Muitos historiadores e especialistas na história do Norte da África dão a impressão de que o maior interesse da obra de Ibn Khaldun é nos dar uma explicação completa sobre a crise que pôs fim ao desenvolvimento social e econômico do Magrebe. Eles argumentam que a crise foi resultado da gradual invasão ao Norte da África por tribos árabes nômades do oriente, primeiro os Beni Hilal e depois os Beni Solayn. De acordo com C.A. Julien, o mais famoso especialista em história do Norte da África, a invasão hilaliana foi “o evento mais importante de todo o período medieval no Magrebe” [1]. Foi, escreve, “uma torrente invasora de povos nômades que destruiu o início da organização berbere – que poderia muito bem ter se desenvolvido à sua maneira e não ter colocado “nada” em seu lugar” [2]. Deve-se notar desde o início que a Muqaddimah não fornece um relato sistemático sobre esta crise, os efeitos dos quais eram ainda visíveis no século XIV. Ibn Khaldun não fornece nenhum relato metódico sobre as causas subjacentes deste fenômeno destrutivo. O Histoire des Berbères descreve uma série de convulsões e crises, e várias tentativas malsucedidas de estabelecimento de uma monarquia centralizada. Mas o problema de uma Crise com ‘C’ maiúsculo nunca é levantado. A invasão hilaliana não é o tema principal da Muqaddimah. Ibn Khaldun refere-se a ela simplesmente como uma das causas da turbulência.

A enciclopédica Muqaddimah contém uma seção sobre metodologia, uma análise das estruturas políticas e sociais e uma síntese geral, mas basicamente não descreve o espetacular colapso que historiadores modernos dizem ter descoberto. Ibn Khaldun não estava estudando um grande evento localizado como uma invasão e suas consequências; ele não faz distinção sistemática entre o caráter do Magrebe antes e depois da crise. Mas ele faz uma análise metódica das estruturas políticas e sociais permanentes que caracterizavam o Norte da África. E, de acordo com Ibn Khaldun, a chegada das tribos hilalianas não alterou muito essas estruturas. Nenhum espaço é dado para um estudo detalhado da invasão hilaliana na conjuntura sistemática e analítica da Muqaddimah ou na Histoire des Berbères, do qual cada capítulo lida com uma dinastia diferente.

Os longos relatos sobre a invasão hilaliana não derivam, portanto, diretamente de Ibn Khaldun. É bastante legítimo, é claro, formular uma tese coligindo dados dispersos. Mas a teoria de que a “invasão árabe” foi um fator determinante na crise do Norte da África medieval é menos que legítimo, já que leva em conta apenas parte dos dados fornecidos por Ibn Khaldun. Os historiadores modernos que estabeleceram esta teoria deixaram de lado todos os fatos que não sustentavam a teoria. Ainda assim, tanto os fatos quanto a informação fornecida por Ibn Khaldun estão, muitas vezes, em completa contradição com a tese da “invasão árabe”.

Ibn Khaldun menciona, é claro, a chegada dos árabes nômades e a destruição que eles causaram em diversas ocasiões: “No entanto, no presente – ou seja, ao fim do século VIII [3] – a situação no Magrebe, como podemos observar, sofreu uma reviravolta e mudou completamente. Os berberes, a população original do Magrebe, foram trocados pelo influxo de árabes que começou no século V [4]. Os árabes superaram os berberes em número e poder; tomaram-lhes a maior parte de suas terras e obtiveram uma parte daqueles que permaneceram em sua posse” [5].

Tirado de contexto, esta passagem tão citada parece fornecer uma base sólida para a tese da “invasão árabe”. Mas o que vamos fazer com a seguinte afirmação do mesmo autor? “Os berberes na costa africana constituem os habitantes nativos da região. Sua língua é a língua do país, exceto nas cidades. A língua árabe está totalmente submersa no idioma nativo não-árabe dos berberes” [6].

Se os árabes do oriente fossem realmente conquistadores que expulsaram os berberes, como a língua árabe poderia ficar “submergida”?

A Muqaddimah contém passagens famosas e bastante citadas que condenam o comportamento dos árabes. Portanto, Ibn Khaldun escreve que “os locais que sucumbem aos árabes rapidamente se arruínam,” [7] e que “É digno de nota como a civilização sempre entrou em colapso nos lugares em que os árabes tomaram e conquistaram e como tais assentamentos foram despovoados e a própria terra ali se transformou em algo que não era mais terra” [8]. Mas em outras passagens Ibn Khaldun elogia as qualidades morais e as virtudes políticas dos árabes, dizendo que eles são “mais próximos de ser bons que um povo sedentário”. Não há formas de nos desviar desta aparente contradição.

Ibn Khaldun é um historiador bom demais para se esquecer que os árabes fundaram impérios grandes e estáveis tanto no Oriente quanto no Ocidente. Em um número de importantes passagens ele demonstra que todos os reinos e organizações políticas viáveis encontradas no Norte da África foram estabelecidas por povos “nômades” ou “árabes” ou por tribos com características sociopolíticas muito similares. Os almorávidas, por exemplo, eram verdadeiros nômades saarianos; os fatímidas eram, originalmente, camponeses da Cabília; os almóadas eram uma tribo de montanha do Alto Atlas Marroquino. Como veremos, Ibn Khaldun está certo em classificá-los juntos. Não estamos, então, lidando com “nômades”, “beduínos” ou “árabes”, mas com grupos que têm estruturas políticas e sociais similares, apesar de terem “formas de vida” muito distintas.

Ibn Khaldun faz uma distinção metodológica entre dois grandes grupos que costumam ser chamados de “árabes” ou “beduínos” e “grupos sedentários”, respectivamente. Mas a verdadeira distinção radical é entre a população rural, o povo de bled – categoria que inclui agricultores nômades e sedentários – e os citadinos e fazendeiros que vivem perto das cidades. Ibn Khaldun critica os árabes destrutivos que eram ladrões e incapazes de fundar um estado, mas ele o faz para contrastá-los com os bons árabes que fundaram impérios.

Por razões que permanecem obscuras, a terminologia usada por Ibn Khaldun não é muito precisa. A confusão não é uma simples questão de problemas de tradução. Sua obra é constantemente usada como fonte de citações, em vez de ser estuda em detalhe. Ela é extremamente complexa e costuma parecer ser contraditória se tiradas do contexto. Em sua classificação dos grupos humanos, Ibn Khaldun destaca as diferenças entre eles e ignora semelhanças ou diferenças entre suas “formas de vida” e temos que, portanto, tentar entender o verdadeiro critério que ele utiliza. Apesar da óbvia complexidade dos problemas envolvidos, a maioria dos historiadores do Norte da África ainda subscreve a tese de que as “invasões árabes do século XI” destruíram as conquistas da população sedentária. Eles fazem uma distinção sistemática entre os invasores nômades estrangeiros (comumente e erroneamente descritos como “árabes”) e a população sedentária berbere, as vítimas nativas da invasão.

A tese do antagonismo nômade-sedentário, árabe-berbere aparece com a colonização da Argélia. De acordo com J. Berque, “A antítese árabe-berbere se tornou um clichê por volta de 1845” [9]. O Recherches sur les origines des migrations des principales tribos de l’Afrique septentrionale de Carette lançou o tema das “invasões árabes do século XI” em 1853. A tradução francesa da Muqaddimah publicada em 1863 foi invocada para fornecer uma corroboração definitiva do que era, então, quase que uma tese oficial. Um dos grandes pensadores árabes confirmou (ou pareceu confirmar) as visões dos historiadores do período colonial. As invasões árabes podem não ter sido, como tanto se afirmou, o “evento decisivo” na história os estados berberes, mas certamente se tornaram o principal tema da historiografia norte-africana do século XIX em diante. De acordo com G. Marçais, “Toda a vida do Norte da África foi profundamente e permanentemente marcada por esta catástrofe” [10]. Para Julien, a chegada de um povo nômade destrutivo era o evento mais importante de todo o período medieval no Magrebe [11].

Nos escritos de E.F. Gautier, a oposição nômade-sedentária se torna ainda mais importante, assumindo ressonâncias ainda maiores. A invasão assume “as proporções de um apocalipse”, uma “imensa catástrofe”, “o fim do mundo” [12]. A luta entre os dois grupos se torna uma batalha eterna, cósmica. De acordo com Gautier, toda a história do Norte da África, da Antiguidade Clássica em diante, é um duelo entre “duas espécies biológicas que sempre se comportam de maneiras completamente opostas”. “Ao longo dos dois milênios que separam a Antiguidade Clássica de nossos dias, o Magrebe sempre foi dividido entre duas metades irreconciliáveis: os grupos nômades e os sedentários. Os instintos dos nômades são muito diferentes (dos do agricultor sedentário). Sua forma de vida significa que ele é um comunista. A dureza de sua vida significa que, quando liderado por seu príncipe, ele é um soldado disciplinado, pelo menos durante a batalha. Mas isso também significa que ele está permanentemente insatisfeito e sempre ávido por novas conquistas. Politicamente, ele é um anarquista, um niilista. Ele tem uma grande predileção pela desordem e pelas oportunidades que ela lhe proporciona. Ele é destrutivo e negativo. Mesmo suas vitórias não resultam em nada, pois ele destrói seus frutos em uma orgia incomum de extravagância” [13].

Apesar de sua natureza oficial, a tese da culpa histórica do nômade e a teoria da eterna oposição entre grupos nômades e sedentários está em contradição com um número de pontos elementares da geografia.

Não há base na realidade para nenhuma oposição total, metafísica, entre grupos nômades e sedentários, embora os romancistas tenham encontrado nela uma fonte fértil de inspiração. Desde tempos antigos até o início do século XIX, uma das maiores características das áreas eram a importância de grupos seminômades que praticavam a pecuária e a agricultura, e suas atividades a qualquer momento, dependiam das estações do ano e de onde estavam. Havia, é claro, sedentários arboricultores e nômades puros, mas tais grupos eram casos extremos e raramente entravam em contato entre si (exceto na Tunísia, por exemplo). A vasta maioria da população estava entre estes extremos. Os interesses dos agricultores e dos pastores estavam interconectados. Apesar de algumas passagens de Ibn Khaldun sugerirem que os grupos nômades e sedentários eram irreconciliáveis, outras poderiam facilmente ser utilizadas para apoiar o argumento mais convincente de que agricultores e pastores coexistiam em harmonia.

A oposição simplista entre árabes nômades e berberes sedentários é igualmente falaciosa, como qualquer geógrafo ou antropólogo poderia reconhecer. Mas permanece o fato de que este argumento desgastado ainda é usado. É, portanto, válido mencionar que nem todos os nômades eram “árabes” e que nem todos os berberes eram sedentários de forma alguma. O número de grupos autenticamente “árabes” que vieram da Arábia e se assentaram no Magrebe é bem pequeno. O povo conhecido como “árabe” no Magrebe eram, na verdade, berberes falantes do árabe que mantiveram muitas de suas características originais. Apesar de parte da população falante do berbere ser verdadeiramente sedentária (em Cabília, no Rif Ocidental e no Oeste do Alto Atlas), outros eram nômades ou seminômades (como, por exemplo, nas montanhas do Atlas Central e no Oeste do Alto Atlas). Numa tentativa de desviar deste fato, que invalida completamente as equações entre árabes e nômades e berberes e sedentários, E.F. Gautier tenta dividir os berberes através de linhas linguísticas [14].

Mesmo se aceitarmos a existência de alguma oposição sedentária-nômade, ela não corresponde a nenhuma grande divisão étnica ou linguística. Além disso, pastores e aldeões eram capazes de coexistir dentro de pequenas, mas altamente unificadas formações políticas e sociais. Brunschwig demonstrou que durante a Idade Média havia tribos em Ifriqiyah compostas por frações complementárias, mas iguais, de sedentários e nômades [15].

A distinção política entre grupos nômades e sedentários é igualmente artificial. Não há exemplos conhecidos de conflito entre grupos puramente sedentários e puramente nômades. Pelo contrário, todo os conflitos registrados parecem ter ocorrido entre grupos singularmente díspares. “Facções nômades e grupos sedentários entraram em alianças contra outros nômades que se aliaram a outros grupos sedentários. Sheikhs beduínos e governantes de cidades formavam alianças contra outros beduínos e seus aliados urbanos. Os blocos mutuamente hostis formados desta maneira nada tinham que ver com noções de origem ou formas de vida. Por mais contraditórias que possam ter sido suas respectivas mentalidades e objetivos, os nômades não tentaram minar as instituições sedentárias de forma sistemática, tal como os grupos sedentários não tentaram eliminar o nomadismo”. Tal é a visão de Brunschwig sobre Ifriqiyah, o país que mais sofreu nas mãos de certos grupos nômades.

Mesmo que restrinjamos o argumento a exemplos extremos de arvicultores e nômades montados em camelos, o conflito entre seus interesses é muito menos sério do que por vezes tem sido sugerido. Pelo contrário, há muitos casos nos quais seus interesses coincidiram: os nômades protegiam e guiavam as caravanas e eram responsáveis pela maior parte do transporte no Norte da África. Eles supriam as cidades com comida e contribuíam para a existência de algumas economias rurais baseadas no comércio. Eles forneciam uma força de trabalho qualificada que era muito apreciada e buscada após a época da colheita. Marçais cita exemplos específicos de nômades e aldeões entrando em acordo contratuais mútuos para agricultara a terra na região de Constantina. Muitas vezes comparados a pragas de gafanhotos, os Beni Hilal “participavam ativamente na vida do país apenas um século após sua chegada e estavam contribuindo para a riqueza daqueles que outrora tinham reduzido à pobreza” [16]. Brunschwig cita outros casos similares. A pecuária estava longe de ser simplesmente uma causa de conflito ou de ser prejudicial aos interesses da população sedentária.

Estas breves observações são suficientes para mostrar que a distinção nômade-sedentária precisa ser abordada com certo ceticismo. O Norte da África, sem dúvidas, passou por um prolongado período de turbulência. Mas essa turbulência foi, basicamente, o resultado da “invasão nômade”? E sequer houve, de fato, uma “invasão”?

Historiadores modernos costumam descrever a chegada dos nômades em termos de invasão ou inundação: “ondas de nômades invadiram o país sem cessar, arrastando mulheres e crianças consigo e empurrando para trás aqueles que os precederam” [17].

A “invasão hilaliana” que é muito apresentada como tão irresistível quanto as invasões lideradas por Tamerlão ou Genghis Khan e na mesma escala, foi, na verdade, muito diferente. Os nômades árabes não eram os destrutivos conquistadores da lenda. Não há fundamento para descrever sua chegada como uma “inundação”. Havia relativamente poucos deles: cerca de cinquenta mil, de acordo com as estimativas mais confiáveis. Apesar de terem causado considerável destruição na parte sul de Ifriqiyah, a única área que eles realmente conquistaram, em outas regiões seus movimentos não tinham nenhuma semelhança com uma conquista. Com exceção do sul de Ifriqiyah, eles não criaram estados e não derrubaram nenhum governo estabelecido. Em outras regiões, as únicas batalhas que ocorreram ao longo das rotas percorridas pelos “invasores” foram aquelas em que sofreram pesadas derrotas.

Além disso, não é provado de forma alguma que o principal objetivo das tribos era marchar para o ocidente. Pelo contrário, eles estavam mais preocupados em se mover do norte para o sul, do Teliano até a orla do deserto em busca de novas pastagens para seus rebanhos e não tinham vontade de desviar do seu território tradicional. “Eles moviam do norte para o sul da mesma forma que a água segue o movimento das marés, e raramente se moviam paralelamente à costa” (Marçais).

As tribos árabes foram para o ocidente contra sua vontade e foram pressurizados em fazê-lo pelos vários governantes do Magrebe. Longe de estarem tentando trazer as tribos de volta, os governantes queriam que eles viessem. As tribos árabes costumavam ser forçadas a deixar seu próprio território e se estabelecer em outas áreas. Quando o sultão almóada infligiu uma grande derrota nas tribos árabes em Sétif em 1152, ele não estava tentando impedir seu avanço. Pelo contrário, estava tentando forçá-los a se estabelecer no Marrocos e servi-lo.

Como uma descrição geral dos movimentos das tribos árabes pelo Norte da África do século XII até o século XIV, o termo “invasão” é, então, completamente impreciso. Apesar de ser um tipo de exagero, “deportação” pode ser um termo mais preciso. Na maioria dos casos, as tribos eram convidadas a irem para o Magrebe, ou mesmo recrutadas.

“Seria errado imaginar os sultões berberes em constante conflito com os árabes. ... Sua presença era constantemente considerada desejável. ... Os movimentos em larga escala das tribos eram normalmente organizados para trazer forças que pudessem servir ao estado, em vez de reprimir as tribos vizinhas que eram consideradas uma ameaça. ... Os nômades eram trazidos de todo canto do império e estacionável no ponto mais fraco. ... Sua saída era considerada uma perda irreparável e eles recebiam concessões para permanecer” (Marçais). A história do Norte da África mostra que, longe de se comportar como os “anarquistas e destrutivos niilistas” de Gautier, as tribos nômades quase sempre trabalhavam em associação aos governos. “Dinastias emergentes eram virtualmente forçadas a ganhar o apoio de um poderoso grupo nômade” (Marçais). Os governantes do Marrocos e de Túnis costumavam se aliar com tribos nômades, e quanto aos sultões de Tlemcen, estas alianças eram uma política regular. Laços matrimoniais, o papel desempenhado pelos nômades na coleta de impostos e na manutenção da ordem e sua participação nas expedições militares apontam para a proximidade da associação.

Fica claro, então, que as teorias da “invasão” hilaliana e do embate básico nômade-sedentário estão incorretas. Uma das características mais curiosas da historiografia norte-africana é a sobrevivência destas teorias errôneas, apesar de todo o esforço dos mais eminentes historiadores.

Seria, é claro, absurdo ir para o outro extremo e argumentar que os nômades não causaram nenhuma destruição e que eram, invariavelmente, apoiadores devotos da lei e da ordem. Eles desempenham um papel importante em insurreições e conflitos dinásticos. Mas, da mesma forma que seria errado ver a aliança entre nômades e o governo como uma característica específica do estilo de vida nômade, também seria errado ver a participação em insurreições como restrita aos pastores.

É certamente o caso que nômades desempenharam um importante papel político durante a Idade Média. Eles eram móveis e tinham camelos montados, o que significava que seu potencial militar era muito maior que o da população sedentária. A maioria dos homens combatentes foram recrutados nas fileiras dos pastores, sem distinção feita entre verdadeiros árabes e berberes arabizados. Se alguns dos aldeões numa certa área apoiassem as autoridades, os pretendentes procurariam apoio de outros grupos pastorais. Mercenários nômades forneceram a maioria das forças usadas em lutas entre governantes rivais, governadores e pretendentes entre chefes locais e havia uma competição considerável para lhes recrutar. Nem o papel dos nômades era puramente passivo; seus líderes eram astutos e costumavam tomar vantagem da fraqueza de seus empregadores para exigir mais dinheiro por seus serviços ou mesmo para agir em seu próprio nome.

Conforme a instabilidade política se desenvolvia num estado permanente de guerra, parecia que a importância política das tribos crescia junto aos seus números. Seus rebanhos representava uma forma móvel de capital idealmente adequada a uma situação instável, na medida em que podiam ser facilmente afastados de bandos de saqueadores. As colheitas e plantações, por outro lado, eram frequentemente saqueadas. A destruição foi, sem dúvidas, em partes, o resultado de ações anárquicas e espontâneas por parte das tropas. Mas, geralmente, era organizada pelos governos que queriam punir a população local por suas ações políticas ou forçá-la a pagar impostos.

A destruição causada pelos pastores parece ter sido resultado de ações feitas sob ordens dos governantes que eles serviam, em vez de ser sua iniciativa pessoal. A dominação dos nômades sobre uma população sedentária frequentemente explorada e oprimida não resultava de um conflito entre dois estilos de vida. A subordinação da população sedentária era, geralmente, o resultado de uma política governamental: grupos nômades eram recompensados por seus serviços recebendo o direito de aumentar impostos. Como Marçais mostrou, saques espontâneos eram relativamente raros e geralmente eram obra das tribos mais pobres. Nem é irrelevante o fato de que muitos dos cronistas norte-africanos viram o contraste entre a pobreza e a insegurança da Bled el Maghzan controlada pelo governo, no qual mercenários nômades eram ativos, e a relativa riqueza de Bled Essiba, que se recusou a pagar impostos e onde as tribos nômades e sedentárias coexistiam mais ou menos pacificamente, como um fenômeno perfeitamente natural. Em muitos aspectos, as ações de algumas tribos nômades do Norte da África correspondem às das forças mercenárias empregadas na Europa no século XIV.

O papel desenvolvido pelos nômades e seu movimento no Norte da África durante a Idade Média era um efeito da organização política e social do Magrebe, em vez de uma causa primária ou determinante. No Oriente Médio, onde condições naturais e técnicas eram similares às do Magrebe, o papel dos nômades era muito menos importante.

Os árabes do oriente não eram o único grupo a desempenhar este papel militar e político no Norte da África. Os sultões costumavam usar tribos berberes da mesma maneira. Estando mais proximamente conectados com as cidades e com as cortes reais, que eram os principais centros de disseminação do árabe, as tribos berberes de Bled Maghzan obviamente tenderam a se arabizar mais rapidamente que as tribos que viviam em áreas periféricas, onde estavam salvos das tropas reais e das incursões de coleta de impostos. Também é possível que os sultões que procuravam mercenários preferissem as tribos do oriente às antigas tribos que estavam assentadas numa região por muito tempo simplesmente porque as primeiras eram mais móveis.

Agora é possível demonstrar que a teoria simplista e errônea da invasão hilaliana não aparece na obra de Ibn Khaldun. Pelo contrário, o escritor do século XIV mostra, com uma perspicácia e precisão que os historiadores modernos poderiam muito bem imitar, o real processo pelo qual ocorreu a chamada “invasão”.

Ibn Khaldun descreve o início da “invasão” nas páginas de abertura de seu Histoire des Berbères: “Foi apenas em meados do século V da hégira que a África foi invadida por grupos das tribos Hilal e Solaym. Assim que chegaram, eles fizeram contato com os governos estabelecidos... sua história está ligada à das potências governantes” [18]. Foi em 433 (1051-52 d.C.) que os árabes vieram para Ifriqiyah: “Mounes ibn Yahya es-Sinberi, emir de Ryah [19], foi o primeiro a chegar. El Moez imediatamente tentou ganhar seu apoio [20]. Ele o chamou para si, declarou que era seu amigo e se casou com sua filha. Ele, então, propôs trazer os árabes de seus acampamentos periféricos para subjugar os príncipes da família Hammad [21], seus parentes colaterais e aqueles que se rebelaram contra si na parte oriental do império. Após alguma hesitação, Mounes concordou e mandou chamar os árabes. Os nômades, então, começaram a devastar o campo” [22].

Apenas esta passagem deixa claro que foi os monarcas em governo que convidaram os nômades para seus reinos para que pudessem usá-los como mercenários. Ibn Khaldun sublinha que em pouco tempo os mesmos métodos estavam sendo usados contra vassalos rebeldes: “Quando el-Moez recuou para Mahdiya após abandonar Kairouan, ele acendeu um fogo que logo se espalharia por toda Ifriqiyah. Os vitoriosos dividiram as cidades entre si e nomearam seus próprios governadores. Eles distribuíram as terras ao redor entre os nômades” [23].

Conclusões similares podem ser feitas da seguinte passagem, que é apenas uma entre várias que poderiam ser citadas. Ibn Khaldun estava ciente das ligações entre os governantes e os chamados invasores: “Sultão Abu Hammu começou a fazer as preparações para uma nova expedição que visava frustrar os planos dos rebeldes [24]. Ele enviou emissários para os árabes, despejou dinheiro nas tribos e garantiu-lhes território suficiente para satisfazer todas as suas necessidades” [25].

Ibn Khaldun dá uma descrição precisa sobre os resultados destas políticas: “o Magrebe Central ainda está no estado que descrevi tantas vezes. Os árabes são os senhores das planícies. A autoridade de Abd el-Wadids não se estende às áreas periféricas do império ou para além das regiões costeiras que eles governaram no passado. O poder dos árabes enfraqueceu a dinastia. Abd el-Wadids ajudou a torná-los fortes dando-lhes dinheiro, fornecendo-lhes vastas porções de terra e rendendo um grande número de cidades para eles. A única maneira que eles os controlam é envolvendo-os em brigas tribais e colocando-os uns contra os outros”.

Ele usa outros exemplos para mostrar que o poder das tribos nômades derivava de sua aliança com o governo e que eles nunca fizeram verdadeiras ofensivas por conta própria: “Aquele ramo dos Zanatah, conhecidos como Beni Badin... se tornaram devotos apoiadores dos almóadas assim que chegaram ao poder. Os Beni Badin eram muito mais próximos à dinastia do que seus rivais. ... No Magrebe Central, eles controlaram mais do platô e mais da área costeira que qualquer outro ramo dos Zanatah. Durante suas migrações de verão, eles tinham a permissão de ir mais além que qualquer outa tribo nômade. Eles constituíam parte do exército almóada e foram responsáveis por defender as fronteiras do império”.

É bastante claro, então, que de acordo com Ibn Khaldun, a importância das tribos “nômades” (árabes e berberes) foi, em grande parte, um efeito da organização política dos estados berberes durante a Idade Média. Contudo, ainda parecia haver uma contradição entre aquelas passagens na Muqaddimah em que ele anatemiza os “árabes” ladrões e aqueles em que elogia as virtudes políticas daqueles “árabes” que fundaram estados.

Como notado anteriormente, não há base histórica para a teórica de que havia um antagonismo básico entre grupos nômades e sedentários ou entre árabes e berberes. Isso é um mito. Alguns historiadores sérios acreditaram nisso, no entanto, apesar de os resultados de suas próprias pesquisas contradizerem a teoria de diversas formas. Assim, Marçais, um dos grandes especialistas sobre os problemas dos árabes no Norte da África, subscreveu a esta visão, apesar de ele mesmo ter coletado uma série de fatos que provam que não houve invasão real. Ele nunca demoliu as fábulas sobre os “invasores árabes” comparando suas objeções e reservas. Gautier, entretanto, fez da “invasão” um leitmotiv obrigatório de todos os relatos históricos do Norte da África e uma teoria oficial.

Esta recusa em aceitar o volume de evidências, a repetição obstinada do erro e a insistência em torná-lo um tema central em qualquer relato da história magrebina não pode ser acidental. O mito não surgiu por acaso. Ele foi deliberadamente forjado e inculcado no quadro da ideologia colonial. Desde o início da conquista da Argélia, generais franceses tentaram criar uma barreira entre “árabes” e “cabilas” e tiveram sucesso nisso. Abd el-Kader nunca teria sido derrotado em 1847 se os cabilas não tivessem permanecido neutros. Mas eles não foram atacados até 1851. Foi no Marrocos que esta política “pró-berbere” [26] e antiárabe foi organizada mais metodicamente. Sua manifestação mais espetacular e mais séria se deu em 1953, durante a revolta das tribos berberes das montanhas contra Muhammad V, que era considerado muito simpático ao movimento nacionalista.

Transformar os árabes em invasores destrutivos era uma forma de legitimar a “presença francesa”. Na obra de Louis Bertrand [27] (acadêmico e bardo oficial do Governo Geral da Argélia) os estados berberes cristãos são simbolizados por Santo Agostinho e são representados como tendo caído diante de invasores do oriente e depois sendo restaurados ao seio do Ocidente Cristão pela França. Os servidores que tinham de fazer falas sobre a “missão civilizatória” da França ficaram muito satisfeitos em explorar este argumento fantasioso.

Foram feitas tentativas de colocar o selo da história e da geografia nestas fantasias literárias. E. F. Gautier era o teorizador do antagonismo nômade-sedentário. Gautier estava ao lado de Galliéni durante a selvagem repressão à Revolta dos Fahavalos em Madagascar, em 1897. Ele era professor na Universidade de Argel e um dos mais brilhantes ideólogos do colonialismo. Gautier deu seu melhor para provar que os sentimentos nacionalistas não tinham espaço legítimo no Norte da África: nômades, árabes e orientais tinham “uma concepção biológica, e não histórica, do passado e da história. O árabe é orgulhoso de sua família, seu clã e sua tribo; a diferença entre este e nosso senso de patriotismo é óbvio. ... Uma pátria é um país geográfico; apenas uma população assentada pode amar a terra” [28].

O árabe, portanto, não tem direito a um país próprio: QED. O destino do berbere não é melhor, pelo menos não de acordo com Gautier: “a característica mais óbvia do Magrebe é a falta de qualquer base emocional sobre o qual construir um sentimento de nacionalidade. Temos de aceitar que esta falha individualista é incurável” [29]. Não há, é claro, nenhuma base para tais afirmações gratuitas e partidárias.

Por causa do eterno conflito entre grupos nômades e sedentários, “o Magrebe Moderno é um complexo de elementos incompatíveis e irreconciliáveis” e apenas a dominação estrangeira pode fundi-la num todo coeso. “Não só o Magrebe nunca foi uma nação; ele nunca foi um estado autônomo. Ele sempre fez parte de um império” [30]. “O povo do Magrebe sempre foi um povo conquistado... eles nunca tiveram sucesso em expulsar seus mestres” [31].

É incrível ouvir um acadêmico apresentar tal tecido de inverdades históricas. Não é verdade que o Norte da África sempre tenha sido parte de um império estrangeiro: entre os séculos VIII e XVI os países hoje conhecidos como Argélia e Tunísia eram governados por dinastias nativas. O Marrocos foi independente desde tempos antigos até o século XX. A dominação romana não foi mais que um breve episódio localizado e a soberania do Califa de Damasco nunca existiu, senão na teoria. Este povo eternamente conquistado já governou a Espanha e o Egito. Apenas pense sobre o que poderia ser escrito sobre a França se apenas o período da Guerra dos Cem Anos fosse considerado.

Não sendo a falsificação da história suficiente, argumentos puramente racistas também foram usados. De acordo com Gautier, “de todas as raças brancas na região mediterrânea, a raça magrebina deve ser a mais atrasada, de longe. ... Esta raça não tem individualidade positiva” [32].

Mas, com certeza, Ibn Khaldun, cuja grandeza foi evocada para dar mais peso às teorias antiárabes atribuídas a ele, era um magrebino? E, com certeza, não deve haver dúvidas sobre seu valor? Gautier pensa diferente: “A mente oriental é muito diferente da nossa. O oriental não tem senso de racionalismo crítico, não tem senso de realidade”. Ibn Khaldun queria entender – uma ambição muito ocidental para um muçulmano. “Este oriental tinha uma mente afiada, crítica. Em outras palavras, ele tinha um senso ocidental da história” [33].

Gautier continua bastante imperturbável com suas falsidades: “a civilização muçulmana sofre de uma curiosa paralisia no sentido histórico” [34]. “Durante a Idade Média, o mais humilde de nossos historiadores escrevia história da mesma maneira que Monsieur Jourdain escrevia prosa; sem perceber que estava fazendo. Nunca ocorreu nem ao sarraceno mais esclarecido fazer isso” [35].

Pode-se, contudo, salientar que, se compararmos Ibn Khaldun e Froissard, o representante da mente ocidental não se sai muito bem. Assim como Louis Bertrand viu o Magrebe como um país cristão sob domínio ocidental, Gautier transforma Ibn Khaldun num pensador de estilo ocidental. “Ele tem uma concepção ocidental de história. ... A estadia de Ibn Khaldun na Andaluzia trouxe um sopro de nosso Renascimento em sua mente oriental” [36].

Por que a recusa teimosa, que voa na face de toda a evidência, em admitir que a civilização árabe podia produzir historiadores? Por que tentar desassociar Ibn Khaldun desta caricatura do Mundo Árabe? Porque, como Paul Valéry coloca, a história é uma ciência perigosa. Gautier inadvertidamente admite seus verdadeiros motivos quando ele escreve que “para ter um senso de história, é necessário pertencer a uma nação” [37]. Ele usa os argumentos mais risíveis para provar que os “árabes” não tem senso de história, assim “provando” que os magrebinos não têm direito legítimo a um país próprio. Finalmente, de acordo com Gautier, “O Magrebe nunca muda”. Seria eufemístico descrever isso como irrealista.

Gautier não foi o único contribuinte desta ideologia colonial. Bouthoul também vê o conflito entre grupos nômades e sedentários como sendo a origem do assim chamado dilema que o Norte da África encarava: “Liberdade e Barbarismo ou Servidão e Civilização”. Os únicos governos estáveis o suficiente para “impor a paz sobre estes grupos irreconciliáveis ... eram os governos que podiam contar com a ajuda de um poderoso estado estrangeiro. Sempre que o Norte da África foi entregue a si mesmo, viveu sempre as mesmas adversidades” [38].

Até C.A. Julien, aquele eminente socialista, subscreve às mesmas visões: após um preambulo lidando com geografia e pré-história, ele dá o seguinte comentário sobre a história norte-africana: “não importa o quanto voltemos no tempo, toda a região parece sempre ter sido afligida com uma inaptidão congênita de ser independente” [39]. A suposta incompatibilidade dos magrebinos com a independência e a natureza do “povo eternamente conquistado” de Gautier se tornaram pedras angulares da ideologia colonial. Dado que não poderia haver dúvidas sobre o fato de, após a insurreição carijita do século VIII, o Magrebe se tornou independente das dinastias orientais, as migrações de algumas tribos árabes que chegaram ao Norte da África no século IX e entraram a serviço dos governantes nativos tiveram que ser transformadas em uma “invasão” árabe para dar credibilidade à teoria da inaptidão congênita do Magrebe para a independência.

Em termos de ideologia colonial, a teoria de que os estados berberes foram conquistados pelos árabes era importante por duas razões. Primeiro, significava que os franceses eram simplesmente os últimos a conquistar uma terra que sempre foi conquista e que, esperava-se, assim permaneceria para sempre. Segundo, dava uma base história para uma política colocar árabes e berberes uns contra os outros [40].

Não é surpreendente que os apoiadores do colonialismo, pouco conhecidos por cantar louvores aos grandes nomes da civilização árabe, tenham dado tanta importância a Ibn Khaldun. Eles não poderiam ter esperado uma melhor confirmação de suas teorias fraudulentas.

Notas:

  1. C.A. Julien (tr. J. Petrie, C. Stewart), History of North Africa. From the Arab Conquest to 1830, London 1970, p. 73.
  2. Ibid.
  3. Of the Hejira.
  4. Of the Hejira.
  5. Muqaddimah Vol. 1, p. 64.
  6. Muqaddimah Vol. 3, p. 366.
  7. Muqaddimah Vol. 1, p. 302.
  8. Muqaddimah Vol. i. p. 304.
  9. “Cent vingt ans de sociologie maghrébienne,” Annales3, 1946.
  10. G.F. Marçais,La Berbérie musulmane et l'Orient au Moyen-Age, Paris 1946.
  11. Julien, History, p. 73.
  12. E.F. Gautier, Le Passé de l'Afrique du Nord, Paris 1937, pp. 72, 374.
  13. E.F. Gautier, Histoire et historiens de l'Algérie, Paris 1930, p. 31.
  14. Ele faz uma distinção entre os berberes falantes de sanhaja e os falantes de zanata, e afirma que os primeiros eram sedentários, enquanto os últimos eram nômades aliados dos árabes. Esta teoria é extremamente esquemática e não há relação entre as características étnicas e linguísticas de um grupo e seu modo de vida. Muitos pastores berberes falavam zanata, mas também o faziam grupos sedentários como os habitantes das montanhas dos Orés. Mas os cabilas sedentários e os pastores nômades do Atlas falavam sanhaja.
  15. R. Brunschwig, La Berbérie occidentale sous les Hafsides, Paris 1940, Vol.2, p. 421.
  16. R. Brunschwig, Les Arabes en Berbérie, p. l69.
  17. C.A. Julien, History, p. 73.
  18. HistoireVol. 1, p. 7. Emphasis added.
  19. Uma tribo pertencente à confederação de Beni Hilal.
  20. O governante zirida de Ifriqiyah, então em guerra com os hamádidas.
  21. Antigo governador da parte oriental de Ifriqiyah, que era, agora, independente, e fundador da dinastia hamádida. Sua capital era, inicialmente, o Qalat dos Beni Hammad, mas foi movida posteriormente para Bugia.
  22. Histoire Vol. 1, p. 34.
  23. Histoire Vol. 1, p. 29. Ênfase adicionada.
  24. O governante de Tlemcen, em nome de quem Ibn Khaldun recrutou mercenários.
  25. HistoireVol.3, p. 454.
  26. Para a aplicação desta política na Argélia, veja C.R. Ageron, “La France a-t-elle eu une politique kabyle?,” Revue historique, 1960.
  27. Saint Augustin, Paris 1913; Autour de Saint Augustin, Sanguis martyrum, Paris 1918; Les Villes d'or, Paris 1921.
  28. E.F. Gautier, Le Passé de l'Afrique du Nord, Paris 1937, p. 114.
  29. Ibid., p. 92.
  30. Ibid., p. 25.
  31. Ibid., p. 24.
  32. Ibid., pp. 9, 24.
  33. Ibid., pp. 95-101.
  34. Ibid, p. 102.
  35. E.F. Gautier, Moeurs et Coutumes des Musulmans, Paris 1931, p. 722.
  36. E.F. Gautier, Le Passé, p. 96.
  37. Ibid., p. 272.
  38. G. Bouthoul, Ibn Khaldun, sa philosophie sociale, Paris 1930, pp. 50-51.
  39. Julien et Courtois, Histoire de l'Afrique du Nord des origines à la conquête, Paris 1951, p. 48.
  40. Cf. a declaração feita à Comissão de Inquérito do Senado em 1891 por Camille Sabatier, “administrador” e um dos “teóricos” da política em relação aos cabilas: “Divide et ut imperes? (Dividir e Conquistar?) E por que não? Por que não prevenir que os cabilas e os árabes se unam? A única coisa contra a qual eles poderiam se unir é a França!”