Após o fim do expansionismo mongol no Mundo Islâmico do século XIII, interrompido na Batalha de Ain Jalut, em 1260, os conquistadores das estepes passaram a aculturar-se com seus novos súditos, e criar uma cultura mista, num caldo de influencias de povos tão diversos e distantes quando sírios e chineses.

Na porção mais oriental do Império Mongol, o grande Kublai Khan (1215-1294), grão-cã e primeiro imperador da dinastia Yuan na China, buscava agora estabelecer uma nova capital e corte mais sinizada.

Era costume dos mongóis, desde sua gênese imperial, incorporar a seu serviço povos muçulmanos. Huis, uigures, cazaques, árabes e persas lotavam as cortes dos vários cãs, geralmente em altas posições, como conselheiros e parte da administração burocrática do estado.

Na escolha de Kublai para o construtor da nova capital do maior império da terra, em 1264, não seria diferente. Seu nome era Yeheidie’erding (Amir al-Din ou Ikhtiyar al-Din ), um engenheiro muçulmano, provavelmente da etnia hui.

Reconstrução artística da Dadu medieval, futura Pequim, no ano de sua conclusão em 1293.

Baseando-se nas diretrizes rituais do conselheiro real, Liu Bingzhong, o engenheiro Yeheidie’erding projetou a cidade seguindo a tradição confucionista zhouli, mesclando a arquitetura tradicional han chinesa com outras influências, executando pessoalmente todo o projeto, e entrando para a história como construtor da futura Pequim.

Passando por várias fases de construção, a cidade foi concluída em 1293, e era magnífica. Nomeada Dadu ou “Khanbaliq”, ela era cortada por lagos, canais e jardins ricamente adornados. Seus imensos mercados, que agora estabeleciam mais um ponto importante na Rota da Seda, atraiam visitantes do mundo inteiro, como o famoso viajante italiano Marco Polo, que segundo alguns relatos, chegou à corte de Kublai em 1271.

Monumento em homenagem a Yeheidie’erding no centro de Pequim, China.

Locais de culto de todas as religiões ornavam Dadu, de igrejas cristãs a templos budistas e mesquitas, algumas delas estabelecidas sob ordem do próprio cã, como uma forma de prestigiar seus tão pródigos súditos muçulmanos.

Seus vibrantes bairros milimetricamente planejados eram cortados por pontes decoradas, que facilitavam a circulação dos cidadãos por entre as ilhas e canais. Mas, talvez, o ponto mais magnífico do complexo metropolitano seria o Palácio do Cã, projetado para habitação do governante mais poderoso da terra, e sobre cujas estruturas seria futuramente construída a famosa Cidade Proibida.

Quanto à Yeheidie’erding, não se sabe mais detalhes de sua vida, apenas que veio a falecer em 1312, deixando um imenso legado na história chinesa. Em 1368, algumas décadas depois, com o declínio da dinastia Yuan, as forças da dinastia Ming, lideradas por Zhu Yuanzhang, invadiram Dadu, nomeando-a, posteriormente, “Beijing” (Pequim), fazendo dela sua nova capital, que permanece até hoje como capital da China.

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