As Cruzadas lançadas no período de 1095 a 1292 DC. Tiveram um papel importante nas trocas culturais recíprocas entre muçulmanos e cruzados durante a Idade Média. O desenvolvimento do conceito de cavalaria no Ocidente é um exemplo das influências culturais dos árabes no Ocidente. O conceito tinha uma noção pré-estabelecida para tanto árabes quanto ocidentais. No entanto, os cruzados ficaram impressionados pela versão islamo-árabe e a utilizaram para servir à sua própria cultura. Na Europa, havia vários ritos e tradições que um prospecto a cavaleiro deveria passar para antes de receber sua investidura. De antemão, caveleiros não tinham que pertencem a uma determinada classe e deveriam ser detentores apenas dos atributos da bravura, cavalaria e altruísmo, além de outros traços para se qualificarem como como um cavaleiro. Historiadores dão ênfase ao fato de o conceito arábico de “cavaleiro” ser familiar a eles desde antes do Islã e que tal noção desenvolveu-se como uma consequência de suas longas guerras e batalhas (Dradkeh 1988, 5). Uma das mais compridas guerras arrastou-se por catorze anos e foi acompanhada de uma série de atos de pilhagem, era conhecida pelos árabes tanto de passado quanto de presente pois elas tiveram neles um grande impacto. A guerra era conhecida no folclore arábico como “A Guerra dos Basús” e ela cristalizou nos árabes  a importância da vida e como os indivíduos deveriam vivê-la. As consequências da guerra resultaram na valorização do cavaleiro e das características que este deveria apresentar. A noção de “cavaleiro” evoluiu de questões de interesse humano, efetividade política e um senso maior de justiça divina que os árabes criam que deveriam ser implementadas no mundo que vivemos e não serem renegadas como ideias religiosas abstratas tratando-se do “reino dos céus”.

Houve brutalidades e atrocidades causadas pela guerra em muitos períodos da história árabe. Ao mesmo tempo, havia um consenso por muitas pessoas na necessidade de um sistema de valores para diminuir os efeitos da violência na população. Muitos indivíduos iluminados acossados por cálculos domésticos e um senso de sobrevivência instintiva decidiram que deveria haver um código moral que proibisse a conduta não-humana em conflitos. Muitos cavaleiros concordaram num decreto que ajuda numa possível intervenção inicial para para a escala de um conflito e postularam um código moral para aderirem em tempos de adversidade. Esses traços também foram ovacionados na poesia arábica, pois muitos guerreiros e herois costumavam a cantar em ode a seu heroísmo e cavalheirismo, tais como Antara ibn Shaddad, Al-Zeir Salim ou “Muhalhil”, e Imru’ al-Qais que, dentre muitos outros poetas, distinguiram-se entre si nas História Árabe e Islâmica.

Cavalaria islâmica antes do Islã

Há poucas fontes disponíveis que possam nos dar uma clara definição do conceito de cavalaria árabe antes do advento do Islã pois a maior parte da tradição histórica e literária era oral. Isso não significa que o conceito não existia, mas era levado diferentemente na história literária arábica. No Ocidente durante a Idade Média, a cavalaria tinha seus próprios sistemas e regras que um homem deveria passar antes de acessar esse título. Históricamente, no Ocidente, cavaleiros eram um importante pivô na vida política, social e econômica. Os historiadores apontaram que o sistema feudal europeu teve um importante papel na emergência dessa classe (Hunt 1981, 1-22). O conceito, por circunstâncias históricas, era diferente daquele do mundo árabe pois ele emergiu de um grupo de tradições impostas pelo modo de vida da Península Arábica. O conceito de cavaleiro ou de heroi estava intimamente ligado com bravura e coragem e outras qualidades positivas sem interferência de status social. Alguns cavaleiros não pertenciam à classe alta e eram os traços de bravura e coragem que ajudavam a elevar o status pessoal de um cavaleiro na tribo. Jawad Ali (1978) em nove volumes mostrou numerosas histórias de cavalaria na literatura e história arábica. No quinto volume, Ali cita um famoso exemplo histórico-literário de Antara, que era um escravo na tribo de Abss mas que com sua coragem e bravura ao defender sua tribo acabou tornando-se um dos mais importantes cavaleiros da mesma (361-62). Eventualmente, a bravura de Antara lhe valeu sua liberdade e, com sua posição cavalariça conquistada, um mero escravo, conseguiu casar com sua prima, uma mulher acima de seu status social (Ali 1978, 387-88). Como um cavaleiro, Antara procurou provar que ele era altruísta ao defender seu próprio povo e afugentar seus inimigos. Ao mesmo tempo, Antara se absteve de fazer da guerra um meio de ganhar riquezas e de fato se recusou a tomar parte na divisão nos espólios de guerra e, ao invés disso, dividiu eles entre os guerreiros menos afortunados.

Cavaleiros árabes não tinham na guerra um meio de adquirir riquezas. Antara disse em sua poesia que ele se recusava a deixar que outros lutassem por ele pois não temia a morte. Para Antara, a guerra para ele e outros cavaleiros, é um mal necessário e, destarte, ele não detinha preocupações sobre o o resultado de qualquer batalha. O cavaleiro, no caso de muitas figuras da poesia árabe, é considerado um fruto natural do tipo de vida da era tribal da história árabe. Em adição, a cavaleirice era vista por muitos individuais como uma oportunidade de remover obstáculos na outorga de de status social que seria impossível numa situação ordinária. Entretanto, a realização do status social significava que as qualidades que o cavaleiro deveria apresentar deveriam ser aplicáveis à sociedade civil e o cavaleiro deveria ter um apelo carismático para ter uma considerável influência sobre outros homens. O cavaleiro exercitava uma autoridade doméstica suprema na sua comunidade pois incorporava as qualidades que o distinguiam dos outros.

Há outros exemplos literários arábicos que demonstram como a cultura árabe ajudou a dar forma ao conceito de “cavaleiro”. As tribos árabes constantemente travavam ferozes batalhas entre si em virtude da diária luta por rebanhos, pastos e água. Essas batalhas eram chamadas “Os Dias dos Árabes”, das quais muitas narrativas sobre cavaleiros são derivadas. A poesia pré-islâmica foi o veleiro histórico que preservou e transferiu as imagens literárias de suas vidas e guerras. Para esses cavaleiros, amor e batalha eram quase inseparáveis, e eles constantemente gozavam de seu sucesso em frente a queridas mulheres ou lembrar-se-iam de suas amadas em meio a batalha. Isso era na realidade libertador uma vez que possibilitaria o combatente escapar de uma existência que se provava miserável uma vez que não se podia prever o futuro. A presença da morte significava que o indivíduo não poderia transcender sua existência e, destarte a pessoa teria de se escorar em valores que a manteassem ligada ao universo. Muitos famosos combatentes também eram talentosos poetas que construíram sua própria vivência em dois mundos; aquele no qual batalhas correntes atormentavam sua existência e o outro no qual havia uma idealista vida de paz e estabilidade. Como um exemplo, Antara relembrado sua adorada prima nas mais ferozes batalhas, recitado em um poema em que ele se engaja num duelo de espadas com seu oponente pois o brilho delas lembra o sorriso de sua amada (Qurashi, 488). O poeta, destarte, tinha que abraçar o paradoxo da sua existência e imortalizar sua poesia no conceito de que o destino não está determinado pela última submissão às circunstâncias e que os indivíduos podem tornar o mundo um lugar melhor. Destarte, o individual é capaz de extrair de uma tragédia um sistema moral que o ajudaria a sustentar uma melhor existência para si e para os outros.

Uma das características importantes que eram intimamente associadas com o cavaleiro árabe era aquela da generosidade. Na cultura árabe, é esperado que a pessoa deve oferecer o melhor do que tiver a uma visita exausta viajando sobre as bordas do deserto aberto. Desse modo, um cavaleiro estaria disposto a sacrificar seu novilho, que é a mais preciosa de suas riquezas, para alimentar seu convidado, e o exemplo mais famoso na literatura arábica é Hatim Tayyi’. Essas histórias de generosidade excessiva são abundantes especialmente na era pré-islâmica (Ali 1978, 66). Outras características do cavaleiro incluem a bravura, cavalheirice, perdão e lealdade. Estes traços eram considerados essenciais pois eram o resultado natural da vida no deserto acossada por suas difíceis condições de vida, constantes guerras e, destarte, havia uma necessidade desesperada por um código moral. Como consequência tanto das circunstâncias internas quanto das externas, ser um cavaleiro era um ideal que o povo flertava com, buscava imitar e reforçar como parte de sua cultura.

Cavalaria árabe na era Islâmica

Quando o Islã primeiro foi pregado na Península Arábica, seus crentes reforçaram as já existentes qualidades cavalariças encontradas na cultura tribal do povo. Em virtude da expansão do Islã através da Península Arábica e Síria na maioria das vezes através de batalhas, seus apoiadores procuraram reforçar as leis humanistas durante a guerra. O primeiro Califa, Abu Bakr que reinou imediatamente após a morte do Profeta Muhammad (632-634 DC. / 11-13 H.) começou a lançar várias campanhas militares e aconselhou seu líder militar Usama ibn Zaid numa dessas batalhas depois da morte do Profeta com um discurso que mais tarde se tornaria um referencial para os soldados muçulmanos em como agir no campo de batalha. Abu Bakr aconselhou seus soldados dizendo:

Povo, ouvi meu conselho que deveis preservar: não traias, exageres ou sejas infiel, não desfigureis. Não matai crianças pequenas, ou homens idosos ou mulheres. Não corteis árvores, ou queimem, não corteis colheita, não matais animais a não ser para obter comida. Também verão pessoas que dedicaram-se a si mesmos à oração, deixai-os sozinhos. Também passarão através de pessoas que lhes oferecerão uma variedade grande de comida, dizeis o Nome de Deus sobre ela.” (Al-Tabari, 226-7).

Este código de moral reflete o comportamento cavalariço e mostra como o Islã reforçou certas qualidades em seus apoiadores. Destarte, o Islã é uma religião que abraçou o conceito de cavalaria árabe e adicionou componentes religiosos a uma percepção já existente e seguida por muitos árabes.

O conceito de cavalaria mudou, mas não de maneira dramática, no século XII e tomou um rumo diferente na literatura arábica e na sociedade islâmica pois os muçulmanos estavam lutando contra um inimigo ocidental que era de uma cultura e fé diferente. Historicamente, as mais ferozes batalhas entre os muçulmanos e os cruzados foram lutadas durante estas consecutivas campanhas. Este estudo lança uma luz sobre a mais importante figura das Cruzadas, Saladino, cuja morte em 1193 DC./589 H. ressaltou sua imagem no Ocidente como um cavaleiro árabe e islâmico. Em suas sacras batalhas contra os cruzados, Saladino foi um bravo cavalheiro cavaleiro que ganhou a admiração de seus inimigos e lhes conquistou respeito. Sua influência e legado deixou seu impacto na literatura Ocidental e história até o presente. A atração ocidental a Saladino em particular á majoritariamente atribuída às suas virtudes cavaleirescas que o Ocidente tentou emular.

No final do século XI, cristãos e muçulmanos estavam engajados numa série de batalhas que continuaram por dois séculos. Campanhas militares foram lançadas pelo Ocidente com as bênçãos da Igreja com o propósito de ganhar controle sobre a cidade de Jerusalém e a Grande Síria, ou como era conhecida em árabe, “Bilad al-Sham”. Há numerosas fontes históricas tanto antigas quanto novas, quanto árabes e ocidentais, que discutem diferentes aspectos das Cruzadas. J. J. Saunders (1966) em A History of Medieval Islam pontua que uma significante razão para a invasão dos francos era a vista de um “estabelecimento de um regime cristão no Vale do Nilo” e seu propósito “significaria um mortal golpe no Islã e talvez permitir aos cruzados abrir conexões com as Igrejas isoladas da Núbia e Abissínia” (164). As razões por detrás das cruzadas são inúmeras, todavia, e o zelo religioso era a motivação declarada para a maioria dos soldados cristãos.

Se a defesa da religião atuou como o chamado de ponta para os cristãos da Europa, a Jihad islâmica tomou aspectos religiosos depois que vieram as Cruzadas e atrocidades foram cometidas em nome da religião. É especialmente após a Batalha do Campo Sangrento (1119 DC.) que os muçulmanos começaram a encarar as batalhas com os cruzados como uma guerra santa. Consequentemente, todas as futuras batalhas contra os cruzados viriam a serem vistas como guerras santas e aqueles que nelas lutarem eram considerados defensores da fé e mártires. Ainda que a guerra continuou como um aspecto importante nos encontros entre eles, os combatentes de ambos os lados também engajaram-se em outras formas de comunicação que tornaram possível uma certa troca cultural.

Cavalaria árabe e as Cruzadas

O mais famoso cavaleiro islâmico é Saladino (1138-1193 DC.). Muitos antigos e modernos críticos os citam como o herói “árabe” e como a resposta às suas preces durante tempos difíceis e tumultuosos que enfrentavam e ainda enfrentam os mundos árabe e islâmico. Ele foi um líder islâmico cujos inimigos testemunharam sua ferocidade na batalha assim como sua uma viva incorporação das qualidades esperadas de um cavaleiro. Saladino ganhou seu status na Idade Média, um período de intenso conflito no Ocidente. Enquanto figura histórica e literária, Saladino continuou a inspirar escritores ocidentais até o presente. O modo como que o conceito de cavaleiro desenvolveu-se no Ocidente foi grandemente influenciado pelo comportamento de Saladino, e isto demanda ainda mais investigação uma vez que as fontes árabes, tanto literárias quanto históricas, têm uma abordagem diferente das ocidentais.

Tanto as fontes árabes quanto as ocidentais concordam que o papel militar de Saladino é centrado em dois importantes aspectos. As fontes árabes sumarizam suas conquistas em dois grandes pontos (Ibn Shaddad 1994, 86). A primeira é a unificação das forças islâmicas sob uma bandeira única para combater o exército cruzado. A segunda era a sua habilidade em vitoriosamente defender os muçulmanos de invasões estrangeiras. Fontes ocidentais, todavia, focam na sua capacidade de ter unificado o Islã através do término do governo Xiita sobre o Egito e o mundo árabe por implemtar o Califa Abássida Mustadi ao invés de seu rival Xiita Adid, que era bem impopular ante grande parte das pessoas. Similarmente, Reynold Nicholson (1907) em A Literary History of the Arabs considera os anti-califas xiitas que eram os governantes do Egito até que “o famoso” Saladino tomou o Egito em 1171 DC. e restaurou a fé Sunita. Nicholson, que dedicou uma introdução a Saladino, depois acrescenta que que a ordem dada por Saladino para adicionar a Síria e a famosa Batalha da queda de Jerusalém configuravam as razões para os europeus empreenderem a Terceira Cruzada. Ademais, Nicholson considera as decisões históricas dos Aiúbidas baseadas no fato de que eram “ortodoxos, como [era] necessário dos campeões do Islã contra o Cristianismo” (275). Os Aiúbidas, então, como líderes, eram extremamente populares. Na história árabe, a unificação dos muçulmanos tinha em vista o enfrentamento de um inimigo estrangeiro, uma vez que árabes e muçulmanos têm uma visão positiva no papel que Saladino teve em sua história; estas fontes tendem a ver nele um líder que agiu em prol do geral ao invés do público.

Saladino logo no início de sua carreira militar foi uma figura muito importante por causa de seu sucesso em repelir a ameaça dos cruzados. Nascido em Tikrit, no Iraque, Saladino ganhou sua posição ao associar-se com seu soberano turco, Nur ad-Din. A carreira militar de Saladino possibilitou-o a tornar-se o verdadeiro governador do Egito após a morte de Nur ad-Din e expandir seu domínio lançando campanhas contra os cruzados. Na maioria dessas batalhas, Saladino conseguiu vitórias menores sobre os cruzados. Ele também sofreu alguns revéses. Também, em uma batalha em particular, Saladino quase pereceu como líder militar. Na batalha de Montgisard, perto de Ibelin, em 1177 DC. houve um mortal encontro entre as duas forças hostis. Saladino encontrou Balduíno IV de Jerusalém, Reynald de Châtillon e os Cavaleiros Templários e essas forças combinadas foram brutais e, como consequência, apenas uma fraças de seu exército conseguiu escapar a salvo (Philips 2002, 125).

A maioria das fontes históricas, tanto ocidentais quanto árabes, consideram a vitória que Saladino conquistou na Batalha de Hattin (1187 DC./583 H.) como sendo a razão de seu status de celebridade tanto entre muçulmanos quanto entre cristãos. Nesta batalha, Saladino teve de combater as froças combinadas de Guy de Lusignan, Reynald de Châtillon (conhecido em árabe como Arnat), e Raymond III de Trípoli, dentre outros. Ele ordenou que seus prisioneiros cristãos fossem tratados gentilmente e que fossem deixados confortáveis por qualquer meio. Saladino especialmente recebeu em sua própria tenda alguns prisioneiros militares de alto escalão, incluindo o rei cruzado (Guy de Lusignan), Reynald de Châtillon e outros oficiais. Saladino gentilmente os recebeu com um convidativo sorriso, que foi interpretado de maneiras diferentes em fontes ocidentais. Quando Saladino viu o rei com sede, medo e exaustão, ele ofereceu-lhe água gelada. Enquanto a anedota é narrada por ambas as tradições ocidentais e árabes, ambas pontuam que, quando o rei bebeu um pouco, passou a taça para Reynald. Saladino objetou a ação do rei pois havia feito um juramento de matar Reynald, que era traiçoeiro para com os muçulmanos (Ibn Shaddad 1994, 69-70). Ele ordenou ao intérprete que dissesse ao rei que ele não deu a Reynald bebida pois Saladino havia feito uma promessa pública de matar Reynald dez anos antes, se algum dia este se tornasse seu prisioneiro. (Ibn Shaddad 1994, 130-131). Este incidente foi narrado mais de uma vez por Ibn Shaddad e também foi referenciado por historiadores ocidentais (Lyons 1982, 264). Era de conhecimento geral entre todos os muçulmanos que Reynald, que detinha uma fortaleza (na localidade conhecida como Keraq, Jordânia) havia atacado, frequentemente pilhado e matado muçulmanos peregrinos no seu caminho até Meca. Ele também atacou mercadores e era arrogante o suficiente para querer lançar uma campanha para invadir os locais sagrados de Medina (Lyons 1982, 264). O incidente em si foi interpretado por cronistas islâmicos como um exemplar tratamento de prisioneiros pois o rei temia que Saladino o matasse. Ao invés disso, Saladino lhe disse que “reis não matam reis” (Ibn Shaddad 1994, 69-70). Destarte, o comportamento de Saladino era visto como imitável, justo e apropriado. O modo como um cavaleiro árabe trata um inimigo é diferente de outros combatentes que não davam nenhuma anistia a seus prisioneiros.

A literatura e historiografia ocidental se embasou no mesmo material histórico para louvar e condenar Saladino. Algumas fontes foram tão longe a ponto de considerar alguns fatos como sinais da brutalidade de Saladino na guerra. O incidente, assim como na versão de Lyon das Eracles postula que Saladino ordenou-lhe que tomasse da taça, e então o executou (cit. Em Jubb 2000, 45). Essa versão, ainda que não muito popular, mostra as diferentes perspectivas que os europeus tinham de Saladino. Os historiadores árabes, do outro lado, louvaram Saladino em cada uma das anedotas pois, compreensivelmente, ele é um herói“nacional”. De qualquer forma, o louvor deveria ser também interpretado como uma apropriação cultural do que deveria ser feito numa dada circunstância, e as fontes árabes concordam que Saladino sempre agiu com justiça e piedade.

Destarte, a historiografia árabe foca em anedotas que demonstram a cavalheirice praticada por Saladino no tocante a obrigações militares e obrigações de família. Um exemplo é o encontro entre Saladino e o cruzado príncipe Balian II de Ibelin, o governante de Ramla. Esse príncipe fugiu de Hattin enquanto sua esposa ainda estava em Jerusalém. Após a vitória em Hattin e a aproximação de Saladino de Jerusalém, Balian foi até Saladino e pediu permissão para buscar sua esposa na cidade. Balian também prometeu não lutar junto aos cruzados e que sua estadia duraria apenas uma noite. Depois que teve seu desejo assentido, os cruzados pediram a Balian para que ficasse e lutasse contra Saladino. Como um cavaleiro cristão, Balian sabia que segundo os costumes da cavalaria deveria manter sua palavra, encontrando-se numa difícil situação. Ele, então, decidiu ir ter com Saladino, que admirou-se de seu zelo cavalheiresco e o liberou de sua promessa. Na realidade, Saladino foi além e assegurou a segurança de sua esposa enquanto seu marido estava ocupado planejando defender a cidade contra Saladino (Ibn al-Athir 1993, 211). Nestes termos, Saladino provou-se um cavaleiro pois ele admirava as qualidades da cavalaria independentemente da fé.

A cavalheirice de Saladino foi reconhecida por historiadores ocidentais em seu tratamento de prisioneiros depois da captura de Jerusalém. Saladino conseguiu capturar Jerusalém através de um tratado (1187 DC./583 H.) e os cruzados renderam a cidade sem luta. O tratado permitiu aos cruzados deixar Jerusalém em paz com seus pertences (Lane-Poole 1978, 218). Fontes árabes indicam que os cruzados tiveram que pagar para indulgenciarem-se a si mesmos a soma de dez dinares para homens, cinco para mulheres e um para as crianças. O tratado também concedeu aos cruzados um período de quarenta dias para providenciar o resgate. Isso permitiu que milhares de cativos fossem libertados, mas depois que o tempo acordado findou, ainda haviam muitos cativos que eram pobres europeus que não podiam arcar com o preço do resgate. Eles foram até Saladino pedir para que os libertasse e Saladino concordou com a proposta de Balian que pagassem a soma coletiva de trinta mil dinares por sete mil cativos. Desse modo, o preço do resgate caiu para quatro dinares por pessoa. Saladino, então, concordou com a proposta de libertar mil prisioneiros de graça, e somou a estes mais quinhentos agraciados. Saladino então ordenou todos os cativos velhos e do sexo feminino que tivessem parentes masculinos aprisionados serem libertos. Ainda mais, ele ainda deu a viúvas dinheiro para a viagem de retorno nos navios, como mencionado tanto nas fontes árabes (Ibn al-Athir 1993, 184-3) quanto nas ocidentais sobre os cruzados (Lane Poole 1978, 218).

Isso documenta um gesto histórico que expõe a cavalheirice de Saladino em duro contraste da forma como os cruzados tratavam seus adversários quando eram vitoriosos. O rei Ricardo, em Acre, que conquistou uma uma vitória quatro anos antes decidiu agir diferente com seus cativos muçulmanos. Ele ordenou que todos os homens, mulheres e crianças fossem assassinados (Ibn al-Athir 1993, 262). As fontes ocidentais também mencionam o massacre de indivíduos inocentes (Archer 1989, 210-12). A brutalidade no tratamento para com os prisioneiros pelos cruzados enfatiza a discrepância entre as motivações religiosas dos cruzados e suas ações atrozes. Os fatos históricos muitas vezes apontam para o fato da percepção ocidental de cavalaria ser intrinsecamente diferente em virtude da diferença no escopo cultural dos cruzados. A sangrenta história da Europa tanto no passado quanto no presente testifica a natureza militar da luta. Os voluntários nas campanhas foram por diferentes razões. Em adição ao fervor religioso, havia outros que participaram por razões econômicas, sociais e políticas. O fator econômico em particular teve um importante papel pois as tentativas europeias continuaram no Mediterrâneo por um longo período de tempo e não acabaram até que o foco transferiu-se para o Novo Mundo. Os eventos históricos mostraram uma incongruência na conduta dos cruzados cujo zelo religioso por excomunhão era inconsistente a seus frequentes atos de pilhagem e assassinato de civis inocentes.

Saladino, por outro lado, acreditava que crença e comportamento estavam interligados e seguia a conduta islâmica no combate a pessoas de outras fés. Acadêmicos europeus apoiaram a narrativa de que Saladino tratou gentilmente os cruzados quando adentrou em Jerusalém e proibiu seus homens de atacá-los. Fontes árabes citam a decisão de Saladino de formar um grupo de guarda para prevenir qualquer ato de violência contra aqueles deixados para trás como exemplar. Ele também permitiu que cristãos árabes, que eram mais simpáticos aos muçulmanos que retornassem para casa depois que os cruzados os perseguiram e baniram da cidade (Ibn al-Athir 1993, 184). Provando-se para amigos e inimigos, Saladino sempre escolheu ser gentil quando poderia ter agido de outro modo.

Todavia, se o povo fosse sua única preocupação, Saladino não teria sido o grande líder que o Ocidente admirou e teve em estima. Além do seu respeito pela vida humana, Saladino também mostrou grande respeito pelos locais sagrados cristãos. Por exemplo, quando um grupo de muçulmanos lhe requeriu que destruísse a Igreja da Ressureição em vingança pelo que os cristãos fizeram com os locais sagrados muçulmanos, Saladino recusou sua oferta e ainda aumentou a segurança nesses locais sagrados. Pesquisadores pontuaram a disparidade entre isso e a inicial ocupação cristã de Jerusalém, quando príncipes cristãos pesadamente pilharam a cidade e mataram seus habitantes até que o sangue lhes batesse nos joelhos pelas ruas (Ibn Shaddad 1994, 140). As fontes árabes focam no aspecto religioso do comportamento cavaleiresco de Saladino para servir como um contraste à hipocrisia dos cruzados de suas intenções religiosas declaradas e seus atos imorais executados que constituíam a norma de seu comportamento.

O respeito de Saladino para com a religião também se manifestou no seu tratamento dado ao Patriarca Latino de Jerusalém. Quando Saladino sitiou a cidade, o Patriarca implorou que ele liberasse os cruzados. Não apenas Saladino concordou com a proposta, como também o permitiu partir com suas riquezas e mandou guardas para que o escoltassem patra fora da cidade, com o cruzado pagando apenas uma soma insignificante de dez dinares. Ibn al-Athir narra em seu famoso livro (Alkamal fil Tarik) sobre a quantidade de riquezas que o Patriarca levou consigo quando saiu da cidade. Para os muçulmanos, isso provou ser uma descoberta chocante e um dos conselheiros de Saladino lhe disse que o Patriarca não deveria ter levado os pertences da Igreja consigo. Saladino respondeu que ele estava honrado o tratado que firmara com os cruzados e que promessas deveriam ser cumpridas. Saladino, destarte, estava apenas reforçando sua posição como defensor da fé e não como um homem que persegue prazeres mundanos em nome da religião (Ibn al-Athir 1993, 184).

Tanto historiadores árabes quanto ocidentais concordam no que diz respeito ao comportamento cavaleiresco de Saladino e com relação às mulheres como sendo digno de um genuíno cavaleiro. Isso se manifesta na abundância de histórias de sua nobreza para com as mulheres. Ele exemplificou essa cavalheirice com as esposas de príncipes que foram deixados para trás ou foram capturados em batalhas. Depois da batalha de Hattin, ele deu à princesa da Galileia anistia e permissão para ela e seus filhos juntarem-se a seu marido, Príncipe Raymond. Quando Saladino entrou em Jerusalém, ele também libertou a esposa de Guy de Lusignan e a permitiu juntar-se a seu marido. Saladino também tratou com gentileza a viúva de seu arqui-rival Reynald de Châtillon e, depois que o irmão de Saladino conquistou o forte de Al-Kerak, libertou seu filho aprisionado. Também, Saladino permitiu às freiras cristãs que partissem de Jerusalém (Ibn al-Athir 1993, 184). O cavaleiro árabe através de seu tratamento humano trouxe o conflito ao ponto que realmente importa em relações humanas. A interpretação de seu ato era aceitar o paradoxo inerente do conceito de liberdade individual e predestinação divina na guerra religiosamente motivada. Ela ilumina o significado da personalidade cativante de Saladino e sua habilidade de transcender o derramamento de sangue de seu tempo, motivado por crenças religiosas.

A cavalheirice de Saladino também foi estendida aos idosos que foram vítimas das batalhas. Em uma anedota mencionada em fontes árabes, os árabes muçulmanos mandaram para Saladino, que estava lutando em Acre, cerca de duzentos prisioneiros cristãos após os terem capturado em Beirute (1191 DC./ 587 H.). Saladino viu, dentre a multidão, um senhor idoso e ordenou ao intérprete que lhe perguntasse seu lugar de origem e seu propósito. O velho respondeu que vinha de um lugar a dez meses de distância e sua motivação de ida era peregrinação. Saladino ordenou que o prisioneiro fosse solto e o liberou (Ibn Shaddad 1994, 236). Ibn Shaddad também narra uma anedota sobre um muçulmano que roubou um bebê da tenda de sua mãe. Quando a mãe percebeu que seu filho estava desaparecido, os outros cruzados a encorajaram a ir até Saladino em busca de ajuda. Com a assistência de um intérprete, ela conseguiu contar sua história. Outros à volta de Saladino o viram comovido por lágrimas pelo relato, ao que ele ordenou uma busca pelo bebê perdido. Quando Saladino descobriu que a criança fora vendida, ele pagou pelo seu retorno e deu o bebê de volta para sua mãe (ibid. 240). A gentileza foi imediatamente reconhecida por outros combatentes muçulmanos como uma lição de que a guerra que não tem princípios não é uma guerra santa e não pode ser vencida. Saladino efetivamente iniciou uma iniciativa de política externa que enfatizava a importância do elemento humano nas suas relações diplomáticas com outros.

Em batalhas tardias, Saladino continuo a mostrar sua cortesia para os Cruzados. Alguns desses memoráveis encontros históricos citam Saladino permitindo que os cruzados se retirem em tempos de paz e sua ânsia de firmar um tratado em Ramla, para dar-lhes uma chance de lhes manter com seus suprimentos e homens (Ibn Shaddad 1994, 324). Destarte, Saladino firmou um exemplo para eles e para outros muçulmanos também, e estabeleceu uma nova definição de “guerra religiosa” e seus propósitos à despeito do comportamento dos cruzados cuja intenção por certo era de infligir destruição nos lugares e pessoas. O que parece aos historiadores é que Saladino estava ciente das muitas expectativas dos outros e procurou trazer paz à região.

Saladino representava a cavalaria arábica à época das Cruzadas. Ele era o parágono das qualidades louvadas em um cavaleiro tanto para árabes quanto para ocidentais. Na historiografia e literatura ocidental, o cavaleiro enquanto conceito tomou muitas perspectivas, mas foi mais tarde redefinida depois do encontro com Saladino. Margaret Jubb (2000) no prefácio de The Legende of Saladin in Western Literature and Historiography mostra como o Ocidente tinha uma grande admiração pelo seu caráter. De acordo com Jubb, Saladino provou ser uma força a ser reconhecida na efervescência da Segunda Cruzada (1148-50 DC.), tornando-se para os cristãos “um elemento de desejo, com os escritores cristãos imaginando sua conversão, secreta ou aberta, e também de comandantes muçulmanos, que haviam participado na derrota de seus correligionários” (xi). Alguns dos contos mais antigos de Saladino começara no século XIII na alegoria Ordere de Chevalerie. Traçando estas histórias na literatura ocidental até o presente, Jubb (2000) constata que Saladino e seu status são lendários pois apareceram em muitas literaturas e línguas europeias. Também havia uma situação paradoxal entre as muitas nações europeias em como viam Saladino, que era sabido ser um grande inimigo da Cristandade e, ao mesmo tempo, a incorporação dos valores cavaleirescos para com eles.

Nos frequentes encontros de Saladino com os cruzados, houveram muitas situações em que os próprios cruzados divergiam na interpretação das ações de Saladino, especialmente sua gentileza para com eles. A mais interessante característica de seu inimigo era sua incoporação de de qualidades que eles não esperavam de alguém com uma fé diferente da sua. Por exemplo, quando Ricardo passou quatro terríveis meses em Ascalon com poucos suprimentos, Saladino não os atacou. Os seguidores de Ricardo assumiram que o motivo por trás de sua recusa e, atacá-los em vulnerabilidade era sua nobreza. A razão real, todavia, era que Saladino precisava descansar suas tropas enquanto aguardava por reforços de Jezireh e Mosul (Runciman 1951, 62). Como uma tática, Saladino frequentemente usava o recolhimento para angariar mais força para atacar e sua proeza lhe valeu um significante e ímpar status como campeão da Ortodoxia Sunita (Philips 2002, 123). Destarte, muitos acadêmicos focaram em seu engajamento militar com os cruzados para construir uma imagem do famoso líder marcial. Os relatos que contribuem para a idealização de Saladino vêm de suas ações humanistas com relação a seus seguidores e inimigos. A complexidade do fato histórico vem com os diversos pontos de vista dos escritores que por sua vez vêm de diversos fundos culturais e como reagiram a Saladino. Antes da guerra, os homens cristãos que íam à Terra Santa entendiam, principalmente, que seu objetivo religioso era batalhar contra ‘demônios’. O contexto religioso moldou a natureza do intercâmbio cultural e, mais tarde, tais crenças foram postas em xeque. A inundação de tantas pessoas da Europa em um período estendido de tempo levou a uma integração na nova cultura, e a diversidade dos cruzados consequentemente iniciou uma transformação na mudança do zelo religioso inicial e sua motivação para ficarem.

Enquanto os historiadores ocidentais e escritores literários variam suas interpretações, árabes e muçulmanos encontram em Saladino uma figura exemplar de cavalaria árabe e uma imagem emulada na guerra e em defender a fé. Em “Uma Eulogia à Saladino” o famoso príncipe guerreiro Usama Ibn Munqidh louva a Saladino como um defensor do Islã. Ele cita as realizações de Saladino como um grande tributo para todo o reino do Islã e ilustra a generosidade de Saladino:

...nosso senhor al-Malik al-Naisir Salah al-Dunya w’al-Din, o Sultão [101] dos muçulmanos, o unificador do credo da fé, o aniquilador dos adoradores da cruz, o portador do estandarte da justiça e da benevolência, o ressuscitador da dinastia do comandante dos fiéis, Abu al-Muzaffar Yusuf ibn Ayyub. Que Allah abençoe o Islã e os muçulmanos por sua loinga existência, e lhes dê vitória através de suas afiadas palavras e conselhos, e que espalhe muito bem sua sombra protetiva, assim como Ele [Allah] tornou pura a eles a fonte de seu beneplácito! Que Allah faça serdm ouvidas através do mundo todo suas altas ordens e proibições e que coloque suas poderosas palavras sobre o pescoço de seus inimigos! Pois sua piedade me procurou correndo a terra, e eu estava além das montanhas e planíces num canto esquecido do mundo, não tendo posessões ou família. (195-6)

Como ilustrado pelo texto, escritor expressa o sentimento árabe com relação ao heroi exemplar em todos os aspectos. O conhecimento de que um governante poderia ter usado seu poder para se tornar rico e ainda assim recusou-se a agir de tal maneira foi considerado um modelo digno de respeito e admiração.

O desenvolvimento do caráter cultural do conceito de “cavalaria” originou-se distintamente daquela do mundo árabe que evoluiu no exemplo de Saladino, sendo esse modelo mais tarde implementado num contexto ocidental. O conceito de cavalaria tem conotações culturais específicas e é altamente influenciado por seu background islâmico. Saladino provou-se um modelo que os cruzados ocidentais escolheram admirar e imitar no seu desenvolvimento do conceito de cavalaria. O exemplo de Saladino como cavaleiro permeia o mundo árabe e islâmico na literatura e na história até hoje tanto quanto fez no passado. No Iraque moderno, por exemplo, há um governorato de “Sala ad-Din”. Mais importante é o legado que Saladino deixou para o mundo islâmico. Como um cavaleiro, ele provou que os valores e virtudes da cavalaria deveriam ser parte do caráter de um indivíduo mesmo quando no meio de feroz batalha e quando exércitos invasores não demonstram a mesma compaixão. Ele se tornou o sultão do Egito e da Síria e fundou a dinastia Aiúbida, que governou grande parte do mundo árabe, incluindo o Egito, a Síria, o Iraque, o Hejaz e o Iêmen. Quando Saladino morreu em Damasco em 1193, acharam seu tesouro pessoal vazio, pois ele havia dado a maior parte de seu dinheiro para a caridade, provando-se a amigos e inimigos ser um cavaleiro digno de seu título.

Conclusão

O modelo de Saladino ainda permeia a cultura árabe. Muitos acadêmicos enfatizam a sua importância para as modernas sociedades árabes. Saladino tornou-se um mito como um talentoso político e seu exemplo se infiltrou e influenciou a cultura popular árabe e líderes árabes modernos, independente de sua agremiação política. Tais nomes incluem muitos governantes controversos, como Abdul Nasser, Saddam Hussein e Hafez al-Assad. No século XX, o exemplo de Saladino tem um papel importante no pensamento político árabe, ficção histórica, filmes e no pensamento popular (Sayfo 2017, 65-68). A figura de Saladino gesticula em direção a uma série de fatos representativos que governam as relações entre o Ocidente e o Oriente tanto no passado quanto no presente. O estudo de Saladino e sua influência nas audiências dos dois mundos tem implicações para os estudos pós-coloniais.

A admiração que Saladino recebeu de ambas as culturas islâmica e ocidental no passado e no presente mostra que como uma figura pública, ele permanece um mítico heroi militar difícil de ser seguido. A mentalidade da maioria dos militantes que apoiam a violência e desconsideram o pano de fundo cultural de emergência do conceito não seriam capazes de emular a Saladino. Os cruzados relegaram o conceito de cavalaria a um ideal inalcançável pois estavam preocupados em receberem novos recutas, ricas doações e lucros comerciais. Infelizmente, o legado de Saladino não se estendeu sobre os homens que diziam estar consolidando a liderança papel sobre territórios religiosos. Ao invés, as comunidades foram muitas vezes estabelecidas para levantar exércitos e assimilá-las a uma cultura militar. Os resultados foram que o comportamento dos militantes ajudou a criar uma barreira entre as relações dos povos. Os assentamentos em Jerusalém e outras cidades, destarte, são consideradas historicamente como um experimento no estabelecimento da mais moderna forma de colonização que tomou o século XX. Infelizmente, o exemplo de Saladino não extraiu uma mudança significativa das relações entre o Ocidente e o Oriente e sua figura permanece como sendo uma a ser admirada pela sua excepcionalidade

Fonte: Migration of a Cultural Concept: Arabian Knighthood and Saladin as a Model – Raja Khaleel Al-Khalili, Maen Ali Al-Maqableh, Advances in Language and Literary Studies (2019).