Quando o nâranj virou laranja: A cultura árabe dos cítricos levada para a Europa
Autor: www.balansiya.com 05/09/2022
“Al-Andalus” (711 – 1492) é o nome com o qual se conheceu todas aquelas terras que, governadas pelos muçulmanos, haviam feito parte do Reino Visigodo: a Península Ibérica, a Septimânia Francesa e as Ilhas Baleares. Sua zona Leste se chamava “Sharq al-Andalus”, e o Oeste, Gharb al-Andalus, de onde vem o nome ‘’Alagarve’’.
Dentre as novas plantas chegadas ao Al-Andalus, talvez as mais chamativas foram os cítricos, cujo cultivo pode ser considerado o símbolo da mescla da agricultura árabe juntamente daquela da Europa Mediterrânea.
Uma importante fonte de informação sobre os conhecimentos agrônomos dos muçulmanos e sobre seus cultivos, é o Tratado da Agricultura Nabateia, que reúne valiosas informações sobre os conhecimentos agrícolas, botânicos e de economia rural e doméstica na Mesopotâmia no começo era muçulmana.
Quando os muçulmanos chegaram à Península Ibérica, por via de regra, não atentaram contra a segurança das pessoas da Península Ibérica, e respeitaram os seus bens, ao invés de reivindicarem toda a terra, como fizeram os imperadores romanos, ou “apenas” dois terços dela, como fizeram os reis visigodos, confiscaram as terras dos visigodos, dividindo suas grandes propriedades e dividindo-as entre a população; e as propriedades pertencentes aos patrícios emigrados, ao clero e aos grandes senhores que os combateram, foram distribuídos, reservando um quinto para o califa e os quatro quintos restantes para os muçulmanos. (Dozy, tomo I, páginas 55 e 56).
No ano de 714, os muçulmanos chegaram ao Sharq al-Andalus e à província de Castellón, os hispano-latinos que lá habitavam se mostraram pacíficos, portanto, aqueles de um estado independente preservaram na íntegra sua liberdade pessoal e o controle de sua propriedade.
Quanto às classes servis, a chegada dos muçulmanos os favoreceu ostensivamente. Os servos dos cristãos continuaram ligados aos seus senhores como antes, mas adquiriram o direito irrecorrível de dispor deseus bens, e aqueles que permaneceram em terras muçulmanas, tornaram-se uma espécie de arrendatários autônomos, quase que sem qualquer dependência de suas tarefas agrícolas.
Todos os antigos escravos e servos que declaravam a fé islãmica, se convertiam em verdadeiros muçulmanos e eram libertados, passando imediatamente a ter direito sobre a repartição das terras, o que provocou um crescimento demográfico espetacular por causa da quantidade de nativos que chegavam fugidos das terras do interior; ainda sob o domínio visigodo, houve também um aumento considerável da produção agrícola, pois muitos já não eram servos nem propriedade de ninguém, e agora trabalhavam em sua própria terra.
Redistribuição das terras dos antigos latifúndios, a melhora dos nos sistemas de irrigação: tubulações, rodas d'água, drenos, lagoas... mas em nada o alcance da agronomia árabe é mais evidente do que na introdução de espécies, até então exóticas, realizada com tanta sabedoria e sucesso, pois nenhuma daquelas que tentaram agregar às indígenas malogrou.
Os árabes foram sem dúvida os agentes que mais fizeram pela difusão das frutas cítricas, fragmentos e reproduções dos escritos que narram as experiências dos muçulmanos que se espalharam pelo mundo conhecido, mas unidos pelo sentimento religioso, por redes de comércio e pelas peregrinações a Meca. Seus escritos revelam o alto nível cultural daquele povo.
Se constatarmos que os sevilhanos omitem a laranjeira entre as plantas do seu tempo, chegaremos à mesma conclusão que o sábio e inteligente botânico, o comissário local da agricultura de Castellón, D. Fernando Bou y Gascó, de que a consequência natural que se segue de tal omissão é que ela simplesmente não existia.
Esse mesmo pesquisador, como muitos outros, em seu Estudo sobre as Auranciaceae da província de Castellón, premiado em 1877, afirma: "a laranjeira azeda, precursora da doce, foi trazida pelos árabes dos lugares situados além do Ganges, por volta do século 10, e eles a aclimatizaram em todos os países que pertenciam ao seu império".
Por outro lado, o Sr. de Saci, nas notas à tradução de Abd-Allatif, afirma que: "foi transportado da Índia após o ano 300 da hegira" e o Sr. García Maceira em suas notas assegura que este novo cultivo de árvores cítricas: "deram um selo característico e único à agronomia dos árabes espanhóis".
Ibn al-Awwan ou ‘Abu Zaccaria’ é o autor de origem andaluza que escreveu mais detalhadamente sobre agronomia em seu Livro de Agricultura (Kitab al-filaha), onde dedica um extenso capítulo às frutas cítricas que também são aludidas em várias partes do livro para destacar alguns aspectos específicos relacionados ao cultivo, conservação, aplicações, doenças, etc. e já a trata como se fosse muito comum em algumas províncias andaluzas, tendo provavelmente começado a ser cultivada na costa mediterrânea.
Durante a Idade Média, as referências mais importantes aos citrinos encontram-se nos escritores do ocidente muçulmano e sobretudo nos hispano-muçulmanos de al-Andalus, que nos legaram um tratado completo sobre a citricultura, muito adiantado ao seu tempo, algumas de cujas práticas ainda estão em vigor.
Eles agruparam as espécies de acordo com a natureza da seiva e também de acordo com sua adaptação ao clima peninsular. Eles descreveram detalhes de variedades conhecidas, estabeleceram os fundamentos de um viveiro e descreveram técnicas de multiplicação vegetativa. Por fim, mostraram seus conhecimentos sobre plantio, tipos de solo e técnicas de cultivo: poda, desbaste, adubação, defesa contra adversidades e conservação dos frutos.
O código regional valenciano já menciona a laranja como uma produção generalizada, e que da capital da provícnia à região de Borriol existia um pomposo e esplêndido laranjal, o que não deve surpreender se lembrarmos que sua introdução pelos muçulmanos começou na bacia do Mediterrâneo e que logicamente a costa de Castellón não deveria ter sido um dos últimos pontos a recebê-lo, pois reúne as condições mais adequadas para seu perfeito desenvolvimento, especialmente em La Plana.
A suposição converteu-se em uma certeza quando o alemão Von Popplaw forneceu dados confiáveis sobre a importante produção de laranjas na área, numa época em que quase todas as cidades que ele visitou ou entrevistou ainda eram sarracenas, e a ascendência arabesca da palavra limousin taronja que ele usou indicam claramente quem é o responsável pela propagação da planta cujo fruto, transformado em doce da espécie azeda com enxertia e renovações sucessivas, veio a formar uma das principais culturas da província de Castellón, uma digna rival de Valência no cultivo das cobiçadas Hespérides.
A laranjeira amarga em al-Andalus naranj foi introduzida pelos árabes no final do século X ou início do século XI e é mencionada no Tratado Agrícola Anônimo Andalusí. O sucesso ou insucesso dos enxertos baseia-se em diferentes conceitos, mas sobretudo na natureza da seiva. Ibn Bassal classificou-os em quatro grupos e estabeleceu um quinto grupo composto por plantas aquosas mas perenes, entre as quais a laranjeira amarga e a cidra.
Além disso, criou uma classificação climática estabelecendo sete categorias e colocando as frutas cítricas: cidra, laranja amarga, lima, zamboa, limão e afins como adequadas ao nosso clima, pois é quente e seco, mas não extremo.
Uma prática à qual se dava muita atenção naquela época era a produção de mudas de viveiro. O método de reprodução por semente foi aplicado a todas as frutas cítricas e feito em local protegido do frio. De acordo com Ibn Bassal, as sementes eram semeadas em Janeiro-Fevereiro. Um ano depois, eram transplantadas para vasos, lembrando que em cada uma deveria haver apenas uma planta, onde permaneceram por dois anos, após o que foram levadas para a parcela final.
O sistema de multiplicação de estacas foi aplicado à cidreira, ao limoeiro e à zamboa, mas não à laranjeira. A estratificação também era conhecida, e a estratificação aérea era praticada usando uma espécie de pote com furos que, divididos em dois, se ajustavam ao galho.
Ibn al-Awwan, Ibn Bassal e Aba-l-Khayr nos fornecem as informações mais interessantes sobre fertilizantes, especificando tempos de uso, tipos de esterco de acordo com sua origem: seres humanos, pombos, outros animais, diferentes benefícios e usos de acordo com sua origem. Seja fresca ou fermentada, seja de cabra, equinos, cinzas de algodão, ou de diferentes tipos de madeira... Tratada com inúmeras combinações dependendo da espécie a ser fertilizada e do resultado desejado em relação ao crescimento, floração ou ao fruto.
Eram grandes especialistas em desbaste, poda, escoramento e no combate às adversidades: excesso de frio ou calor, insetos, solos calcários e doenças. Sempre utilizaram técnicas naturais, benéficas e não agressivas com o meio ambiente: cercar os troncos com um pano grosso impregnado de óleo, alcatrão ou esterco; paliçadas e irrigação com água morna ou fria; incorporar cinzas de banhos e outros lugares no solo, irrigar as raízes com o sangue das cabras que foram sacrificadas para alimentação, excremento de pombo pulverizado...
Eles também desenvolveram técnicas de conservação que permitiram que os frutos fossem preservados por muito tempo. As abundantes referências sobre usos alimentares ou medicinais estão espalhadas nos escritos dos numerosos autores hispano-muçulmanos da época.
A cidra (Citrus medica L) em al-Andalus era conhecida pelo nome de origem persa turunj e também como utrujj. Foi a primeira a chegar da Índia à bacia do Mediterrâneo. É uma árvore de cerca de 3 a 5 m. de altura, com folhas ovais e pontiagudas; tem flores rosadas ou roxas. Praticamente todos os autores da época o mencionam e admitem a existência de duas variedades, uma ácida ou azeda com folhas verdes intensas, madeira escura e espinhos longos, e outra doce, com folhagem amarelada e espinhos curtos.
Foi refererenciado também o fato dela florescer várias vezes ao ano, mantendo flores e frutos quase continuamente, circunstância que, sublinharam, não acontecia com os restantes citrinos conhecidos. Eles também descobriram que os frutos da floração de Março e Abril eram mais doces e apetitosos.
O seu fruto aromático, muito maior do que o limão, é oval e frequentemente mencionado nos tratados andaluzes, era guardado em recipientes de barro e usado profusamente em alimentos, insumos, doces e cuidados estéticos.
Dentro da gastronomia e da medicina naturista encontramos o consumo de geléia e da calda da polpa da cidra. O vinagre advindo da cidra era utilizado para coalhar vinagre.
Perto do mês de Janeiro, preparava-se um xarope tradicional a partir de polpa de cidra ácida, que diz-se ter propriedades medicinais, fazendo também uma compota tradicional de toranja, enquanto em Dezembro esses frutos amadureciam. O perfume composto de toranja e almíscar, ao qual se adicionava água de rosas, era recomendado no verão, quando a polpa de cidra podia ser tomada como aperitivo para refrescar e matar a sede da temporada.
Na medicina, a casca da toranja era recomendada para perfumar o ambiente, e se a utilizava para fabricar cremes dentais muito eficazes para fortalecer as gengivas, enquanto a folha era consumida para facilitar a digestão. O cozimento de toranja era eficaz contra diarréia e vômito. O grão, ingerido em pequenas quantidades com água morna, era um remédio rápido contra os venenos em geral, e principalmente contra a picada de cobras e escorpiões, segundo a medicina tradicional islâmica.
Em relação à cidra, Abu-l-Khayr nos revela um costume agrícola muito peculiar: inserir nós da cidra em moldes com formas prontas, pendurando-os nos galhos até adquirirem a moldagem da figura selecionada.
Da laranja-azeda (Citrus aurantium L), em al-Andalus narany, assegurou Ibn Awwam no Livro da Agricultura Nabateia. ‘Está em todas as cidades de al-Andalus’. Seus frutos não são comestíveis, são menores, enrugados e avermelhados, mais secos e mais amargos que a laranja tradicional. Floresce na primavera. Ele é originário do Oriente. É usado como base ornamental em muitos jardins e em Granada, também é amplamente distribuído em inúmeras ruas e avenidas. É encontrado por toda a bacia do Mediterrâneo.
“É [uma] árvore que cresce am altura e tem a folha lisa, suave e de muito verde... lhe convém toda sorte de terra, excetuando-se aquela corrompida com mistura de cinzas, gesso, tijolo empoeirado ou algo semelhante... lhe é proveitoso o vento leste e aquele que sopra entre o leste e o meio-dia".
A variedade mais comum era a redonda e avermelhada, embora houvesse outra cor dourada, grossa e um pouco alongada. Além disso, Ibn al-Awwan fez referência a uma toranja (uma análise da tradução do texto de Ibn al-Awwan e das referências gastronômicas que ele faz sobre essa fruta, deixa claro que os valencianos chamavam a laranja de toranja) grande e pontiagudo chamado cordovão possivelmente pela fama das laranjas da Mesquita, e outro redondo, grande, liso e aromático como o Aucklandia costus conhecido pelo nome de Kosti. Da mesma forma, citou outro grosso, do tamanho de uma berinjela, e tão azedo quanto sua polpa, que recebeu o nome de ‘toranja chinesa’. O suco era, em todo caso, tão azedo quanto o de uma cidra. Dizia-se que a planta tinha folhas verdes lisas e macias.
A laranjeira amarga embelezou e perfumou, com suas flores de laranjeira e seus frutos dourados, os pátios da maioria das mesquitas, como a mesquita almóada de Sevilha ou a grande mesquita de Córdoba, bem como os jardins andaluzes. Dizia-se que não deveria ser plantada perto de arruda, orégano ou limão, pois seu forte odor prejudicava a laranjeira, e tomava-se o cuidado de não cultivá-la ao lado de figueiras, pois ambas eram incompatíveis.
Dentro da gastronomia e medicina naturista, descobrimos que um óleo obtido da casca de laranja era usado contra a constipação e para os propensos aos gases, sendo aplicado no banheiro quando a temperatura estava muito alta, embora só surtisse efeito se usado com ‘perseverança’. Além disso, da flor da laranja extraíam um óleo muito suave que fortificava as articulações.
A flor da laranjeira era frequentemente usada para fazer água de flor de laranjeira (azahar), muito apreciada pelos hispano-muçulmanos por sua aplicação na produção de doces, bebidas refrescantes e na perfumaria. Entre outros produtos aromáticos, a casca de laranja era usada como desodorante, esfregando a parte do corpo a ser perfumada com o interior da casca.
Possui propriedades medicinais como sedativo leve, antiespasmódico e efeito digestivo. O xarope da casca é utilizado no tratamento da fragilidade capilar. A variedade doce é muito mais conhecida e muito mais utilizada na cozinha devido à quantidade de vitamina C que contém, mas as bebidas e compotas também são preparadas com a variedade amarga.
O limoeiro (Citrus limon) que era chamado em al-Andalus laymun, cujo nome deriva do árabe "laymun", parece que foram eles [os árabes] que o introduziram na Península Ibérica no século X, segundo aqueles que sustentam que já aparecia nas obras gastronómicas cordobesas do século X, enquanto outros afirmam que o limão deve ter sido introduzido pelos árabes na segunda metade do século XI, uma vez que não aparece no Calendário de Córdoba (século X), nem no anônimo Tratado Agrícola Andaluz (século X-XI), nem na obra de Ibn Wafid de Toledo (primeira metade do século XI). No entanto, ele foi nomeado por Ibn Bassal (s. XI): ‘’Do Sudeste Asiático. Floresce em Abril – Maio. As frutas, conhecidas como limões, são de cor amarela e têm sido utilizadas na gastronomia desde então. Eles não resistem bem à geada. É comum em pomares e jardins, especialmente nas cidades de Al Andalus.
"Parece um chocalho de prata
revestido em amarelo dourado."
(al-Muhayris)
Segundo o geógrafo árabe al-Mas'udi, no século X, o limão junto com a laranja-azeda, vindos do Nordeste da Índia, eram exportados para Omã, e pela rota de Basra chegavam ao Iraque, Síria e Palestina, depois sendo levado para o Egito, o Magrebe (Ifriqiya e o reino de Fez) e al-Andalus. Deve ter sido uma árvore de fruto muito frequente nos jardins e pomares andaluzes, pois é mencionada nos seus tratados pelos principais geoponistas andaluzos da segunda metade do século XI: Ibn Bassal, Ibn Hayyay, al-Tignari, Abu-l-Khayr, Ibn al-'Awwam e Ibn Luyun.
Dentro da gastronomia e da medicina naturista, vemos que o xarope e o suco de limão eram considerados uma das bebidas mais saudáveis para pessoas saudáveis, e que os limões marinados em vinagre com o suco de outros limões, eram consumidos com mel em infusões de açafrão.
Era muito comum rachar a fruta e conservá-la em sal, para usá-la como condimento em guisados, como se costuma fazer agora no Magrebe. Seu suco era usado nas cozinhas andaluzas para coalhados e fermentados.
Eram feitas também pastilhas com vinagre de limão, avenca, menta e farinha clareadora que, dissolvidos em água, eram aplicados nas áreas da pele onde havia cicatrizes, para limpá-las. Aparentemente, esse tipo de pomada foi prescrita por médicos andaluzes para aliviar os efeitos destrutivos da lepra.
O limão é de forma oblonga ou esférica e tem uma protuberância na forma de um ápice em ambas as extremidades. A casca é de cor amarela e contém glândulas que transportam o óleo essencial que dá a esta fruta seu cheiro característico e é coberta por substâncias arejadas. Em seu interior é dividido em segmentos que por sua vez são recobertos por uma fina pele e encerram as vesículas que contêm o suco e as sementes, quando houver. Na Espanha são consumidas duas variedades, a mesa e a verna. A primeira tem casca mais fina e mais suco e a verna tem casca mais grossa, oval e com três ou quatro sementes por fruto. Para medir a maturidade, é estabelecida uma relação entre seus açúcares e acidez. O ácido cítrico que contêm é bactericida e portador de várias vitaminas, de C a P.
Devido ao seu teor de vitamina C, foi usado por algum tempo para combater o escorbuto. Tem ação como desinfetante natural. Pode ser usado para remover manchas de tinta e para dar brilho a latão e outros metais. O suco é de grande valor dietético, pois fornece minerais, água, vitaminas e carboidratos. O suco tem sido usado para fazer bebidas refrescantes e também tem propriedades diuréticas e facilita a digestão. A casca é utilizada em perfumaria, pastelaria...
A essência obtida das flores também é apreciada na perfumaria.
Pode-se usar o zuco para retirar manchas de tinta ou para abrilhantar alguns metais. Era bebido quente para combater a febre, e também se obtinha dele um azeire para controlar os problemas ciáticos, cãibras, calafrios, dores de dente, estimulante de crescimento capilar.
Tem propriedades medicinais como ser anti-escorbútico, desinfetante, antiuricêmico, vitamínico e adstringente.
A breve informação sobre a zamboa vem de Abu-l-Khayr e Ibn al-Awwan. Dizia-se que era uma espécie de árvore intermediária entre as laranjeiras e os limoeiros, embora seu fruto fosse achatado, de cor amarela e com interior granulado, como era o caso do figo turco Jildasi. Era maior que um limão e um pouco avermelhado, embora menos intenso que o laranja. Quanto ao sabor, dizia-se que era azedo, mas afirmava-se que se comia tudo, a polpa e a casca. O caráter granular da polpa e sua comestibilidade parecem definir muito bem o pumelo, devido à aparente falta de suco e seu sabor.
O granadino al-Tignari (século XI) mencionou o istibuni (ou zamboa), relatando duas variedades, uma maior que um limão e achatada nas bordas, e outra com a mesma forma do melão Elvira e com menos polpa.
Dentro da gastronomia e da medicina naturista diremos que a polpa, suculenta e refrescante, tem um sabor ligeiramente amargo. Agora uma variedade de toranjas com polpa rosada muito doce e apreciada está começando a se espalhar.
Geralmente é consumido cru, cortado transversalmente e comido com uma colher ou na forma de suco. Também partidos ou cortados em pequenos cubos que fazem parte de saladas. Do ponto de vista alimentar, une as propriedades da laranja e do limão.
O suco contém 90% de água e 70 mg de vitamina C por 100 gr. Esta riqueza em vitamina C e seu baixo teor calórico - é muito baixo em açúcar - tornam a fruta ideal para dietas de perda de peso.
Precisamente devido à sua falta de hidratos de carbono, tem um sabor ácido e amargo peculiar que pode ser suavizado com a adição de canela, sem necessariamente recorrer ao açúcar. Também pode ser misturado com suco de laranja para a mesma finalidade.
Portanto, comer toranjas ou beber seu suco ajuda a reduzir o excesso de peso. De fato, produz saciedade devido ao seu teor de pectina, um tipo de fibra vegetal que também reduz a absorção intestinal de gorduras e açúcares; É baixo em calorias e rico em vitamina C e potássio, mineral que favorece a eliminação do excesso de líquidos por meio de sua ação diurética.
O suco de toranja é alcalinizante, favorece a eliminação de toxinas e tem propriedades purificantes. É um aperitivo, melhora as funções digestivas e favorece a função hepática. É uma das melhores bebidas para estômagos delicados, principalmente tomando o suco com o estômago vazio ou antes das refeições. Também quem sofre de hipercloridria tem a toranja como um dos melhores remédios.
No inverno, o suco é levemente aquecido e é bebido frio no verão. Pode ser adicionado um pouco de mel ou xarope. Na Índia, o sal é adicionado aos sucos cítricos (limão, laranja, etc.); assim obtêm uma bebida refrescante para os dias quentes de verão. Além disso, o íon sódio no sal repõe o que é perdido pela transpiração, evitando a desidratação perigosa.
Finalmente, de acordo com estudos da Universidade de Ontário (Canadá), beber suco de toranja ao tomar certos medicamentos para reduzir a pressão arterial pode dobrar seu efeito. O tipo de anti-hipertensivo que parece ser influenciado pela toranja - o mesmo não acontece com o suco de laranja - é o que contém nifedipina (comercialmente Adalat, Cordilán, Dilcor,...). Este dado é interessante, pois permite reduzir a dose do medicamento, naturalmente sempre sob supervisão médica.
E por fim falaremos um pouco sobre a semente de toranja. Extratos desta semente foram recentemente descobertos como uma poderosa droga antifúngica e antiparasitária. Uma preparação contendo esse extrato, chamada "Citricidal" (consulte na Internet), já é comercializada em quase todo o mundo. Na Espanha, há alguns anos, houve outro semelhante com o nome de "Panacitril".
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