O Islã, como é bem sabido, é uma religião de caráter global e universal, vez que se expandiu por todos os cantos do globo e das mais variadas formas. O mesmo não foi diferente na Rússia, embora seja um país predominantemente Ortodoxo.

Quando se fala em países com forte presença islâmica, muitos pensam logo nos países do Oriente Médio, África e quiçá do sudeste asiático. Já quando falamos em legado islâmico em países outrora partes do dar al-Islam (terras do Islã), muitos são remetidos à Al-Andalus, a Índia dos governantes Mogois e alguns outros locais mais famosos na história islâmica. Contudo, certas regiões do planeta também tiveram um contato muito forte com o Islã praticamente desde o berço da religião, mas são frequentemente ignorados pelo prisma ocidental, como a China e a Rússia.

A China recebeu maior atenção para sua minoria islâmica desde as polêmicas envolvendo os membros da etnia Uyghur, enquanto a Rússia recebeu maior atenção sobre o tema nos recentes conflitos contra a Ucrânia, uma vez que o presidente Vladimir Putin convocou os combatentes chechenos para lutar a seu lado na guerra.

As boas relações do presidente russo com a minoria islâmica não é novidade, sendo que o líder do país já financiou a construção de mesquitas e escolas islâmicas, assim como condenou as famosas caricaturas ocidentais contra o profeta Muhammad. Não somente, mas Putin também considera os muçulmanos como “parte integrante do código cultural da Rússia", incentivando ainda a imigração de muçulmanos provenientes de países do antigo bloco soviético. O tratamento dispensado aos muçulmanos na Rússia é o exato oposto do que vemos em países supostamente tolerantes do Ocidente, como a França, outrora a epítome da fraternidade ao mundo, que agora impõe inúmeras sanções a sua minoria islâmica [1].

Os muçulmanos na Rússia, contudo, não chegaram durante a administração do presidente Putin, mas sim há centenas e centenas de anos atrás, quase que desde o surgimento do próprio Islã.

A chegada do Islã na Rússia

O Islã como conhecemos teve início no ano 610 d.C. através da primeira revelação recebida por Muhammad. A partir desse acontecimento o destino do mundo inteiro não seria mais o mesmo, uma vez que uma nova força religiosa, política, cultural e civilizacional surgia nos confins da Arábia pagã, logo se expandindo para todo o mundo conhecido e dominando grande parte dele.

Muito embora Muhammad tenha sido um grande estrategista político e militar, unificando toda a Arábia e conquistando a famosa cidade de Meca, as grandes expansões para fora da Península foram realizadas pelos seus sucessores do Califado Rashidun.

Com o falecimento do Profeta em 632 d.C., as desavenças sobre quem o sucederia logo viriam a surgir [2]. De qualquer forma, pelo bem da concisão textual, iremos ignorar essa discussão histórica e focar tão somente em quem na prática o sucedeu: Abu Bakr, companheiro fiel de Muhammad.

Agora sob o governo de Abu Bakr As-Siddiq, o primeiro califa Rashidun, o Islã passaria a ver uma expansão quase que sem limites, principalmente no restante da Península Ibérica. Contudo, Abu Bakr governaria até o ano de 634 d.C., vindo a falecer com apenas dois anos de governo. Todavia, antes de morrer, o primeiro califa muçulmano nomearia seu sucessor: Omar ibn al-Khattab, quem lideraria a maior parte das conquistas islâmicas do século VII e o principal responsável pela história sendo narrada nesse texto.

Entre os anos 633-654, os muçulmanos iniciariam suas conquistas contra a Pérsia, atual Irã. Nessa época o território era do Império Sassânida, já decadente, principalmente por conta de seus conflitos com os Bizantinos. A ascensão dos muçulmanos na Arábia coincidiu com uma fraqueza política, social, econômica e militar sem precedentes na Pérsia. Outrora uma grande potência mundial, o Império Sassânida havia esgotado seus recursos humanos e materiais após décadas de guerra contra o Império Bizantino. Assim, não seria possível resistir contra esses implacáveis guerreiros que surgiram de onde menos se esperava, ou seja, do meio do deserto até então tribal. Mas afinal, quem iria imaginar que as inúmeras tribos árabes seriam reunidas sob uma só liderança, e que essa liderança continuaria moldando toda a história humana a partir de então através de seu carisma e seus ensinamentos? Era algo que parecia absolutamente improvável, mas como bem sabemos, o impossível de fato aconteceu e mudou o mundo para sempre.

Os muçulmanos atacaram pela primeira vez o território sassânida em 633, quando Khalid ibn al-Walid invadiu a Mesopotâmia, que era o centro político e econômico do estado sassânida. Após a transferência de Khalid para lutar contra os bizantinos no Levante, os muçulmanos acabaram perdendo suas contenções para os contra-ataques sassânidas.

A segunda invasão muçulmana começou em 636, sob Sad ibn Abi Waqqas, quando uma vitória importante na Batalha de al-Qadisiyyah levou ao fim permanente do controle sassânida a oeste do atual Irã. Nos seis anos seguintes, as Montanhas Zagros, uma barreira natural, marcaram a fronteira entre o Califado Rashidun e o Império Sassânida. Em 642, Omar ibn al-Khattab ordenou uma invasão em grande escala da Pérsia pelo exército Rashidun, o que levou à conquista completa do Império Sassânida em 651.

Diante disso, em meados do século VII d.C. e como parte da conquista muçulmana da Pérsia, o Islã foi introduzido na região do Cáucaso, partes da qual foram posteriormente incorporadas permanentemente pela Rússia. O primeiro povo a se tornar muçulmano dentro do atual território russo foi o povo Daguestani (região de Derbente), convertido após a conquista árabe da região no século VIII. O primeiro estado muçulmano nas futuras terras russas foi Bulgária do Volga em 922. Os tártaros do canato de Kazan “herdaram” a população de muçulmanos daquele estado. Mais tarde, a maioria dos povos caucasianos turcos e europeus também se tornaram adeptos do Islã.

Esses mesmos tártaros do canato da Crimeia continuariam a invadir o sul da Rússia, chegando a queimar partes de Moscou em 1571. Não somente, mas os mesmos também comercializavam escravos russos e ucranianos com o Império Otomano entre os séculos XVI-XVIII [3].

Esse mesmo hiato de dois séculos também marca o período desde a conquista russa de Kazan em 1552 por Ivan, o Terrível, até a ascensão de Catarina, a Grande, em 1762. No que tange aos muçulmanos russos, essa época contou com a repressão sistemática aos muçulmanos por meio de políticas de exclusão e discriminação, bem como a destruição da cultura muçulmana pela eliminação de manifestações externas do Islã, como mesquitas.

Os russos inicialmente demonstraram estar dispostos em permitir que o Islã florescesse, chegando a convidar eruditos para que pudessem pregar aos fiéis muçulmanos, particularmente aos cazaques, a quem os russos viam com desprezo. Contudo, o tratamento russo concedido à minoria islâmica mudou, e agora os russos faziam o exato oposto de antes: enfraquecer o Islã ao introduzir elementos pré-islâmicos de consciência coletiva, isto é, exaltar figuras históricas antes da chegada do Islã, assim como inferiorizar ainda mais os cazaques em relação aos russos. Tal mudança de atitude por parte dos russos sem dúvidas receberia uma resposta a altura por parte dos muçulmanos, e assim os líderes religiosos cazaques tentaram justamente aumentar o fervor religioso islâmico ao defender elementos do que seria o pan-turquismo posteriormente, mas muitos foram perseguidos como consequência.

Apesar de estarmos falando do reinado de Ivan e de Catarina, muitas coisas aconteceram séculos antes desses dois líderes envolvendo o Islã e a Rússia. Desde o início, Rus (Rússia de Kiev) e seus sucessores interagiram com os muçulmanos como vizinhos, governantes e súditos. O comércio de longa distância de prata das terras muçulmanas forneceu o impulso para o estabelecimento dos primeiros principados de Rus, e o Islã chegou às terras da Rússia de Kiev antes do cristianismo. Os governantes do estado búlgaro do Volga se converteram ao Islã na virada do século X, várias décadas antes da conversão de Vladimir ao cristianismo em 988 d.C. O estado búlgaro foi destruído entre 1236 e 1237 pelos mongóis, que então subjugaram os principados da Rus. A conversão ao Islã em 1327 de Uzbeg Khan, o governante da Horda Dourada, significou que o domínio político das terras de Rus estava agora nas mãos dos muçulmanos por mais de um século. À medida que a relação de poder entre a Moscóvia e a Horda Dourada começou a mudar, os príncipes moscovitas se viram ativamente envolvidos em suas lutas de sucessão.

Voltando um pouco mais na história, mais especificamente durante o reinado de Vladimir, o Grande, vemos que o mesmo recebera a oferta de converter-se ao Islã. Como bem sabemos, Vladimir se converteu ao cristianismo e essa conversão mudou para sempre a história da Rússia. Contudo, o mesmo também havia recebido um convite de conversão ao Islã. Como diz a lenda, Vladimir, governante da Rússia de Kiev estava hesitante sobre qual religião deveria escolher, uma vez que ainda era adepto do paganismo eslávico.

A Crônica de Nestor relata que, no ano de 987, após consultar seus boiardos, Vladimir, o Grande, enviou emissários para estudar as religiões das várias nações vizinhas cujos representantes o exortavam a abraçar suas respectivas crenças. O resultado é descrito pelo cronista Nestor, como o próprio título da Crônica sugere. Em seu escrito, Nestor relata que o Islã era indesejável devido à proibição do consumo de bebidas alcoólicas e carne de porco, algo que certamente não seria bem visto por seus súditos. Vladimir comentou na ocasião: "Beber é a alegria de todos os russos. Não podemos existir sem esse prazer." Todavia, o Islã e o Cristianismo não foram as únicas religiões que procuraram por Vladimir: fontes ucranianas e russas também descrevem Vladimir consultando enviados judeus e questionando-os sobre sua religião, mas também a rejeitando, dizendo que a perda de Jerusalém era uma evidência de que eles haviam sido abandonados por Deus.

O Islã, contudo, não viria a depender de Vladimir para estar nos mais elevados postos em um Estado. Como dito anteriormente, o governante da Horda Dourada, Uzbeg Khan, converteu-se ao Islã, significando em mais de cem anos de controle islâmico na Rus de Kiev, que englobava o que hoje são também territórios da Rússia.

Convertido ao Islã por Ibn Abdul Hamid, um sufi da ordem Yasavi, Uzbeg assumiu o trono após a morte de seu tio Toqta em janeiro de 1313 com a ajuda do ex-vizir do khan Temur Qutlugh e também Bulaghan khatun. No início, muitos nobres mongóis estavam contra ele e organizaram um complô para matar o novo khan. Uzbeg descobriu a trama e puniu os rebeldes.

Depois que Uzbeg Khan assumiu o trono em 1313, ele adotou o Islã como religião oficial da Horda. Ele construiu uma grande mesquita na cidade de Solkhat, na Crimeia, em 1314. Sua adoção do Islã como religião estatal levou a uma conspiração de príncipes xamanistas e budistas, a quem ele subjugou severamente. Proibindo o budismo e o xamanismo entre os mongóis da Horda Dourada, já em 1315 Uzbeg havia islamizado com sucesso a Horda, livrando-se também dos opositores de suas medidas religiosas. Uzbeg, assim, espalharia o Islã entre a Horda Dourada e permitiria que as atividades missionárias se expandissem nas regiões vizinhas.

Muito embora Uzbeg tenha reprimido severamente os opositores adeptos do budismo e do xamanismo, curiosamente o governante da Horda Dourada foi famoso também pela sua tolerância ao Cristianismo, fama essa que foi reconhecida até pelo papa João XXII, que agradeceu ao khan muçulmano. Temos também uma carta de Uzbeg para Pedro, o Metropolita de Kiev e toda a Rússia, onde o mesmo diz:

[...] Que ninguém insulte a igreja metropolitana da qual Pedro é líder, ou seu serviço ou seus clérigos; que ninguém se aproprie de suas propriedades, bens ou pessoas, e que ninguém se intrometa nos assuntos da igreja... Suas leis, suas igrejas e mosteiros e capelas serão respeitadas; quem condena ou culpa esta religião, não poderá se desculpar sob qualquer pretexto, mas será punido com a morte.

Como vimos, as relações entre os muçulmanos e os russos seriam totalmente diversificadas, vendo inúmeras vezes alianças militares. Exemplo disso, além dos citados acima, seria do Hetmanato Cossaco que recrutou muçulmanos tártaros do Volga. Turcos muçulmanos serviram como cossacos. Muçulmanos Mishar, Teptiar e Tártaros juntaram-se aos cossacos de Orenburg. Cossacos não-muçulmanos compartilhavam o mesmo status com muçulmanos cossacos siberianos. Já os cossacos muçulmanos na Sibéria solicitaram um Imam para a liderança religiosa de sua comunidade, em parte composta por muçulmanos tártaros.

Essas relações diversificadas continuaram ao longo do tempo. Durante a invasão napoleônica na Rússia, os muçulmanos bashkirs e kalmyks lutaram para defender o país do Grande Armée de Napoleão. Embora não fossem considerados grandes combatentes para lutas mais pesadas, podemos vê-los empunhando armas de combate corpo-a-corpo e também arcos. As próprias mulheres bashkirs estavam nas fileiras e lutaram contra os invasores franceses.

Como bem sabemos, em 1054 houve o Grande Cisma, havendo a separação entre a Igreja Ortodoxa e a Igreja Católica Romana, até então unidas, embora com certas diferenças pontuais. O Islã sempre esteve presente no meio dessas duas religiões: na época do Cisma, a Península Ibérica já era dominada pelos muçulmanos há pelo menos três séculos, enquanto que no Oriente os cristãos Ortodoxos já mantinham contato com os muçulmanos ainda há mais tempo, inclusive desde as primeiras invasões islâmicas ao Império Bizantino ainda na época do Califado Rashidun.

Entretanto, as relações com um lado cristão em geral foram diferentes com o outro. No Oriente, os cristãos ortodoxos viveram em grande parte como “súditos” dos muçulmanos, e assim permaneceram na maior parte dos territórios. Já no Ocidente, embora os muçulmanos tenham dominado uma parcela da Europa ocidental, com a Reconquista os mesmos foram expulsos pelos católicos. Essa expulsão do ocidente católico não foi possível na Rússia ortodoxa para alcançar a hegemonia da “verdadeira religião cristã”, mas outras medidas foram tomadas para diminuir a presença islâmica e aumentar a presença Ortodoxa: concessões de terras e a promoção da migração de outras populações russas e não-muçulmanas para as terras islâmicas, deslocando muitos muçulmanos e tornando-os minorias em lugares como algumas partes da região dos Urais do Sul, assim como incentivando a emigração para outras partes, como o Império Otomano e a Pérsia, e quase aniquilando os circassianos, os tártaros da Crimeia e vários muçulmanos do Cáucaso.

O exército russo levou muçulmanos de suas aldeias para portos no Mar Negro, onde aguardaram navios fornecidos pelo Império Otomano. O objetivo explícito da Rússia envolvia a expulsão dos grupos de suas terras. Eles tiveram a escolha de onde seriam reassentados: no Império Otomano, na Pérsia ou na Rússia, longe de suas antigas terras. Com o fim da guerra entre os russos e circassianos, houve a assinatura de juramentos de lealdade pelos líderes circassianos em 1864, uma vez que os mesmos perderam a guerra contra as tropas russas. Posteriormente, o Império Otomano se ofereceu para abrigar os circassianos que não desejavam aceitar o governo de um monarca cristão, sendo que muitos emigraram para a Anatólia e acabaram nos territórios que hoje são a Turquia, Síria, Jordânia, Palestina, Iraque e Kosovo. Muitos outros muçulmanos caucasianos foram parar no Irã, uma das opções de “destino islâmico” que possuíam na época.

Curiosamente, os números de muçulmanos deportados da Rússia na década de 1860 se assemelha muito com o de muçulmanos expulsos da Península Ibérica alguns séculos antes na Reconquista: estima-se o total de 500.000 muçulmanos que saíram da Rússia e foram para territórios islâmicos. Assim como seus “ancestrais” ibéricos, muitos desses muçulmanos morreram durante a viagem ao contraírem doenças. Já aqueles que permaneceram leais à Rússia se estabeleceram nas planícies, na margem esquerda do rio Kuban. A tendência de “russificação” continuou em ritmos diferentes no resto dos períodos czarista e também soviético, de modo que até recentemente mais tártaros viviam fora da República do Tartaristão do que em seu território.

Já no período soviético, alguns estimam que cerca de 83% das mesquitas no país foram fechadas. O mesmo fenômeno de repressão religiosa pôde ser observado também com outras religiões no mesmo período, como a própria religião majoritária, o Cristianismo Ortodoxo. Curiosamente, foi tomada uma política de imposição de valores conservadores, antimodernos e tradicionais nas escolas islâmicas com o intuito de dificultar e/ou destruir eventuais oposições ao governo, mantendo-os em estado de torpor e impedindo também que ideologias estrangeiras adentrassem no país.

Com o fim da União Soviética, tentativas de reconciliação com o Islã foram feitas na década de 1990. Em 1991, por exemplo, vários muçulmanos receberam seus vistos para viajarem até Meca e realizarem a peregrinação islâmica (hajj), uma vez que os embargos da era soviética haviam cessado. Movimentos muçulmanos foram criados, principalmente no Tartaristão, com o intuito de esclarecer ao povo russo sobre o Islã e também aproximar os muçulmanos um dos outros. O centro islâmico russo foi aberto em 1991 em Moscou juntamente com uma madraça. Na década de 1990, o número de publicações islâmicas aumentou, inclusive com o surgimento de revistas e periódicos islâmicos.

Desde o começo da administração de Vladimir Putin, o Islã experimenta um reavivamento no país. Putin permitiu a implementação de facto lei Sharia na Chechênia por Ramzan Kadyrov, inclusive em questões que são contrárias aos preceitos da Igreja Ortodoxa, como a própria poligamia. Ainda no que diz respeito à Igreja Ortodoxa, Putin afirmou que o Islã está mais próximo da Ortodoxia do que o próprio Catolicismo Romano.

Na época dos cartoons contra o profeta Muhammad desenhados pelo editorial francês Charlie Hebdo, houve uma grande manifestação de indignação por parte dos muçulmanos do Cáucaso. Acredita-se que Putin tenha apoiado protestos de muçulmanos na Rússia contra os desenhos do Charlie Hebdo e o Ocidente. Como bem dito no começo do texto, o próprio presidente condenou as caricaturas insultuosas.

Uma pesquisa publicada em 2019 pelo Pew Research Center descobriu que 76% dos russos tinham uma visão favorável dos muçulmanos em seu país, enquanto 19% tinham uma visão desfavorável. Hoje a população muçulmana na Rússia é de cerca de 20 milhões de pessoas, compondo 13,5% da população do país [4]. Embora uma minoria, ainda se trata de um número muito expressivo e com um grande impacto na cultura, religiosidade e até economia do maior país do mundo em extensão territorial.

NOTAS

[1] Curiosamente, o número de muçulmanos na França está entre 5-10% da população do país, enquanto na Rússia as estimativas são em torno de 13,5%. Números quase equivalentes, mas com um tratamento totalmente antagônico. Mesmo assim, o mais intolerante desses países com a sua minoria muçulmana é ainda considerado como o baluarte da tolerância Ocidental.

[2] Ver Hazleton (2009).

[3] Fato curioso dessa época é a diversidade da escravidão islâmica, assim como a sua relação direta com o governo russo. As mulheres russas poderiam ser vendidas em Novgorod, controlada pelos russos, aos tártaros de Kazan em 1600 conforme a própria lei russa determinava. Alemães, poloneses e lituanos foram autorizados a ser vendidos aos tártaros da Crimeia em Moscou. Em 1665, os tártaros foram autorizados a comprar escravos poloneses e lituanos dos próprios russos. Antes de 1649, os russos podiam ser vendidos aos muçulmanos sob a lei russa em Moscou. Em outros lugares da Europa (territórios não-russos), os muçulmanos não tinham permissão para possuir cristãos.

[4] Em 1552, Ivan IV conquistou Kazan, o mais proeminente dos estados sucessores da Horda Dourada, e iniciou um longo processo de expansão territorial, ocasionando em um diversificado grupo de muçulmanos sob o domínio russo até o final do século XIX.

[5] Desse número, cerca de 90% ou mais são muçulmanos sunitas. Estima-se que 10%, ou 2 milhões, são muçulmanos xiitas.

 

REFERÊNCIAS

AL-JAZEERA. Islam in Russia. 2018.

ARNOLD, Thomas Walker. The preaching of Islam: a history of the propagation of the Muslim faith. Palala Press, 2018.

BARTOV, Omer; WEITZ, Eric D. Shatterzone of Empires: Coexistence and violence in the German, Habsburg, Russian, and Ottoman borderlands. Indiana University Press, 2013.

KAPPELER, Andreas. Die Kossaken. C.H. Beck, 2014.

KHALID, Adeeb. Islam. In Encyclopedia of Russian History. Ed., MILLAR, James, R. George Washington University Press, 2004.

KOLLMANN, Nancy Shields. The Russian Empire: 1450-1801. Oxford University Press, 2017.