Tanto “Romeu e Julieta’ quanto “Leila e Majnun” são renomadas histórias de amor que compartilham elementos em comum, cada uma à sua própria forma. Observaremos, aqui, as diferenças e as similaridades.

As relações osciais mudaram consideravelmente através do processo de modernização, particularmente através da digitalização, impactando significativamente o modo como são expressadas as emoções humanas. O amor toma a dianteira dessas emoções. Oss significado e as expressões do amor diferem de tempos em tempos, em crenças e condições sociais. Vemos, da mesma forma, diferenças e similaridades no conto de duas das maiores histórias de amor do mundo, “Romeu e Julieta” e “Leila e Majnun”.

Essas duas histórias, que são reflexos do amor no Ocidente e no Ocidente, são como dois rios cuja nascente é a mesma, apesar de seguirem seu curso em diferentes regiões. As regiões em que estes rios correm são a pátria de diferentes culturas e geografias, mas o que elas têm em comum também é algo digno de nota.

Seria Romeu, na verdade, Majnun?

Ambas as histórias contam verdade humanas interpretadas pelos escritores e entregues a nós. As similaridades entre estas histórias levou a pesquisadores a examinarem se há alguma conexão intertextual entre ambas. O historiador literário Agah Sırrı Levend, na sua pesquisa à “Leila e Majnun”, constata que estas histórias de amor orientais podem ter entrado na literatura ocidental durante o período das Cruzadas.

Ele argumenta que a história de “Leila e Majnun” é a fonte de grandes clássicos literários como “Aucassin et Nicolette” e Tristan et Yselt (“Tristão e Isolda”) na literatura francesa e “Floire et Blanchefor” na húngara, assim como “Romeo and Juliet” (Romeu e Julieta) na inglesa.

“Leila e Majnun” é uma história folclórica anônima contada entre árabes. A mais antiga e holística versão da história foi escrita em persa pelo poeta azeri Nizami Ganjavi numa forma conhecida como mathnawi, um poema baseado em linhas inter-rítmicas, porém independentes. Para os povos do Leste, mathnawis eram uma forma de interpretar os pensamentos e emoções no tangente ào amor.

A história ficou destacado no hall de trabalhos dos poetas orientais da época com sua temática e história. Esses poetas, que escreveram incontáveis poemas de temática amorosa, competiam uns com os outros para tentar capturar e extrair a essência da história. Um número considerável de contos “Leila e Majnun” foram escritos em vero no Oriente, particularmente em árabe, persa e turco.

Uma dessas mais bem-sucedidas histórias foi escrito pelo poeta turco-azeri Fuzuli. Ainda que Fuzuli use a história de Ganjavi como base, ele a intepreta de seu próprio modo particular, motivo esse pelo qual se pensa neste autor quando “Leila e Majnun” é mencionada na literatura turca.

Ao mesmo tempo, há ainda outros trabalhos que precedem “Romeu e Julieta” de William Shakespeare. A peça toma sua temática do poema “The Tragic Story of Romeus and Juliet” (“A Trágica História de Romeu e Julieta”), de Artur Brooke, publicado em 1562.

A trágica história de jovens amantes de famílias nobres foi pesadamente estudada durante a Renascença italiana.Muitos poemas, histórias e peças teatrais foram escritas com essa temática na Itália dentre os séculos XV E XVI, algumas das quais foram traduzidas para o inglês.

A história de Romeu e Julieta apresentada contextualmente como uma peça teatral ajuda a libertar verdades emocionais e sentimentos ocidentais da época enquanto captura a imaginação da audiência. Os trabalhos mais importantes de Shakespeare são suas tragédias, onde usa o poder da poesia como um elemento de narrativa.

Shakespeare construiu seu trabalho na inspiração que recebeu de artistas bem-sucedidos que o precederam, inicialmente escrevendo peças mais ‘violentas’. Após “Titus Andronicus”, que conta com cenas sangrentas, ele escreve Romeu e Julieta – um inesperado sucesso à época.

Primeiro encontro, famílias e obstáculos

Leila e Majnun e Romeu e Julieta começam com as vidas de seus personagens masculinos. Somos apresentados ao personagem Majnun em seu nascimento, enquanto conhecemos Romeu em um ponto mais tardio de sua vida, mas seu estado psicológico e experiências pessoais são narrados.

A mais importante reviravolta de qualquer conto amoroso é o momento em que os amantes encontram-se pela primeira vez, com ambos os escritores nos relatando este momento de uma maneira apoteótica.

Antes do primeiro encontro, Fuzuli revela que esta história não é uma daquelas em que os protagonistas são meros amantes ‘de celeiro’, que atraem a atenção do leitor pela sua ingenuidade. Majnun, o único filho de seu pai, conhece Leila quando entra para a escola.

Em comparação, Romeu e Julieta primeiro se conhecem num baile, caindo em amor à primeira vista. Ambas as situações são de amantes tomados com um puro e inocente amor e ambos terão de enfrentar obstáculosque lhes serão colocados no caminho dos dois pela sociedade e pela família.

O amor de Leila por Majnun e seus encontros causam rumores, e assim que sua mãe toma conhecimento das fofocas, ela retira Leila da escola. Do mesmo modo, Romeu e Julieta também vêm de famílias problemáticas. A comunidade onde eles estão inseridos não os apoia em seu amor, forçando os casais a confrontarem e brigarem com suas famílias.

Majnun torna-se profundamente letárgico quando não está com Leila, ao que seu pai aproxima-se da família de Leila para perguntar se ambos podem ficar juntos novamente. O pai de Leila concorda, desde que Majnun consiga retornar de sua depressão. Majnun não consegue sair da situação em que se encontra, e, ao final, os amantes não se reúnem novamente.

Romeu e Julieta se encontram e se casam numa igreja, em segredo. Contudo, eles só conseguem ficar juntos por uma noite. Um duelo entre ambas as famílias alimenta as hostilidades novamente, e Romeu é achado em culpa de acidentalmente matar o parente de Julieta, Tybalt (Tebaldo).

Amante e rival

Separação e exílio em ambas as histórias contribuem impulsivamente para a impulssividade do amor dos personagens – que é um estado de afeição intensificado. Em ordem para que essa intensificação ocorra, a separação é necessária.

Majnun acaba no deserto enquanto sofre as dores do amor, vivendo uma vida de exílio já que não pode retornar para Leila. Seu amor ´por ela torna-se ainda maior a cada dia que se passa, com ele contando para os animais, montanhas e vales de seu amor por ela, vendo-a em tudo.

De maneira similar, Romeu é banido como penalidade por seu crime, forçado, assim, a deixar seu amor. Ele não quer sair do lado de Julieta, e a forçosidade de fazê-lo apenas alimentaria a paixão.

Em ambas as histórias, rivais aparecem quando os amantes estão separados de seus amados e tomados pelo pensamento de seu amante com outro, Majun e Romeu são enfrentados por Ibn Salam e Paris, respectivamente.

Em ambas as histórias, as personagens femininas são leais a seus amores. Mesmo quando outros vão atrás das mulheres, elas permanecem fiéis a seus parceiros até o fim. Como resultado, nenhuma das duas histórias tem um final feliz. Em ambos os cenários, após receberem as notícias da morte de seus parceiros, aos amantes não suportam mais viver. Se não podem viver juntos, esperam reunir-se novamente na morte.

Verdade e alegoria

Ainda que ambas as histórias tenham aspectos e paralelos, elas também têm óbvias diferenças. Shakespeare nos entrega uma história de um amor trágico de um ponto de vista ocidental, enquanto os poetas orientais, como Fuzuli, transformam o amor humano em amor divino.

Há muitas alegorias e símbolos sufis na história de Leila e Majnun. Por exemplo, a representação dos personagens rivais, que constituem os empecilhos que podem distrair a pessoa de sua relação com Deus, sejam eles o demônio, uma má companhia ou os males mundanos.

Através do amor, Leila e Majnun renunciam a si mesmos e tornam-se um. O fato de Majnun ver a Leila em tudo implica que a fonte de sua beleza está nele e que tudo que é belo é um reflexo da única verdadeira beleza: Deus.

Fonte: dailysabah.com