Mustafa Azemmouri (1500-1539), mais conhecido pelo seu nome de escravo, Estevanico (“Estevãozinho”) foi um grande explorador muçulmano marroquino, e um dos primeiros africanos de importância histórica na América.

Também chamado de Estevan, o Mouro, ou Estevan, o Negro, foi vendido como escravo pelos portugueses em 1522 no Marrocos quando algumas possessões no país ainda eram controladas por Portugal, mais especificamente na cidade de Azamor, na costa atlântica marroquina.

Mustafa Azemmouri foi comprado por um nobre espanhol chamado Andrés Dorantes de Carranza (1500-1550) para ser seu servo. Carranza, por sua vez, nasceu em Salamanca em uma família de “fidalgos mais pobres”.

Viajando para a América com o capitão Pánfilo de Narváez afim de enriquecer, levou consigo Estevanito, que foi formalmente batizado como catolicismo romano para que pudesse viajar para o Novo Mundo, uma vez que a Espanha não permitia não-católicos nesse tipo de viagem. Seu nome cristão Estevan sugere que foi ao menos batizado. Agora, se Estevanito continuou privadamente sendo muçulmano assim como os vários mouriscos perseguidos em solo espanhol, é algo que não pode ser atestado através dos documentos históricos. Porém, não seria uma surpresa, pois, o cripto islamismo era extremamente comum na Ibéria da época, e muçulmanos secretos eram pegos pela inquisição até mesmo no Novo Mundo.

Em 1527, Estevanico ainda estava submisso à Andrés Dorantes, agora comandante da infantaria na expedição formada pelo capitão Pánfilo de Narváez para explorar e conquistar as terras que se estendiam da Flórida até o Golfo do México. O capitão Narváez havia passado mais de vinte anos como conquistador no México, recebendo indicação real do governante espanhol na Flórida, e estava ansioso para poder controlar o seu novo território, explora-lo e tomar suas riquezas. As diversas companhias formadas com o objetivo de explorar o território continham homens de várias terras distintas, todos sob o comando dos oficiais espanhóis. Entretanto, a expedição de Narváez sofreu vários reveses, enfrentando um problema atrás do outro. Um furacão, por exemplo, destruiu um de seus navios, danificando os demais e forçando o grupo a se abrigar em Cuba. Porém, quando partiram novamente em fevereiro de 1528, tiveram de enfrentar um tempo ainda mais hostil com tempestades mais violentas até que pudessem finalmente chegar na Flórida.

Já estavam em meados de abril quando quatro navios originais da expedição chegaram na costa ocidental da Flórida, ao norte da Baía de Tampa, juntamente com uma brigada que foi comprada para repor o que havia sido perdido nas tempestades, assim como o complemento de cerca de 400 homens e 42 cavalos que haviam sobrevivido às intempéries do clima.

Cumprindo com suas obrigações como o servo pessoal de Dorantes, Estevanico dificilmente devia estar se sentindo tão motivado quanto o resto do grupo quando pisaram no solo da Flórida. Após marcharem 428 km em direção norte, eles construíram novos barcos para navegar em direção oeste junto à costa do Golfo, esperando alcançar Pánuco e o Rio de las Palmas. Ocorre que novamente outra tempestade os atinge bem quando estavam perto da Ilha Galveston, no Texas. Cerca de 80 homens sobreviveram após essa tempestade.

Após o ocorrido, em 1529, três sobreviventes de um barco, incluindo Estevanito, foram escravizados pelos índios Coahuiltecas. Em 1532 eles foram reunidos com outro sobrevivente de um barco diferente chamado Álvar Núñez Cabeza de Vaca. Os quatro homens ao todo eram, além de Cabeza de Vaca, Andrés Dorantes de Carranza, Alonso del Castillo Maldonado e Estevanico.

Já em 1534 os quatro conseguiram escapar do cativeiro, viajando em direção oeste no Texas e Norte do México. Eles foram os primeiros europeus e o primeiro africano a entrar no Ocidente Americano.

Caminhando cerca de 3200 km desde que pisaram na Flórida, eles chegaram num assentamento espanhol em Sinaloa e de lá viajaram para a Cidade do México, cerca de 1600 km de distância para o sul.

Já na Cidade do México, Estevanico foi vendido (ou doado) para Antonio de Mendoza, o vice-rei da Nova Espanha. Então ele nomeou Estevanico como o guia das expedições em direção ao norte, uma vez que os quatro sobreviventes contaram histórias incríveis de lá, envolvendo grandes e ricas cidades, o que agitou os espanhóis.

Desta feita, em 1539 Estevanico deixa a Cidade do México, viajando mais uma vez para Sinaloa na companhia do frade Marcos de Niza, sendo o guia na busca pelas cidades da tribo Zuni, também chamadas de As Setes Cidades de Cíbola, que segundo a lenda seriam cidades feitas de ouro.

Algumas histórias a respeito de seu encontro com a tribo são todas baseadas em lendas. Entretanto, segundo o relato do frade Marcos de Niza, os Zuni mataram o nosso viajante juntamente com outros índios do Norte do México que haviam o acompanhado na expedição. De qualquer maneira, o escravo muçulmano africano certamente ficou lembrado como um grande viajante, explorando e conhecendo o Novo Mundo junto com os espanhóis.

Bibliografia:


-MacDougald, James (2018). The Pánfilo de Narváez Expedition of 1528: Highlights of the Expedition and Determination of the Landing Place. St. Petersburg: Marsden House.

-Donald E. Chipman (2003). "Handbook of Texas Online:Andrés Dorantes de Carranza"

-Herrick, Dennis (2018). Esteban: The African Slave Who Explored America. Albuquerque: University of New Mexico Press.

-Niza, Fray Marcos de (1999). Adolph F. Bandelier's The Discovery of New Mexico by the Monk Friar Marcos de Niza in 1539. Tucson: The University of Arizona Press.

- Karoline P. Cook (2016) Forbidden Passages: Muslims and Moriscos in Colonial Spanish America