A ilha da Sicília não é um lugar que a maioria de nós associaria imediatamente a ter sido um poderoso reino islâmico. No entanto, entre 841 e 1091, o Emirado da Sicília foi um importante centro político do mundo muçulmano. Arqueólogos analisando resíduos microscópicos de alimentos em uma amostra de 134 panelas medievais, datando de 1.120 anos atrás, descobriram que nem todos na Sicília eram obrigados a seguir as tradições dietéticas islâmicas. Os resultados científicos mostram que nas áreas rurais da Sicília “se consumia carne de porco”, apesar de o Islã proibir estritamente o consumo do animal e seus derivados.

Um novo estudo publicado na PLOS One mostra que, enquanto a Sicília estava sob domínio islâmico há cerca de 1.120 anos, “alguns nativos se banqueteavam com carne de porco”, o que infringia diretamente as leis religiosas islâmicas.

A autora principal do novo estudo, Dra. Jasmine Lundy, da Universidade de York, disse em um comunicado que sua equipe de pesquisadores internacionais analisou resíduos de alimentos em “134 panelas medievais usadas entre os séculos 9 e 12”. Os resultados demonstraram como a dieta siciliana antiga dependia de quais alimentos estavam disponíveis localmente e isso mudava muito de uma região para outra.

A ilha da Sicília foi governada pelo Emirado da Sicília de 831 a 1091 e Palermo era o principal centro cultural e político do emirado, e junto a Córdoba, um dos locais mais brilhantes da Europa. Aproximadamente 83 dos fragmentos de panelas medievais vieram de Palermo, enquanto os outros 51 eram da zona rural de Castronovo di Sicilia, no centro da Sicília.

O último artigo da pesquisa explica que as pessoas que viviam na antiga Palermo “comiam alimentos que refletiam seus conquistadores islâmicos, como carne bovina, carneiro e uma variedade de vegetais”. No entanto, as pessoas que viviam mais longe do centro da vida islâmica da Sicília também comiam "porcos, assim como laticínios e uvas", de acordo com o novo estudo.

A Dra. Jasmine Lundy e sua equipe testaram panelas medievais usadas entre os séculos 9 e 12 que foram encontradas na cidade de Palermo e na cidade rural de Casale San Pietro. Os que moravam em Palermo comiam “boi, ovelha e verduras variadas”, sem vestígios de gordura suína. Em contraste, a maioria das amostras de cerâmica da Sicília rural continha carne de porco.

A Dra. Lundy explica no jornal que o consumo de carne de porco era (e ainda é) proibido na religião islâmica, “o que se reflete em sua ausência de fontes literárias culinárias”. Além dessas novas observações dietéticas, embora os traços de carne de porco estivessem presentes nas amostras rurais, “não havia evidência de que os povos antigos incluíssem produtos marinhos ou de água doce, que é um alimento básico entre os sicilianos modernos”, escreveu a Dra. Lundy.

No entanto, o novo estudo destaca as principais diferenças entre as dietas rurais e urbanas na sociedade medieval siciliana. Em conclusão, os resultados do novo estudo mostraram que os muçulmanos sicilianos urbanos desfrutavam de uma grande variedade de vegetais, frutas e sucos, enquanto muitos agricultores rurais cristãos, desfrutando da permissibilidade religiosa islâmica para minorias, mantinham criações de suínos.

A capital da ilha, Palermo, continuou sendo uma das cidades mais ricas da Europa após a conquista normanda por Rogério I. Em 1206 houve uma rebelião muçulmana na ilha. E a partir de 1223, após a ascensão de Frederico II ao poder, os cristãos começaram a deportar os 60.000 habitantes muçulmanos da Sicília. A partir de então, a Sicília começou a produzir e consumir porcos em massa de maneira mais generalizada.

Fonte: journals.plos.org