Nascido por volta de 1494, no recém tomado Reino de Granada, Hasan ibn Muhammad al-Wazzan al-Fasi partiu da Espanha católica ainda criança com seus pais, em busca de uma terra mais segura para muçulmanos, estabelecendo-se em Fez, no Marrocos. Em Fez, ele estudou na famosa Universidade de al-Qarawiyyin, tornando-se um prodigioso erudito. Aos 16 anos ele acompanhou um tio em uma missão diplomática, chegando até a cidade de Timbuktu (c. 1510), então parte do Império Songhai no Mali. Em 1517, ao retornar de uma missão diplomática a Constantinopla em nome do sultão de Fez Muhammad II, ele se encontrou no porto de Roseta durante a conquista otomana do Egito. Lá, continuou sua jornada pelo Cairo e Aswan e através do Mar Vermelho até a Arábia, onde provavelmente realizou uma peregrinação a Meca.

Em seu caminho de volta para Túnis em 1518, ele foi capturado por piratas espanhóis perto da ilha de Djerba ou, mais provavelmente, perto de Creta, e preso na ilha de Rodes, o quartel-general dos grandes escravagistas do Mediterraneo, os Cavaleiros Hospitalários. O destino usual dos prisioneiros muçulmanos não resgatados era a escravidão nas galés cristãs, mas quando seus captores perceberam sua inteligência e importância, ele foi transferido para o Castelo Sant'Angelo em Roma e apresentado ao Papa Leão X.

Ele logo foi libertado e recebeu uma pensão para persuadi-lo a ficar, e ajudar nos planos do Vaticano. Lá, se por pressão ou voluntariamente, acabou encontrado o destino que seus pais queriam evitar quando fugiram da Espanha, e ele foi batizado na Basílica de São Pedro em 1520. Adotando o nome latino Giovanni Leone de Medici, em referencia ao papa, que era da poderosa familia Medici.. Em árabe, ele preferiu traduzir este nome como Yuhanna al-Asad al-Gharnati, literalmente ‘’João, o Leão de Granada’’, dai seu pseudônimo que ficaria famoso, “Leão, o Africano’’ (Leo Africanus),. É provável que Leão tenha sido bem-vindo na corte papal, pois o Papa temia que as forças turcas pudessem invadir a Sicília e o sul da Itália, e um colaborador disposto poderia fornecer informações úteis sobre o Norte da África.

Leão deixou Roma e passou os três ou quatro anos seguintes viajando pela Itália. A morte de seu patrono, o papa Leão X em 1521 e as suspeitas do novo papa Adriano VI contra um muçulmano na corte vaticana foram provavelmente o motivo de sua saída de Roma. Enquanto permaneceu em Bolonha, ele escreveu um tratado médico árabe-hebraico-latino, do qual apenas a parte árabe sobreviveu, e uma gramática do árabe da qual apenas um fragmento de oito páginas sobreviveu. Ele retornou a Roma em 1526 sob a proteção do novo papa, Clemente VII, um primo de Leão X que substituiu Adriano. De acordo com Leão, ele completou seu manuscrito sobre geografia africana no mesmo ano, conhecido como ‘’Descrição da África’’. A obra foi publicada em italiano com o título ‘’Della descrittione dell’Africa et delle cose notabili che iui sono’’, por Giovan Lioni Africano em 1550 pelo editor veneziano Giovanni Battista Ramusio. O livro provou ser extremamente popular e foi reimpresso cinco vezes. Também foi traduzido para outras línguas. As edições francesa e latina foram publicadas em 1556, enquanto uma versão em inglês foi publicada em 1600 com o título ‘’A Geographical Historie of Africa’’ (Uma história geográfica da África). O tratado geografico escrtio por Leão foi o mais completo sobre a África na Europa até então, e impulsionaria as viagens e mapeamentos das gerações futuras.

Existem várias teorias sobre sua vida posterior, e nenhuma delas há uma unanimidade historiografica. De acordo com uma teoria, ele a passou em Roma até morrer por volta de 1550, ano em que Descrição da África foi publicada. Essa teoria foi baseada em alusão indireta em um prefácio posterior deste livro. De acordo com outra teoria, ele partiu pouco antes do saque de Roma pelas tropas de Carlos V em 1527. Ele então retornou ao Norte da África e viveu em Túnis até sua morte, algum tempo depois de 1550. Isso foi baseado em registros do orientalista alemão Johann Albrecht Widmannstetter, que chegou à Itália e planejou (mas acabou falhando) viajar para Tunis para encontrar Leão, que desde então havia se reconvertido ao Islã. Outra teoria diz que ele deixou Túnis depois que ela foi capturada por Carlos V em 1535 para o Marrocos, seu segundo país natal depois de Granada, onde seus pais ainda viviam. Isso foi baseado na suposição de que Leão, tendo fugido de Granada, não gostaria de viver sob o domínio cristão espanhol novamente, e seu desejo (registrado em seu próprio livro) de que ele queria voltar ao seu país natal. Alguns historiadores especulam que William Shakespeare pode ter se inspirado no livro de Leão e sua história para criar seu personagem mouro, o famoso Otelo.

Bibliografia:


-Masonen, Pekka (2001). "Leo Africanus: the man with many names" . Al-Andalus Magreb. 8–9: 115–143.

-Rauchenberger, Dietrich (1999). Johannes Leo der Afrikaner: seine Beschreibung des Raumes zwischen Nil und Niger nach dem Urtext,. Wiesbaden: Harrassowitz.

-Black, Crofton (2002). "Leo Africanus's Descrittione dell'Africa and its sixteenth-century translations". Journal of the Warburg and Courtauld Institutes. 65: 262–272.

-Whitney, Lois (1922). "Did Shakespeare know Leo Africanus?". Publications of the Modern Language Association of America (PMLA). 37 (3): 470–483.