Em nosso artigo anterior, discutimos o período inicial da história islâmica, conhecida como Califado Rashidun, no qual, após a morte do Profeta Muhammad, teve quatro diferentes califas, Abu Bakr, Omar, Osman e Ali.

Neste artigo, iremos analisar o período de transição entre o califado de Ali e o início da Dinastia Omíada, que iria unificar o mundo muçulmano até o ano de 750, sendo o primeiro governo islâmico monárquico hereditário, dando fim ao conselho de eleição democrática dos primeiros califas.

“Os Companheiros do Profeta juram fidelidade a Ali”, representado numa miniatura do século XVI.

Os conflitos após a morte de Osman

Após o assassinato do terceiro califa, Osman Ibn Affan, no encerramento do cerco a sua casa em Medina, a eleição de um novo califa encontrou dificuldades. Os rebeldes, compreendendo os muçulmanos de Meca, medinenses, egípcios, iraquianos e os khawarij, estavam divididos entre três candidatos: Ali, Talhah e Al-Zubayr, tendo estes três recusado inicialmente o posto, criando um grande impasse.

Diante da situação, os revoltosos ameaçaram que, a menos que o povo de Medina escolhesse um califa dentro de um dia, eles seriam forçados a tomar algumas medidas drásticas. A fim de resolver o impasse, todos os muçulmanos se reuniram na Mesquita do Profeta, em 18 de junho de 656, para escolher o novo califa. Ali continuava a recusar o califado pelo fato de que as pessoas que mais o pressionaram foram os rebeldes.

Quando os notáveis ​​companheiros do Profeta Muhammad, assim como a aclamação do povo de Medina, insistiram, ele finalmente concordou. Inicialmente, Ali encontrou uma certa indiferença por parte dos Banu Mamayyah (os Omíadas), que ainda se ressentiam pela morte de seu mais importante membro, Osman. Muitos deles deixaram Medina e partiram para a Síria, ainda base de Mu’awiyah, primo de Osman.

No início de seu califado, Ali advertiu aos muçulmanos que a política islâmica tomaria o rumo da justiça, e que as discórdias deveriam cessar para a prosperidade da crescente comunidade.

Porém, o califa estava ameaçado por facções rebeldes que tinham suas próprias agendas, dentre elas, nenhuma retaliação pela morte de Osman, e alguns dos maiores companheiros do Profeta, que desejavam que os assassinos fossem mortos. Qualquer atitude tomada por Ali levaria ao confronto civil.

Mesmo diante desta situação delicada, Ali agiu de forma sábia. Primeiro, começou demitindo os governadores nomeados por Osman, substituindo-os com assessores de sua confiança, o que, em parte, aumentou ainda mais a desavença com o clã dos Omíadas.

Ali fez diversas reformas agrárias, se opunha à centralização do controle de capital sobre as receitas provinciais e favorecia uma distribuição igualitária de impostos e butim entre os muçulmanos. Porém, o conflito era inevitável.

Ali Ibn Abi Talib e seu Conselho. Miniatura de ”O Jardim dos Praseres” de Fazuli

Entre os anos de 656 e 661, os muçulmanos viram surgir sua primeira guerra civil, que seria conhecida como a “Primeira Fitna”. Mu’awiyah, o governador da Síria, queria que os assassinos de Osman pagassem pelos seus crimes. No Iraque, muitas pessoas odiavam os sírios, talvez pela ainda existente rixa entre árabes lácmidas e gassânidas, que se digladiaram por décadas como vassalos dos persas e bizantinos.

Alguns dos apoiadores de Ali também eram muito extremos em seus pontos de vista e consideravam todos como seus inimigos. Eles também sentiram que, se houvesse paz, seriam presos pelo assassinato de Osman, devido ao apoio dado a rebelião. Muitos deles acabaram por se juntar aos khawarij, que, por ventura, viriam a matar o próprio Ali.

Aisha, a viúva do Profeta Muhammad, Talhah ibn Ubayd-Allah e Zubayr ibn al-Awam foram a Basra pedir a Ali que prendesse os assassinos de Osman, em vez de lutar contra Mu’awiyah.

Alguns chefes das tribos Kufa contataram suas tribos vivendo em Basra. Um chefe contactou Ali para resolver o problema, porém, Ali não queria lutar e ele concordou. Então, contatou Aisha e ela concordou em resolver o assunto. Ali, então, se encontrou com Talha e Zubair e ambos deixaram o campo.

No entanto, dentre os apoiadores de Ali, os Qurra e os Sabaitas estavam insatisfeitos com o acordo e lançaram um ataque noturno. Ali tentou conter seus homens, mas ninguém lhe deu ouvidos, pois todos pensavam que a outra parte tinha violado o tratado. A confusão prevaleceu durante a noite. Qazi K’ab de Basra aconselhou Aisha a montar seu camelo para dizer às pessoas que parassem de lutar.

O primo de Ali, Zubair, estava a caminho de Medina quando foi morto em um vale adjacente por um sabaita chamado Amr ibn Jarmouz, que o assassinou enquanto orava. Marwan atirou em Talhah com uma flecha envenenada, dizendo que ele havia desonrado sua tribo deixando o campo. Com os dois generais, Zubair e Talhah mortos, a confusão prevaleceu.

O irmão de Aisha, Muhammad ibn Abu Bakr, que havia participado da rebelião contra Osman, era comandante de Ali e seu filho adotivo, ele então se aproximou de sua irmã e recebeu permissão de Ali para escolta-la de volta para Medina. O filho de Ali, Hassan, também acompanhou sua parte do caminho de volta para Medina.

A Guerra contra a Síria e a oposição ao Califado de Ali

A incapacidade de Ali de punir os assassinos de Osman e a recusa de Mu’awiyah em jurar lealdade, acabaram levando Ali a levar seu exército para o norte para enfrentar Mu’awiyah. Os dois exércitos acamparam em Siffin por mais de cem dias, a maior parte do tempo sendo gasto em negociações.

Nenhum dos lados queria lutar. Então, em 29 de julho de 657, os iraquianos sob o comando de Ashtar, os Qurra do exército de Ali, que tinham seu próprio acampamento, começaram um ataque. A batalha durou três dias. A perda de vidas foi terrível.

De repente, um dos sírios, Ibn Lahiya, com medo de uma nova guerra civil e incapaz de suportar o espetáculo, avançou com uma cópia do Alcorão nas orelhas de seu cavalo para pedir julgamento pelo livro de Allah, e os outros sírios seguiram seu exemplo.

Todos em ambos os lados aceitaram, ansiosos para evitar matar seus companheiros muçulmanos, exceto os conspiradores. A maioria dos seguidores de Ali apoiava a arbitragem.

Ficou decidido que os sírios e os moradores de Kufa deveriam nomear um árbitro, cada um para decidir entre Ali e Mu’awiyah. A escolha dos sírios recaiu sobre Amr bin al-As, que era a alma racional e porta-voz de Mu’awiyah. Amr ibn al-As foi um dos generais envolvidos na expulsão dos bizantinos da Síria e também do Egito.

Ele era um negociador altamente qualificado e já havia sido usado em negociações com o imperador romano Heráclio, em impasses bélicos delicados. Ali queria que Malik Ashtar ou Abdullah bin ‘Abbas fossem apontados como árbitros para o povo de Kufa, mas os Qurra resistiram fortemente, alegando que homens como esses dois eram, de fato, responsáveis ​​pela guerra e, portanto, inelegíveis para aquele cargo.

Eles nomearam Abu Musa al-Ash’ari como seu árbitro. Ali achou conveniente concordar com essa escolha a fim de evitar disputas sangrentas em seu exército.

Dumat al-Jandal foi o local escolhido para o anúncio da decisão, já que ficava no meio do caminho entre Kufa e a Síria. Quando os árbitros se reuniram na cidade, foram organizadas uma série de reuniões diárias para discutir os assuntos em pauta.

Na hora de tomar uma decisão sobre o califado, Amr bin al-As convenceu Abu Musa al-Ashari que eles deveriam privar Ali e Mu’awiyah do califado, e dar aos muçulmanos o direito de eleger um novo califa. Abu Musa al-Ash’ari decidiu agir em conformidade.

Quando chegou a hora de anunciar o veredito, as pessoas pertencentes a ambos os partidos se reuniram. Amr bin al-As pediu a Abu Musa que assumisse a liderança ao anunciar a decisão que ele preferia. Abu Musa al-Ash’ari concordou em abrir o processo, e fora decidido que Ali deixaria de ser califa, porém, Mu’awiyah continuaria como governador da Síria.

Ali se recusou a aceitar o veredito, pois achou que havia sido enganado e acreditava que a decisão era unilateral. Isso colocou Ali em uma posição fraca, mesmo entre seus próprios apoiadores. Os adversários mais vociferantes de Ali em seu acampamento eram as mesmas pessoas que forçaram Ali a nomear seu árbitro.

Sentindo que Ali não podia mais cuidar de seus interesses, também temendo que, se houvesse paz, eles pudessem ser presos pelo assassinato de Osman, eles se separaram da força de Ali, reunindo-se sob o slogan de “a arbitragem pertence somente a Deus”.

A partir disso, nasceu a primeira seita do Islã, os Khawarij, literalmente “aqueles que saíram”, neste caso, do acampamento de Ali, ou mais simplesmente, “simáticos”.

O movimento khawarij iria se desenvolver bastante nas primeiras décadas do Islã, após a Primeira Finta, e por sua oposição política, criaram diversos novos precedentes teológicos, formando a sua própria seita.

O Profeta, Ali, Hussein e Hassan no Paraíso, juntamente com Abu Bakr, Omar e Osman. Miniatura mogol de um manuscrito do século XVII do Khavarnama, um poema sobre os feitos de Ali, Punjab, 1686.

A morte de Ali e o conflito entre Hassan e Mu’awiyah

Em 29 de janeiro de 661. enquanto Ali estava rezando na mesquita de Kufa, o kharijita Abd al-Rahman ibn Muljam o assassinou com um golpe de sua espada envenenada. Ali, por sua vez, viveu por dois dias até vir a falecer.

O califa ordenou que seus filhos não tomassem vingança contra todos os khawarij, pois o ato foi realizado por um único membro do grupo e não todos eles. Assim, mais tarde, Hassan, o filho de Ali, cumpriu a vingança, matando apenas Ibn Muljam.

Após o assassinato de Ali, seu filho, Hassan, se tornou o califa, seguindo o costume estabelecido por Abu Bakr. Assim que a notícia da seleção de Hassan chegou a Mu’awiyah, que estivera disputando com Ali sob a questão do assassinado de Osman e do próprio califado, ele condenou o acontecimento e declarou sua decisão de não reconhecê-lo.

Cartas foram trocadas entre Hassan e Mu’awiyah antes que suas tropas se enfrentassem, tentando estabelecer termos, sem sucesso. Mu’awiyah convocou todos os comandantes de suas forças no Levante, a região que se estende da Síria e do sul da Anatólia no norte, para a Palestina e a Transjordânia no sul, e começou os preparativos para a guerra.

Logo depois, ele marchou seu exército de sessenta mil homens através da Mesopotâmia para Maskin, no limite do rio Tigre em Mosul, em direção ao Sawad. Enquanto isso, ele tentou negociar com Hassan, pedindo-lhe para desistir de sua reivindicação.

Quando as notícias do exército de Mu’awiyah alcançaram Hassan, ele ordenou a seus governadores locais que se preparassem para partir, enfrentando alguma resistência daqueles que não queriam uma nova guerra com Mu’awiyah. Hassan nomeou Ubayd Allah ibn al-Abbas como o comandante de sua vanguarda de doze mil homens e os despachou para Maskin.

Ubayd Allah ibn al-Abbas foi ordenado a reter Mu’awiyah até que Hassan chegasse com o exército principal. Ele foi aconselhado a não lutar a menos que fosse atacado e que ele deveria se consultar com Qays ibn Saad, que foi apontado como segundo no comando se ele fosse morto.

Enquanto a vanguarda de Hassan aguardava sua chegada a Maskin, o próprio Hassan enfrentava um problema sério em Sabat, perto de Al-Mada’in, onde proferiu um sermão após a oração da manhã.

Hassan declarou que orava a Deus para ser o mais sincero de Sua criação à Sua criação, que ele não nutria ressentimento ou ódio contra qualquer muçulmano, nem desejava o mal a ninguém e que “o que odiavam em comunidade era melhor do que o que amavam em cisma”.

Algumas das tropas, tomando isso como um sinal de que Hassan estava se preparando para desistir da batalha, se rebelaram contra ele e saquearam sua tenda. Hassan pediu por seu cavalo e foi embora rodeado por seus partidários, que impediam aqueles que estavam tentando alcançá-lo.

Enquanto eles estavam passando por Sabat, no entanto, al-Jarrah ibn Sinan, um khawarij, conseguiu emboscar Hassan e feriu-o na coxa com um punhal. Hasan foi levado para Al-Mada’in, onde foi cuidado por seu governador, Sa’d ibn Mas’ud al-Thaqafi. A notícia desse ataque desmoralizou o já desencorajado exército de Hassan, e levou a deserção extensiva de suas tropas.

Quando Ubayd Allah com a vanguarda de Kufa ​​chegou a al-Maskin, onde Mu’awiyah já havia chegado, o último enviou um emissário para lhes dizer que ele havia recebido cartas de Hassan pedindo um armistício, o que na verdade era um estratagema, e levou a mais deserções e fortalecimento de Mu’awiyah e a sua vitória em combates pequenos nos dias seguintes.

Em meio a diversos motins e deserção de um de seus comandantes, Hassan teve de apelar por acordos. Mu’awiyah, que já havia começado as negociações com Hassan, se comprometia em uma carta a nomear Hassan como seu sucessor e dar a ele o que quisesse, se abdicasse de suas reivindicações naquele momento. Hassan aceitou a oferta em princípio, e tudo foi selado diante de testemunhas em agosto de 661.

Após o tratado de paz com Hassan, Mu’awiyah partiu com suas tropas para Kufa, onde, em uma cerimônia de rendição pública, Hassan se levantou e lembrou ao povo que ele e seu irmão Hussein eram os únicos netos do Profeta e que ele havia rendido o califado para Mu’awiyah visando o melhor interesse da comunidade.

A morte de Hassan e o martírio de Hussein

Enquanto ainda acampava fora de Kufa, Mu’awiyah enfrentou uma revolta kharijita. Ele enviou uma tropa de cavalaria contra eles, que fora derrotada. Mu’awiyah buscou o apoio de Hassan para combater os rebeldes, porém ele já estava a caminho de Medina, e recusou-se a prestar qualquer auxílio, dizendo que não se envolveria em mais guerras.

Hassan entrou num período de nove anos de retiro, entre 661 e 670, onde, afastado da política, passou a liderar os membros restantes da família do Profeta e seu clã, os Banu Hashim, e os partidários de seu pai, os primeiros xiitas, que ainda tinham esperanças de que Mu’awiyah cumprisse com sua parte do acordo e que Hassan fosse nomeado califa após sua morte.

Porém, as esperanças dos xiitas foram destruídas, quando Hassan morreu envenenado sob circunstâncias misteriosas em 670, aos 38 anos. Após a morte de Hassan, Mu’awiyah, pensando que ninguém seria corajoso o suficiente para se opor à sua decisão como califa, designou seu filho Yazid como seu sucessor, em 680, quebrando o tratado.

Em abril de 680, Yazid sucedeu seu pai como califa. Ele imediatamente instruiu o governador de Medinah a solicitar a Hussein e algumas outras figuras proeminentes a lhe reconhecerem como califa e jurarem fidelidade.

Hussein, no entanto, absteve-se, acreditando que Yazid estava abertamente indo contra os ensinamentos do Islã em público, quebrando a tradição dos califas e, além do mais, as circunstâncias do envenenamento de Hassan não estavam claras.

Em sua opinião, a integridade e a sobrevivência da comunidade islâmica dependiam do restabelecimento da orientação correta. Ele, portanto, acompanhado por sua família, seus filhos, irmãos e os filhos de Hassan, deixou Medina para procurar asilo em Meca.

Representação do acampamento de Hussein e seus poucos companheiros cercado pelo vasto exército Omíada de Yazid I.

Enquanto em Meca, Ibn al-Zubayr, Abdullah Ibn Umar e Abdullah Ibn Abbas aconselharam Hussein a fazer da cidade a sua base. Por outro lado, o povo Kufa, que foram informados sobre a morte de Mu’awiyah, enviaram cartas pedindo que Hussein se juntasse a eles e se comprometeram a apoiá-lo contra os omíadas, a primeira monarquia da história islâmica, liderada por Yazid I.

Hussein escreveu de volta para eles, dizendo que enviaria seu primo Muslim Ibn Aqil para relatar a ele sobre a situação. Se os encontrasse unidos, como indicavam suas cartas, ele se uniria rapidamente a eles. A missão de Muslim foi inicialmente bem-sucedida e, segundo relatos, 18.000 homens prometeram sua lealdade a Hussein.

Mas, a situação mudou radicalmente quando Yazid nomeou Ubaydullah ibn Ziyad como o novo governador de Kufa, ordenando-lhe que lidasse severamente com Ibn Aqil, os apoiadores de Hussein. Antes que as notícias da mudança adversa dos acontecimentos chegassem a Meca, Hussein partiu para Kufa, crendo que iria encontrar seus apoiadores.

No caminho, o neto do Profeta descobriu que seus partidários haviam sido mortos na antiga capital de seu pai. Ele deu a notícia a seus partidários e informou que as pessoas o abandonaram.

Então, ele encorajou qualquer um que assim desejasse, a sair livremente sem culpa de sua companhia. A maioria daqueles que se juntaram a ele, em vários estágios no caminho de Meca, agora o deixaram sozinho, acompanhados por alguns homens, mulheres e crianças.

Em seu caminho para Kufa, Hussein encontrou o exército de Ubaydullah Ibn Ziyad. Hussein dirigiu-se ao exército do povo de Kufa, antigos xiitas de seu pai, que agora o opunham, devido ao medo imposto por Yazid, lembrando-os de que o convidaram para vir porque o apoiavam em suas reivindicações.

Ele lhes disse que pretendia prosseguir para Kufa com o apoio deles, mas se eles agora se opusessem à sua vinda, ele retornaria a Meca. No entanto, o exército pediu-lhe para escolher outro caminho. Assim, ele se virou para a esquerda e alcançou Karbala, onde o exército o forçou a não ir mais longe, e o cercou no meio do deserto. O desfecho agora ficava claro.

Umar ibn Saad, chefe do exército de Kufa, enviou um mensageiro a Hussein para indagar sobre o propósito de sua vinda a Mesopotâmia. Hussein respondeu novamente que ele havia respondido ao convite do povo de Kufa, mas estava pronto para partir, se agora não quisessem sua presença.

Quando Umar ibn Saad informou de volta a Ibn Ziyad, o governador o instruiu a oferecer a Hussein e seus apoiadores a oportunidade de jurar lealdade a Yazid. Ele também ordenou a Umar que impedisse Hussein e seus seguidores o acesso à água do rio Eufrates, o que piorou extremamente a precária situação daquele grupo, com considerável número de mulheres e crianças.

Na manhã seguinte, Umar organizou o exército omíada ​​em ordem de batalha, Al-Hurr ibn Yazid al Tamimi desafiou-o e foi até Hussein, em remorso pela situação. Ele se dirigiu ao povo de Kufa em vão, repreendendo-os por sua traição ao neto do próprio Profeta, mas por eles foi morto.

A Batalha de Karbala se seguiu após muita excitação de Hussein, e durou de manhã até o pôr do sol de 10 de outubro de 680. Todo o pequeno exército de seus companheiros, que formavam pouco mais de uma centena, foram massacrados de forma brutal numa carnificina horrenda por milhares de soldados Omíadas.

O tão amado neto do Profeta teve sua cabeça decapitada, e um de seus filhos, com apenas 6 meses de idade, foi crivado de flechas pelos homens de Yazid I. Muitas são as detalhadas descrições dos eventos, mas nas palavras do renomado historiador al-Bīrūnī (973-1050), escrevendo por volta de dois séculos após:

[…] então o fogo foi posto em seu acampamento e os corpos foram pisoteados pelos cascos dos cavalos; ninguém na história da humanidade viu tais atrocidades.

Assim que as tropas Omíadas concluíram a matança, saquearam as tendas, despiram as mulheres de suas joias, e levaram o que podiam dos pertences dos familiares do Profeta. As cabeças dos mortos foram arrancadas e postas em lanças.

Depois de saber do martírio de Hussein, Ibn al-Zubayr, um de seus amigos e apoiadores em Meca, iniciou uma rebelião contra Yazid e os Omíadas. Quando soube disso, Yazid mandou fazer uma corrente de prata e enviou a Meca com a intenção de que Walid ibn Utbah prendesse Ibn al-Zubair.

Com o tempo, Ibn al-Zubayr consolidou seu poder enviando um governador a Kufa. Logo, ele estabeleceu seu poder na Mesopotâmia, no sul da Arábia, na maior parte do Levante e em partes do Egito.

Yazid tentou acabar com sua rebelião invadindo o Hijaz, e tomou Medina após a sangrenta Batalha de al-Harrah, seguida pelo cerco de Meca, mas sua morte repentina, em 683, acabou com a campanha e jogou os Omíadas em desordem, com a guerra civil que acabou por eclodir.

Isso, essencialmente, dividiu o império islâmico em duas esferas com dois califas diferentes, mas logo a guerra civil omíada terminou e ele perdeu o Egito e o que quer que ele tivesse do Levante, para Marwan I, o sucessor de Yazid. Isso, somado às rebeliões kharijitas, na Mesopotâmia, reduziu seu domínio apenas ao Hijaz.

Em Meca e Medina, a família de Hussein tinha uma forte base de apoio e as pessoas estavam dispostas a defendê-los. Ibn al-Zubayr foi finalmente derrotado e morto por Al-Hajjaj ibn Yusuf, o mais cruel dos governadores das Províncias Omíadas, que foi enviado por Abd al-Malik ibn Marwan, no campo de batalha, em 692.

Ele o decapitou e crucificou seu corpo, restabelecendo o controle Omíada sobre o mundo muçulmano inteiro baseado em Damasco na Síria.

Bibliografia: 

  • Holt, P. M.; Bernard Lewis (1977). Cambridge History of Islam, Vol. 1. Cambridge University Press.
  • Madelung, Wilferd (1997). The Succession to Muhammad: A Study of the Early Caliphate. Cambridge University Press.