Genocídio em Gaza: Israel está enlouquecendo?
Autor: David Hirst 19/11/2024“Pois foi o próprio Senhor que lhes endureceu o coração para guerrearem [os cananeus] contra Israel, a fim de que fossem destruídos [por Israel], sem misericórdia, conforme o Senhor tinha ordenado a Moisés.”
Bezalel Smotrich, ministro das Finanças e – em tudo, exceto no título formal – governador da Cisjordânia, frequentemente citava este versículo do Livro de Josué para ilustrar o que ele chamava de seu plano de “decisão” ou “subjugação” para a Judeia e Samaria, nome bíblico desse território.
Bem como Josué tinha alertado os cananeus sobre o que lhes ocorreria caso se opusessem a ele, Smotrich explicou que agora advertia os palestinos sobre as implicações do seu plano. Eles enfrentariam três opções: permaneceriam como "residentes estrangeiros" com "status inferior de acordo com a [antiga] lei judaica"; emigrariam ou resistiriam.
Se escolhessem a terceira opção, afirmou, as "forças de defesa de Israel" saberiam o que fazer. E o que seria isso? "Matar aqueles que precisarem ser mortos". Mas famílias inteiras, mulheres e crianças? Ele respondeu: "Na guerra, como em qualquer guerra".
Os ataques de retaliação de colonos israelenses contra comunidades palestinas na Cisjordânia – arrancando suas oliveiras centenárias, roubando seu gado, envenenando seus poços e similares – vinham aumentando constantemente ao longo dos anos. Contudo, nos dois primeiros meses do ministério deste político ultranacionalista, "sionista religioso", esses ataques deram um salto significativo, tanto em qualidade quanto em quantidade.
Em meados de fevereiro do ano passado, cerca de 400 colonos acompanhados por soldados regulares supostamente em papel disciplinar percorreram Huwwara – uma cidade com cerca de 7 mil habitantes – em um tumulto desenfreado e sem resistência. Atearam fogo a 75 casas, incendiaram quase 100 veículos e, dentre outras crueldades arbitrárias, mataram ou espancaram até à morte os animais de estimação das famílias – gatos e cachorros – na frente das crianças, parando apenas pelo tempo suficiente para recitação do Maariv, a oração judaica noturna, enquanto prosseguiam.
“Foi uma Noite dos Cristais”, murmurou um jovem recruta atordoado que, contra sua vontade, testemunhou tudo, referindo-se ao pogrom nazista de novembro de 1938.
Um colunista israelense, Nahum Barne, escrevendo ao Ynet, chegou à mesma conclusão: “A Noite dos Cristais foi revivida em Huwwara”, afirmou.
Smotrich não ordenou o ataque, mas a inesperada ascensão de seu defensor ao alto escalão do governo encorajou seus seguidores a realizá-lo. Tão logo o ataque terminou, ele o aplaudiu entusiasticamente – exceto por um ponto, especialmente sobre o procedimento. “Sim”, afirmou, “eu acho que Huwwara deveria ser apagada, mas o estado – Deus me livre – e não os cidadãos privados, deve fazê-lo”. E – prosseguiu – ele convocaria, no devido tempo, as "Forças de Defesa de Israel" para "atingir cidades palestinas com tanques e helicópteros – sem misericórdia e de maneira que deixasse claro que o dono da terra enlouqueceu”.
Para muitos, o caos em Huwwara parecia um prenúncio do plano de Smotrich; e para ninguém mais, pode-se imaginar, do que para o historiador Daniel Blatman. Observando que Smotrich estava se moldando a partir de Josué, o genocida da antiguidade, Blatman sugeriu um candidato mais apropriado e contemporâneo para tal honra: Heinrich Himmler, principal arquiteto do Holocausto.
FRANJAS LUNÁTICAS
Em grande parte do mundo, comparar israelenses – ou judeus em geral – a nazistas é um tabu, proibido, considerado antissemitismo em sua forma mais vil.
Presumivelmente, é por isso que a renomada socióloga franco-israelense Eva Illouz* considera tão "irônico" o fato de que cidadãos do "estado judeu" façam paralelos hitlerianos em seu discurso cotidiano "como nenhuma outra sociedade ousaria".
Em outras palavras, para ser mais direto, os israelenses constantemente chamam uns aos outros de nazistas de forma direta ou, mais comumente, condenam o que consideram comportamentos semelhantes aos dos nazistas.
Tome como exemplo Itamar Ben Gvir, líder do partido de extrema-direita “Poder Judeu”, no gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Ele começou sua chamada “carreira política” como um simples delinquente de rua em Jerusalém e, desde então, foi indiciado cerca de 50 vezes e condenado oito vezes por acusações como incitação, racismo e apoio a uma organização terrorista.
Ele alcançou algo próximo da notoriedade nacional em 2015, quando um vídeo dele em um casamento de colonos se tornou viral. No vídeo, jovens convidados do sexo masculino realizavam um ritual de esfaqueamento da foto de um bebê árabe, Saad Dawabsha, que um de seus camaradas havia queimado vivo em um ataque incendiário – “em nome do Messias” – em uma casa na adormecida vila de Duma, na Cisjordânia.
Ben Gvir os exaltou como “doces crianças”, “sal da terra”, e o “melhor do sionismo”.
Apesar de seu súbito estrelato, na mente do público – pelo menos – ele continuou, como Smotrich, preso aos limites da política lunática israelense.
Até mesmo Netanyahu, que nunca foi um liberal ou um esquerdista, persistiu em evitá-lo como a peste – até que, em seu desespero absoluto para formar um governo, decidiu que a única maneira de fazê-lo era não apenas convidar a dupla a participar, mas também submeter-se às suas condições extorsivas para que aceitassem.
Smotrich exigiu o contrle da Cisjordânia, anteriormente uma prerrogativa do exército, enquanto Ben Gvir estipulou a criação de um novo Ministério da “Segurança Nacional”. Sob seus auspícios, além de controlar a polícia regular, ele criaria uma guarda nacional sob seu comando exclusivo.
Tão logo começou a implementar esse plano, alguns que conheciam a história da Alemanha Nazista – e entre os quais, provavelmente, há mais per capita em Israel do que em qualquer outro lugar, exceto na própria Alemanha – começaram a chamá-la de Sturmabteilung ou Camisas Pardas, a vasta e brutal organização paramilitar na qual Hitler confiou durante sua ascensão ao poder e – até ser substituída pela ainda mais cruel Schutzstaffel (SS) – durante seu subsequente regime ditatorial.
A primeira nomeação de Ben Gvir – a de seu chefe de gabinete – fez pouco para dissipar essas apreensões. Chanamel Dorfman, agora um "maduro" jovem de 27 anos, havia sido um dos "doces meninos", além de noivo e principal esfaqueador no "casamento do ódio", como o evento ficou conhecido. Em uma de suas primeiras declarações públicas após assumir o cargo, Dorfman disse a seus detratores que seu "único problema com os nazistas" seria estar "no lado perdedor deles".
EVENTO “NEONAZISTA”
Ao longo de grande parte de 2023, e até 7 de outubro, quando o ataque do Hamas ao sul de Israel interrompeu abruptamente a situação, Israel estava mergulhado em uma turbulência crescente devido aos planos de Benjamin Netanyahu para as chamadas "reformas judaicas".
Um dos participantes, o historiador Yuval Noah Harari, em uma manifestações contra as reformas e pró-democracia, relatou como ficou impressionado com uma música que manifestantes pró-reformas e pró-regime estavam cantando nas proximidades.
Ele disse que a melodia era tão "cativante" que quase começou a cantarolar sozinho – até que, ao procurá-la no YouTube, onde acumulava milhares de visualizações, descobriu, com repulsa, que a letra dizia o seguinte:
“Quem está em chamas agora? Huwwara!
Casas e Carros! Huwwara!
Estão evacuando velhas, mulheres e meninas; está queimando a noite toda! Huwwara!
Queimem seus caminhões! Huwwara!
Queimem suas estraas e carros! Huwwara!”
Embora não fosse tão completamente vil quanto a canção “Quando o sangue judeu respinga na faca...”, que os Einsatzgruppen (Esquadrões da Morte da SS) costumavam cantar – e à qual um comentarista israelense a comparou – também não era muito diferente em espírito.
Outro símbolo do fascismo, segundo críticos, é a Marcha das Bandeiras anual, que celebra a captura de Jerusalém na Guerra Árabe-Israelense de 1967.
Ativistas israelenses de direita cercam o jornalista palestino freelancer Saif Kwasmi em 5 de junho de 2024, durante a chamada Marcha das Bandeiras no Dia de Jerusalém (Hazem Bader/AFP).
É um festival de pompa triunfalista e beligerante no qual os jovens do país, principalmente colonos, desfilam pelo antigo coração árabe da cidade. Enquanto forçam sua passagem pelos becos estreitos, ao som de cantos extasiados como “morte aos árabes” ou “que suas aldeias queimem”, ameaçam, xingam e cospem em qualquer palestino azarado ou imprudente o suficiente para cruzar seu caminho; às vezes, até os derrubam no chão para espanca-los e chutá-los à vontade. Ocasionalmente, até jornalistas ou fotógrafos judeus sofrem o mesmo destino.
Um evento “neonazista”, escreveu o jornalista Gideon Levy no Haaretz, com “uma semelhança grande demais com aquelas imagens de judeus na Europa sendo espancados na véspera do Holocausto”.
Então, onde este “judeonazismo” era mais pernicioso – e perigoso? Perigoso, é claro – e, de forma mais imediata, óbvia e drástica – para os alvos principais: os palestinos. Mas, no fim das contas, como o tempo mostraria, também para o próprio Estado de Israel.
Fisicamente e operacionalmente, se manifestava principalmente na Cisjordânia; sendo ali, de forma célebre e profética, onde o falecido professor Yeshayahu Leibowitz, um filósofo muito admirado, identificou pela primeira vez o fenômeno e lhe deu esse nome.
Moral e emocionalmente, o fenômeno residia nos corações e mentes de figuras como Ben Gvir e Smotrich, dos colonos religiosos e de seus inúmeros colaboradores no governo, no exército e no público em geral; a maioria deles também religiosa, mas alguns eram ultranacionalistas seculares que compartilhavam suas ambições grandiosas, embora não sua fé.
Manifestantes se reúnem com bandeiras de Israel durante a chamada Marcha das Bandeiras do Dia de Jerusalém, em frente ao Portão de Damasco da cidade antiga, em 29 de maio de 2022 (Gil Cohen-Magen/AFP).
O fenômeno surgiu pela primeira vez após a Guerra Árabe-Israelense de 1967. Aqui está o porquê.
O sionismo, ao menos superficialmente, era uma crença fortemente secular, até mesmo anticlerical. Para os rabinos da diáspora, ou para a maioria deles, era uma aberração, um pecado, até mesmo uma “rebelião contra Deus”.
Mas em Israel-Palestina, um movimento que defendia a interpretação totalmente religiosa do sionismo vinha ganhando terreno constantemente. Tratava-se de um movimento radical e revolucionário, com aspirações para o “Estado Judeu” que ultrapassavam as dos secularistas.
No domínio territorial, de importância crucial, por exemplo, este estado deveria abranger toda a Eretz Israel, ou Terra de Israel, conforme prometido por Deus em sua aliança com Abraão e seus descendentes. No mínimo, os sábios ao longo dos séculos haviam determinado que a Eretz Israel incluía a Judeia e Samaria (Cisjordânia) e Gaza, bem como vastas áreas do que hoje são o Líbano, a Síria e a Jordânia.
MENSAGEM DE DEUS
Para estes sionistas religiosos, a histórica vitória de Israel na Guerra dos Seis Dias de 1967, milagrosa em seus olhos, foi vista como uma “mensagem de Deus”: avancem, conquistem e colonizem esses espaços sagrados recém-tomados, onde outrora se ergueram os reinos judaicos da antiguidade.
Diversas tarefas se colocaram diante deles nesse caminho para a “redenção” e para a vinda do Messias. Talvez a mais desafiadora, para não dizer apocalíptica, fosse a reconstrução do antigo templo judaico no lugar onde hoje estão o Domo da Rocha e as mesquitas de al-Aqsa. Porém, por ora, o assentamento na terra se tornava a tarefa mais imediatamente viável.
No entanto, esse caminho para a redenção corria o risco de se tornar o caminho de Israel para a ruína. Pelo menos foi o que argumentou Moshe Zimmermann, um estudioso da história alemã, atualmente envolvido em um projeto de pesquisa sobre o tema “Nações que Enlouquecem”. A Alemanha, disse ele, enlouqueceu em 1933 com ascensão de Hitler; Israel “começou” a fazê-lo após a guerra de 1967, com exatamente esse assentamento na Cisjordânia e em Gaza como a principal manifestação disso.
Pois esse era um projeto “judeonazista” por excelência, liderado por essa nova e historicamente militante classe de clérigos, os convertidos ao sionismo. Imersos em sua recém-criada “teologia da violência e vingança”, justificavam praticamente qualquer coisa que pudesse avançar a agora sagrada causa.
Entre eles, destacava-se o próprio mentor espiritual de Ben Gvir, o rabino Dov Lior, que certa vez, de forma célere – ou infame – afirmou sobre o médico israelo-americano Baruch Goldstein, que em 1994 metralhou e matou 29 fieis na Mesquita Ibrahimi, em Hebron, que ele era um “mártir mais santo que todos os santos mártires do Holocausto”.
Para Zimmermann, a “história dos assentamentos” era a história de um “romantismo bíblico” que estava “arrastando toda a sociedade para a perdição”; e a única maneira “lógica” de detê-lo era a “solução de dois estados” para o conflito árabe-israelense, com a retirada total de Israel dos territórios ocupados que isso exigiria.
“A alternativa seria ou nós cometermos um ato semelhante ao dos nazistas contra os palestinos, ou os palestinos cometerem um ato semelhante ao dos nazistas contra nós”, afirmou ele.
Um aviso verdadeiramente profético: pois eles – e o mundo – acabaram enfrentando ambos.
O Ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, junta-se a ativistas de direita em um comício no Portão de Damasco, em Jerusalém, durante a chamada Marcha das Bandeiras do Dia de Jerusalém, em 5 de junho de 2024 (AFP).
O ataque de 7 de outubro foi o 11 de setembro de Israel, uma demonstração terrorista de força tão surpreendente, tão brilhante [ou quase] em execução, tão assassina em intenção e tão catastrófica em consequências quanto os aviões sequestrados por Osama bin Laden colidindo com as Torres Gêmeas de Nova Iorque em 11 de setembro de 2001.
Sem dúvida, a vingança foi um importante motivo por trás do “ato nazista” do Hamas. Mas os ataques também representaram algo mais: uma demonstração espetacular da “resistência” e da “luta armada”, que o grupo considera ser a única, ou principal, rota para a “libertação” – um objetivo que, pelo menos oficialmente, continua a ser definido como a recuperação de toda a Palestina, incluindo a parte que hoje é o Estado de Israel.
Quanto ao “ato nazista” de Israel, também foi movido pela vingança, mas de uma escala, duração e ferocidade que acabaram por tornar os atos do Hamas quase insignificantes em comparação.
OS OBJETIVOS MUTANTES DE ISRAEL
Enquanto isso, o objetivo oficial de Israel – a destruição de “uma organização terrorista” – estava se transformando, não oficialmente, mas de forma efetiva, em algo completamente diferente. Na verdade, em nada menos do que mais um grande avanço no plano divino para o povo escolhido: o domínio judaico total sobre toda a Palestina, do rio ao mar, a erradicação ou redução ao mínimo de qualquer presença árabe nesse território e, por fim, a transformação do atual Estado de Israel, autointitulado “judeu e democrático” em um estado “judeu e haláquico” (teocrático), governado – caso Smotrich tenha sua vontade realizada – pelas leis do tempo do Rei Davi.
Pelo menos é assim que os sionistas religiosos percebem a guerra que já dura um ano – a mais longa e sangrenta de Israel desde 1948 e a Nakba palestina – e eles estavam celebrando-a.
Para eles, conforme proclamam seus rabinos e outras figuras influentes, estes são tempos “maravilhosos”, ou melhor, “milagrosos”, e uma nova prova – pois haviam dúvidas desde a retirada altamente polêmica de Israel de Gaza em 2005 – de que Deus permanece tão empenhado quanto nunca em sua “redenção” e ordenando-lhes que retornem àquele território.
E, três meses após o início da guerra, em uma chamada Conferência pela Vitória de Israel, descrita como “alegre”, eles e uma série de ministros e membros do Knesset presentes se comprometeram – em meio a cantos e danças – a fazê-lo, preferencialmente em conjunto com a “emigração”, “voluntária” ou forçada, de toda a população palestina da Faixa de Gaza. Mas, até que isso aconteça, sem ela.
Enquanto isso, soldados religiosos, sentindo que “algo maravilhoso” estava acontecendo, já estavam montando sinagogas improvisadas em partes “libertadas” da Faixa de Gaza.
Na Cisjordânia, Smotrich estava avançando com seus massivos novos projetos de assentamentos, em meio a um aumento de mini-Huwwaras, forçando ainda mais palestinos a abandonarem suas terras e vilas ancestrais.
Com a guerra em larga escala contra o Líbano em andamento, surgiam conversas entusiasmadas sobre ocupar e colonizar o sul do Líbano, que também foi, supostamente, parte da Eretz Israel, estendendo-se até o rio Litani, a “fronteira natural” entre os dois países.
Tempos gloriosos, então, eram estes para alguns israelenses; particularmente, é claro, para essa minoria fanática de extrema-direita cujos líderes, com Netanyahu em suas mãos, estavam agora, em boa parte, dirigindo o país.
Para outros, entre a parcela mais racional, secular ou moderadamente religiosa – e agora em diminuição – da população, estes tempos começavam a parecer mais como tempos de loucura, a consumação – como um deles colocou – daquela “marcha da insensatez” que começou no rescaldo da guerra de 1967. E algo era bastante marcante: “esquerda” ou “direita”, “religioso” ou “secular”, “rico” ou “pobre” são termos habituais do discurso político em qualquer lugar, mas na Israel de hoje, “são” ou “insano” estava se tornando uma nova e dominante linha divisória.
Então, quando tudo estiver dito e feito, essa loucura israelense acabará por se equiparar àquela que levou à queda da Alemanha de Hitler, como sugere Zimmermann? Seja o que for que aconteça, duvido que futuros historiadores encontrem muitos motivos para discordar dele nesse aspecto.
Curiosamente, entretanto, um historiador contemporâneo – ninguém menos que o próprio Yuval Harari, tão chocado por aquelas canções de teor nazista – aponta para outra analogia histórica, que, ao que me parece, é ainda mais apropriada e, além disso, puramente judaica: a dos zelotes e helenistas.
No meio do primeiro século d.C., os zelotes eram, por assim dizer, os sionistas religiosos de seu tempo. Fanáticos de um tipo verdadeiramente maníaco e assassino, estavam constantemente em conflito com os helenistas, aqueles de seus compatriotas que, influenciados pelo ethos helênico dominante naquela era e lugar, aparentemente haviam decidido que havia mais na vida do que a servidão severa e desumanamente exigente ao Todo-Poderoso.
Era uma divisão fundamental na sociedade – não muito diferente da que está se formando em Israel hoje – e um fator crítico que contribuiu para a calamidade final: a conquista romana, a destruição do Templo e a dispersão definitiva do povo judeu em seu “exílio” por séculos a fio.
E Hariri está longe de ser o único a fazer tais melancólicas reflexões.
* Não posso garantir a precisão literal de 100% desta citação; fiz uma anotação dela há dois anos, mas desde então não consegui encontrá-la novamente.
Texto original: Gaza genocide: Is Israel going mad? | Middle East Eye