Bagdá deve seu sucesso não somente aos califas que se dedicaram a expandi-la, mas também a sua própria posição geográfica. Localizada em uma posição muito favorável, isto é, com abundantes quantias de água em um local seco, Bagdá logo tornou-se uma grande metrópole:

Nunca houve uma cidade do Oriente Médio tão grande. Bagdá não era uma única cidade, mas um centro metropolitano, formado por um conglomerado de distritos em ambas as margens do rio Tigre. No século IX, media cerca de 25 milhas quadradas [16.000 acres] e tinha uma população entre 300.000 e 500.000. Tinha dez vezes o tamanho da Ctesifonte sassânida e era maior do que todos os lugares localizados – cidades, vilas, aldeias e aldeias combinadas – na região de Diyala. Era maior do que Constantinopla, que se estima ter uma população de 200.000 habitantes, ou qualquer outra cidade do Oriente Médio até Istambul, no século XVI. Em sua época, Bagdá foi a maior cidade do mundo fora da China (LAPIDUS, 2002, p. 56).

um dia foi o centro intelectual do mundo islâmico, abrigando a famosa Casa da Sabedoria (Bayt al-Hikmah). Séculos após sua fundação seria transformada no mais puro caos, com mortes, sangues, e muita destruição que transformaram a grandiosa metrópole em nada mais que ruínas. Infelizmente essa não seria a última vez que Bagdá seria destruída: no começo dos anos 2000, a invasão americana ao Iraque, assim como um dia os mongóis fizeram, levaria mais uma vez o caos e a destruição àquele povo.

Iraque e Bagdá no período inicial do califado Abássida (LAPIDUS, 2002, p. 83, mapa 3).

Com as condições praticamente que perfeitas, Bagdá tornou-se um centro intelectual e comercial, atraindo comerciantes e sábios do mundo inteiro. Chamada de “A Nascente de Estudiosos”, a cidade se destacaria por sua erudição, seus sábios e sua biblioteca. Isso não foi por acaso: os califas abássidas eram grandes entusiastas do conhecimento, e para isso enviaram emissários para vários cantos do mundo para adquirir manuscritos, livros e documentos. Por conta disso, surgiu algo de extrema importância: o movimento de tradução árabe.

O idioma árabe havia se tornado a lingua franca, a língua erudita na qual muitas obras de grande importância nas mais diversas áreas eram traduzidas, vindo a percorrer até a extrema fronteira ocidental do mundo islâmico em al-Andaluz, que chegariam posteriormente nas mãos Ocidentais. Muito conteúdo foi traduzido do sânscrito, persa, grego, etc., e muitos eruditos deixaram a sua marca para sempre na humanidade, como o lendário matemático Muhammad ibn Musa al-Khwarizmi, que nos legou a álgebra2, dentre muitos outros.

Bendita seja Bagdá, sede de aprendizagem e arte –
Ninguém pode apontar no mundo para uma cidade igual a ela,
Seus subúrbios competem em beleza com a abóbada azul do céu;
Seu clima em qualidade é igual às brisas do céu que dão vida,
Suas pedras em seu brilho rivalizam com gemas e rubis,
Seu solo em beneficência tem a fragrância do âmbar- …
As margens do Tigre com suas lindas castanhetas superam (a cidade de) Khullakh;
Os jardins cheios de lindas ninfas igualam Caxemira,
E milhares de gôndolas na água,
Dançam e brilham como raios de sol no céu.

Anwari (apud marozzi, 2015, p. 96)

Entretanto, nem tudo foi flores na história de Bagdá, pois séculos depois de sua fundação, a Cidade Circular viria a sofrer seu mais terrível momento.

Trecho da obra Kitab al-Jabr de al-Khwarizmi.

A Ameaça vem do Oriente

Séculos após sua fundação, a lendária cidade seria transformada no mais puro caos, com mortes, sangues, e muita destruição que transformaram a grandiosa metrópole em nada mais que ruínas. Infelizmente essa não seria a última vez que Bagdá seria destruída: no começo dos anos 2000, a invasão americana ao Iraque, assim como um dia os mongóis fizeram, levaria mais uma vez o caos e a destruição àquele povo.

Bagdá, que um dia havia sido uma cidade de paz, estava para se tornar uma cidade de sangue num piscar de olhos3. Isso porque a ameaça Mongol estava se aproximando do centro do mundo islâmico.

No final de janeiro de 1258 até meados de fevereiro ocorreu o cerco de Bagdá, liderado por Hulagu Khan, neto de Gengis Khan, o maior conquistador da história. Hulagu era também irmão de Mongke Khan, que havia ordenado Hulagu a atacar Bagdá caso o califa da época, al-Mustasim, não cumprisse com as requisições feitas pelos mongóis. Desnecessário dizer que al-Mustasim não cumpriu com os caprichos mongóis, o que ocasionou no cerco de 29 de janeiro de 1258.

Entretanto, Bagdá não foi o primeiro alvo dos mongóis no que concerne ao mundo islâmico, menos ainda de Hulagu. Primeiramente, Hulagu Khan se deparou com a lendária seita dos Hashashins, ou Assassinos, como ficou popularmente conhecida no Ocidente, arquitetada pelo famoso Hassan al-Sabbah (1050-1124), ou “O Velho da Montanha”.  

Alamut, como era conhecida a mítica fortaleza dos Hashashins, havia resistido a incontáveis expedições militares devido a sua localização geográfica extremamente privilegiada, que tornou a fortaleza quase que intransponível. Entretanto, a invulnerabilidade do “quartel general” dos seguidores de Hassan teria seu fim na chegada do temível Hulagu Khan, que em 1251 selou o destino da seita nizari para sempre.

As campanhas de Hulagu contra o território Persa dominado por estados Ismaelitas talvez tenha movimentado o maior contingente militar na história mongol: 150 mil homens. Dessa maneira, conquistou alguns locais da região e posteriormente partiu para Alamut, onde acertaria as contas com os Assassinos, que haviam tentado matar seu irmão (Mongke Khan) e seu amigo, Kitbuqa Noyan. Os Assassinos falharam em sua missão, porém Hulagu não falhou em sua vingança, e isso pode ser atestado com a imagem da atual Alamut: meras ruínas de um passado distante, que prevaleceu somente no imaginário e na fantasia.4

Alamut: a sua posição privilegiada no topo da montanha e com um caminho estreito até ela forneceu uma defesa extremamente eficaz durante quase 200 anos para a seita, até sucumbir perante a implacável força Mongol.

De acordo com a fonte literária mais antiga na língua mongólica5, Bagdá já estava nos planos de ataque do Império Mongol desde a época de Gengis Khan e seu sucessor, Ogedei Khan. O último por sua vez, ordenou seu general, Chormaqan, a atacar Bagdá. Dessa maneira, o Califado Abássida experimentou ataques quase que anualmente durante um bom período de tempo em seus territórios, porém saiu vitorioso de quase todos eles, como em 1238 e em 1245. Entretanto, não demoraria muito até que a sorte mudasse de lado e trouxesse a vitória para o lado Mongol.

Apesar da resistência Abássida contra as investidas mongóis ter sido um sucesso por anos, o califa ainda tentou negociar com o Império e garantir uma relação pacífica entre os dois reinos. Assim, a partir de 1241 o Califado passaria a pagar um tributo anual para o canato. Comissários do califa estiveram presentes tanto nas coroações de Guyuk Khan (1246) quanto de Mongke Khan (1251) como Khans.

Acontece que para os mongóis isso não foi o suficiente: Guyuk insistiu para que o califa al-Mustasim fosse totalmente submisso ao Khan, e como pode ser imaginado, isso não aconteceu. Os Abássidas continuaram proclamando sua independência de poderes externos e a defender seu território das frequentes investidas mongóis.  

Diante dessa “teimosia” abássida, Mongke concedeu autoridade a seu irmão Hulagu sobre o Ilcanato em 1257. Não apenas, mas instruiu seu irmão a conquistar os estados muçulmanos que encontrasse, inclusive o Abássida. Ordenou ainda que Bagdá fosse destruída caso mais uma vez o califa se recusasse a se submeter ao poderio mongol, dessa vez um pouco mais convincente (afinal um exército gigantesco batia em sua porta).

Após finalmente pôr um fim no reinado causador de paranoia dos Assassinos de Alamut, Hulagu enviou uma carta para o califa de Bagdá, reiterando os termos que seu irmão já havia imposto anteriormente. Porém, ao que parece, a resposta do califa não foi a das mais amigáveis, e com um erro grotesco não pediu apoio militar de outros estados muçulmanos e nem reforçou a muralha da cidade, algo que custaria caro, mas muito caro para a história islâmica.

Por volta de 11 de janeiro de 1258, as tropas mongóis formaram uma pinça sobre a cidade abássida, cobrindo ambas as margens do Rio Tigre. Dias depois, em 29 de janeiro, Hulagu deu início ao Cerco de Bagdá, adotando como uma de suas estratégias a construção de paliçadas e valas ao redor da Cidade Circular. Mas não foi somente com o aproveitamento da geografia local que trouxe a vitória para o Ilcanato:

Hulagu tinha catapultas que atravessavam as paredes. Trebuchets tracionadas não podiam fazer isso. As máquinas de Hulagu estavam em outro patamar. Eram trebuchets de contrapeso, a artilharia pesada de sua época, em que os homens puxando cordas eram substituídos por uma caixa cheia de lastro (geralmente pedras), com a vantagem de que o peso podia ser enorme, o braço de lançamento alongado, o míssil mais pesado a funda estendida, aumentando o alcance e melhorando a precisão (MAN, 2016 p.221).

Com base na citação acima, percebe-se que a recusa de al-Mustasim em reforçar as muralhas custaram e muito para o Califado Abássida. Na verdade, isso custou todo o restante de sua história, que agora chega ao fim.

Com suas sofisticadas máquinas de cerco, os mongóis tentavam penetrar a muralha de Bagdá, enquanto que por volta do dia 5 de fevereiro já haviam tomado uma parte significativa das tropas defensivas. Vendo a situação desesperadora, o califa tentou negociar com Hulagu, sendo repelido pelo Khan da mesma forma que um dia ele havia sido. Após isso, 3 mil ou mais pessoas importantes da cidade tentaram negociar com Hulagu, já que a tentativa do califa não havia obtido sucesso, entretanto, todos foram assassinados.

Não demorou muito até que a cidade se rendesse, desistindo de se defender no dia 10 de fevereiro de 1258. Entretanto, só três dias depois os mongóis adentrariam no local, onde fizeram a terrível matança e destruição que ficou marcada na história, horrorizando gerações de historiadores ou qualquer outra pessoa que se depare com os relatos de tamanha barbárie.

Palácios, mesquitas, casas e tudo o que pode ser imaginado foram destruídos. Homens, mulheres, idosos e crianças foram mortos e decapitados, havendo uma pilha de cabeças para cada um dos grupos. A famosa Casa da Sabedoria foi destruída, e com ela suas centenas de milhares de obras e o esforço de séculos de vários eruditos de todos os cantos do mundo conhecido. O califa foi enrolado em um tapete e morto pisoteado pelos cavalos mongóis.

Judeus também foram vítimas do massacre mongol. Cristãos, judeus e muçulmanos em geral viviam harmonia em Bagdá, e isso se refletiu para o âmbito social comum, não permanecendo somente no meio erudito da Casa da Sabedoria onde sábios de todas as fés se reuniam para estudar em conjunto.

Muitos cristãos tiveram sua vida poupada também através da intercessão da esposa de Hulagu, Dokuz Khatun, que era uma cristã nestoriana. Indo mais além, Hulagu ofereceu o palácio do califa para o patriarca cristão nestoriano, Mar Makikha (Makkikha II), ordenando a construção de uma catedral no local. Isso tudo ignorando o tratamento que os Abássidas deram aos cristãos, em especial os de denominação nestoriana:

Os nestorianos tinham muito a agradecer aos abássidas. Com a derrota dos Omíadas em 750 e a subsequente mudança para o leste, para Bagdá, a Igreja Siríaca encontrou-se em uma posição preferencial dentro das fileiras das facções cristãs. Os Abássidas confirmaram essa preeminência ao conceder ao patriarca nestoriano jurisdição oficial sobre todos os cristãos do califado, que se estendia do Egito à Ásia Central.

(MAROZZI, 2015, p. 57).

Bagdá nunca mais voltaria a ser o que foi um dia, muito embora seus habitantes tentassem reconstruir a sua glória. Séculos depois, algo semelhante seria visto novamente no mesmo local, e dessa vez a ameaça veio do Ocidente. Porém, ao invés de prometer submissão, trouxe promessas de “liberdade”.

De acordo com Rashid al Din, os mongóis mataram 800.000 em Bagdá, uma figura citada tanto pelo historiador do século XIII, Minhaj al Siraj Juzjani, quanto por HamdAllah Mustawfi Kazwini, o historiador e geógrafo persa do século XIV. No século XV, o historiador egípcio Al Makrizi calculou o número de mortos, implausivelmente, em dois milhões. Embora as fontes medievais não sejam totalmente imprecisas com esses números, há pouca dúvida de que as forças mongóis, nunca hesitantes em derramar sangue, cometeram um massacre nas proporções do século XX. O próprio Hulagu foi mais conservador em sua estimativa do número de mortos. Em uma carta a Luís IX da França em 1262, ele admitiu 200.000.

(MAROZZI, 2015, p. 176)
Tropas de Hulagu em seu cerco contra Bagdá em 1258

Notas

[1] Os Abássidas também descreditaram os Omíadas, considerando-os como “descrentes”, com a exceção de Omar II, o califa Omíada com a melhor reputação entre todos (ver KUNG, 2007).

[2] As palavras “álgebra” e “algoritmo” podem ser traçadas até al-Khwarizmi, principalmente por influência de seu livro Kitab al-Jabr (álgebra) e da versão latinizada de seu nome, “Alcuarismi/Algorithmus/Algoritmi”.

[3] Referência ao título do livro de Justin Marozzi: “Bagdá: Cidade da paz, cidade de sangue”.

[4] Muito embora o termo “assassino” seja derivado deles e os Hashashins sejam conhecidos pelos seus “assassinatos furtivos”, são pouco mais de 50 assassinatos atribuídos a eles em quase 200 anos de história. Não obstante, o próprio termo hashashin (usuário de haxixe) é uma difamação de seus inimigos, não havendo provas que os membros da seita de fato usassem haxixe. Para essas informações e muitas outras, ver o livro de W.B. Bartlett, “Assassinos. A História da Seita Secreta do Islã Medival”.

[5] “A História Secreta dos Mongóis”.

Bibliografia

MAROZZI, Justin. Baghdad: City of Peace, City of Blood. Penguin, 2015.

KUNG, Hans. Islam: Past, Present and Future. Oneworld Publications, 2007.

BARTLETT, W.B. Assassinos. A história da seita secreta do Islã Medieval. Madras, 2007.

KENNEDY, Hugh. When Baghdad ruled the Muslim World. Da Capo Press, 2005.

MAN, John. The Mongol Empire. Transworld Digital, 2016.

LAPIDUS, Ira M. A History of Islamic Societies. Cambridge University Press, 2002.

BETHENCOURT, Francisco. Racismos: Das Cruzadas ao Século XX. Companhia das Letras, 2018.

WHEATERFORD, Jack. Genghis Khan and the making of the Modern World. Crown, 2005.