Otelo, conheça o contexto histórico do personagem muçulmano de Shakespeare
Autor: Guilherme Freitas 20/04/2022A literatura traz inúmeros benefícios para quem a lê, enriquecendo o vocabulário, a imaginação e a cultura dos indivíduos. Dentre os inúmeros gêneros literários existentes, algumas obras e autores se destacam na história da literatura ocidental e mundial, sendo Shakespeare um dos maiores nomes de todos os tempos, cuja fama precede seu nome sempre quando citado.
Nascido na Inglaterra do século XVI, William Shakespeare (1564-1616) é considerado o maior escritor na língua inglesa, assim como o maior dramaturgo de todos.
Shakespeare produziu a maioria de suas obras conhecidas entre 1589 e 1613. Suas primeiras peças foram principalmente comédias e histórias e são consideradas algumas das melhores obras produzidas nesses gêneros. Ele escreveu principalmente tragédias até 1608, entre elas Hamlet, Romeu e Julieta, Otelo, Rei Lear e Macbeth, todos considerados entre as melhores obras da língua inglesa.
Assim como inúmeras outros escritos da história literária, podemos encontrar inúmeras questões sociais, políticas, religiosas e culturais em algumas obras, uma vez que a realidade onde o autor estava inserido por vezes tinha um peso enorme nas suas criações. Esse é o caso, por exemplo, de Otelo, o Mouro de Veneza, uma das obras mais famosas de William Shakespeare.
A história da obra de Shakespeare gira em torno de dois personagens, Otelo e Iago. Otelo é um comandante militar mouro que servia como general do exército veneziano na defesa de Chipre contra a invasão dos turcos otomanos. Ele havia se casado com Desdêmona, uma bela e rica dama veneziana muito mais jovem que ele, contra a vontade de seu pai. Iago é o alferes de Otelo, que maliciosamente atiça o ciúme de seu mestre até que o mouro geralmente mata sua amada esposa em um acesso de raiva. Devido aos seus temas pertinentes e, diria, até perenes de paixão, ciúme e racismo, Otelo ainda é atual e popular e é amplamente reproduzido com inúmeras adaptações até os dias de hoje.
O foco do presente texto, contudo, não é descrever a obra de Otelo e caçar referências islâmicas ocultas nos escritos de Shakespeare. Ora, o próprio título da obra já revela que foi baseado em maior ou menor grau na realidade proveniente do Islã: “Otelo, o Mouro de Veneza”. O foco do texto será as motivações por trás da obra de Shakespeare, isto é, os acontecimentos reais que o autor baseou os seus escritos.
A guerra otomano-veneziana
Otelo muito provavelmente foi escrito por volta de 1603 e se passa durante a guerra Otomano-veneziana de 1570-1573, que foi travada entre o Império Otomano e a República de Veneza, esta última aderida pela Santa Liga, uma coalizão de estados cristãos formada sob o apoio do papa, que incluía a Espanha (com Nápoles e a Sicília), a República de Gênova, o Ducado de Saboia, os Cavaleiros Hospitalários, o Grão-Ducado da Toscana e outros estados italianos.
A guerra começaria com a invasão por parte do sultão Selim II ao Chipre, até então território veneziano. Em 1570, um ataque otomano de grande escala com 60.000 soldados colocou a ilha sob controle otomano, apesar da forte resistência dos habitantes de Nicósia e Famagusta. A capital Nicósia e várias outras cidades caíram rapidamente para o exército otomano consideravelmente superior, deixando apenas Famagusta em mãos venezianas. Os reforços cristãos chegaram atrasados e Famagusta acabou caindo em agosto de 1571 após um cerco de 11 meses. Dois meses depois, na Batalha de Lepanto, a frota cristã unida destruiu a frota otomana, mas não conseguiu tirar proveito dessa vitória [1]. Os otomanos rapidamente reconstruíram suas forças navais e Veneza foi forçada a negociar pela paz, cedendo Chipre aos otomanos e pagando um tributo de 300.000 ducados.
Os otomanos aboliram o sistema feudal anteriormente em vigor e aplicaram outro sistema em Chipre, sob o qual os povos não muçulmanos eram governados por suas próprias autoridades religiosas. Diferentemente dos dias do domínio latino, o chefe da Igreja de Chipre foi investido como líder da população cipriota grega e atuou como mediador entre os cipriotas gregos cristãos e as autoridades otomanas. Esse status garantiu que a Igreja do Chipre estivesse em posição de acabar com as constantes invasões dos fiéis católicos Romanos.
Ainda no que diz respeito ao governo otomano, por vezes o mesmo era indiferente e às vezes mais opressivo, dependendo do temperamento dos sultões e autoridades locais.
Contudo, quais foram as razões que levaram à invasão otomana em Chipre?
A ilha de Chipre, conhecida pela sua extensão e riqueza, estava sob domínio veneziano desde 1489. Juntamente com Creta, era uma das principais possessões ultramarinas da República de Veneza, com a população grega nativa estimada em 160.000 em meados do século XVI. Além de sua localização, que permitia o controle do comércio levantino, a ilha possuía uma lucrativa produção de algodão e açúcar. Para salvaguardar sua colônia mais distante, os venezianos pagavam um tributo anual de 8.000 ducados aos sultões mamelucos do Egito. Após sua conquista pelos otomanos em 1517, o acordo foi renovado. No entanto, a localização estratégica da ilha no Mediterrâneo Oriental, entre o coração otomano da Anatólia e as províncias recém-adquiridas do Levante e do Egito, fez dela um alvo tentador para a futura expansão do Império. Além disso, a proteção oferecida pelas autoridades venezianas locais aos corsários que assediavam a navegação otomana, incluindo os peregrinos muçulmanos a Meca, irritou a liderança otomana.
Após o término da guerra com os Habsburgos na Hungria em 1568, os otomanos agora podiam voltar sua atenção totalmente para o Chipre. O sultão Selim II havia feito da conquista da ilha sua primeira prioridade já antes de sua coroação em 1566, relegando a ajuda otomana à Revolta Mourisca contra a Espanha e os ataques contra as atividades portuguesas no Oceano Índico a um plano secundário. Muito embora o sultão tivesse a fama de ser beberrão e Chipre a fama de possuir vinhos incríveis, o principal instigador político do conflito, segundo relatos contemporâneos, foi Joseph Nasi, um judeu português que se tornara amigo íntimo do sultão e que já havia sido nomeado para o cargo de duque de Naxos com a ascensão de Selim. Nasi nutria ressentimento em relação a Veneza e esperava sua própria nomeação como rei de Chipre após sua conquista (fato curioso é que ele já tinha uma coroa e uma bandeira real prontas para a ocasião).
Muito embora a vontade do sultão fosse tomar Chipre, o mesmo sofreu oposição de uma parcela oficiais na corte otomana que eram favoráveis à paz, uma vez que um acordo de paz havia sido renovado há pouco tempo (1567). Contudo, outro partido na corte otomana, dessa vez favoráveis a guerra, acabou vencendo as discussões, sendo essa a decisão a ser tomada por Selim II.
Foi obtido um parecer jurídico favorável que declarou que a violação do tratado era justificada, uma vez que Chipre era uma "antiga terra do Islã" (por pouco tempo no século VII) e que deveria ser retomada. O dinheiro para a campanha foi levantado pelo confisco e revenda de mosteiros e igrejas da Igreja Ortodoxa Grega. O antigo tutor do sultão, Lala Mustafa Pasha, foi nomeado comandante das forças terrestres da expedição. Müezzinzade Ali Pasha foi nomeado Kapudan Pasha (almirante da marinha otomana), mas como era totalmente inexperiente em assuntos navais, ele designou Piyale Pasha como seu principal assessor.
Em 27 de junho, a força de invasão, cerca de 350-400 navios e 60.000-100.000 homens, partiu para Chipre. Os otomanos desembarcaram sem oposição em Salines, perto de Larnaca, na costa sul da ilha, em 3 de julho, e marcharam em direção à capital, Nicósia. Os venezianos ficaram em dúvida se deviam ou não se opor ao desembarque, mas diante da superioridade da artilharia otomana e do fato de que uma derrota significaria a aniquilação da força defensiva da ilha, decidiram se retirar para os fortes e resistir até que chegassem reforços. O cerco de Nicósia começou em 22 de julho e durou sete semanas, até 9 de setembro.
Os otomanos, sob o comando de Lala Mustafa Pasha, cavaram trincheiras em direção às muralhas enquanto atiravam rajadas constantes de arcabuz. Finalmente, após 45 dias de cerco, em 9 de setembro, a 15ª investida conseguiu romper as muralhas depois que os defensores esgotaram suas munições.
Após a queda de Nicósia, a fortaleza de Kyrenia ao norte se rendeu sem resistência e, em 15 de setembro, a cavalaria turca apareceu diante da última fortaleza veneziana, Famagusta. A essa altura, as perdas totais venezianas (incluindo civis) foram estimadas pelos contemporâneos em 56.000, dentre eles mortos ou prisioneiros.
Enquanto o exército otomano fazia sua campanha em Chipre, Veneza tentava encontrar aliados. O Sacro Imperador Romano, tendo acabado de concluir a paz com os otomanos, não queria quebrá-la. A França era tradicionalmente aliada com os otomanos e hostil aos espanhóis [2], e os poloneses estavam preocupados com a Moscóvia. Os Habsburgos espanhóis, a maior potência cristã no Mediterrâneo, não estavam inicialmente interessados em ajudar a República e ficaram ressentidos com a recusa de Veneza em enviar ajuda durante o cerco de Malta em 1565. Além disso, Filipe II da Espanha queria concentrar sua força contra os estados berberes do norte da África.
Embora tudo parecesse perdido, foi graças ao Papa Pio V e sua dedicada mediação que a formação de uma aliança contra os Otomanos foi possível de ser concluída. A "Santa Liga" foi formada em 15 de maio de 1571, que previa a montagem de uma frota de 200 galeras, 100 navios de abastecimento e um exército de 50.000 homens. Para garantir o apoio espanhol, o tratado também incluiu a promessa veneziana de ajudar a Espanha no norte da África posteriormente.
De acordo com os termos da nova aliança, durante o final do verão, a frota cristã se reuniria em Messina, sob o comando de Dom João da Áustria, que chegou em 23 de agosto. Naquela época, no entanto, Famagusta já havia caído, e qualquer esforço para salvar Chipre seria sem sentido. Dom João, contudo, não sabia da vitória otomana e partiu ao leste, vindo a saber da vitória otomana após dez dias de viagem quando atracaram em Cofu. Em contrapartida, a frota otomana, comandada por Muezzinzade Ali Pasha, havia ancorado em Lepanto (Nafpaktos), perto da entrada do Golfo de Corinto.
As frotas eram mais ou menos equivalentes: a frota otomana era maior com 278 navios contra os 212 cristãos, mas os navios cristãos eram mais robustos; ambas as frotas transportavam cerca de 30.000 soldados, enquanto a frota otomana tinha 50.000 marinheiros e remadores e a frota cristã tinha 20.000 marinheiros e remadores. Enquanto os cristãos tinham o dobro de canhões, os otomanos compensavam por um corpo de habilidosos arqueiros. Em 7 de outubro, as duas frotas se envolveram em uma batalha ao largo de Lepanto, que resultou em uma vitória para a frota cristã, sendo a frota otomana efetivamente destruída, perdendo cerca de 25.000 a 35.000 homens, além de cerca de 12.000 escravos cristãos que foram libertos das galés.
Na peça de Shakespeare, podemos ver Otelo sendo convocado devido à ameaça otomana de invadir Chipre. Otelo deixa Veneza para comandar os exércitos venezianos contra invasores turcos na ilha de Chipre, acompanhado por sua nova esposa, seu novo tenente Cássio, seu alferes Iago e a esposa de Iago, Emilia, como assistente de Desdêmona. Ao chegarem em Chipre, Otelo fica sabendo que uma tempestade destruiu a frota turca, ordenando assim uma grande celebração, saindo também para consumar seu casamento com Desdêmona.
Este é o breve resumo do contexto histórico que veio a ambientar e inspirar a peça de Shakespeare, sendo o próprio Otelo um “mouro”.
Aspectos raciais em Otelo
Conforme o próprio título da peça, Otelo era um mouro, que segundo leciona Bethencourt (2018), o termo originalmente designava o nativo da Mauritânia. Mouro (moro em espanhol e italiano, moor em inglês, maure em francês), do latim maurus, na Idade Média significava não só um muçulmano, mas também uma pessoa de características físicas africanas, com pele e cabelo escuros. Com o tempo, o termo “mouro” assumiu uma variedade de significados: dependendo do país, poderia significar um mulato, um cavalo ou uma égua de pelagem escura e testa branca (ou cabeça escura com pelagem clara), vinho misturado com água, uma criança por batizar, um pagão, uma pessoa trabalhadora, um curandeiro que se servia de versos do Alcorão na sua prática, uma prova num torneio a cavalo, personagens de uma peça, a representação de combates entre cristãos e muçulmanos acompanhada por música e dança, um muçulmano do Sri Lanka, da Índia ou das Filipinas, ou um tipo de macaco (BETHENCOURT, 2018).
Muito embora personagens descritos como “mouros” tenham aparecido em outras obras de Shakespeare, como Titus Andronicus e O Mercador de Veneza, personagens com essa descrição eram raros nas peças teatrais da época, principalmente dentre os personagens principais. Em algumas representações (não só teatrais) na Península Ibérica que figuravam mouros, vemos eles mais como povos conquistados/expulsos do que figuras passíveis de demonstrar alguma “superioridade” moral e ética. Em 1516, em Bruxelas, as cerimônias fúnebres do rei Fernando de Aragão e Castela, organizadas pelo artista da corte habsburga Jan Gossaert, incluíram um desfile mascarado de mouros e índios que representavam os povos conquistados de Granada e das ilhas caribenhas. Em 1517-8, as xilogravuras de Hans Burgkmair de diferentes povos do mundo para a marcha triunfal do imperador Maximiliano I renovaram a tradição, iniciada na Europa Ocidental por Rogério II e desenvolvida por Frederico II, de representar os africanos e os asiáticos como povos derrotados para elevar o status imperial.
Em 1520, a entrada de Carlos V em Antuérpia contou com a exibição de África e Ásia ajoelhadas perante o soberano, representado abraçando a Europa. A imagem estava ladeada por troféus de cabeças empaladas de muçulmanos e otomanos norte-africanos. Em 1526 construiu-se em Sevilha, para as cerimônias que assinalaram o casamento de Carlos V com Isabel de Portugal, um arco do triunfo que representava a Glória personificada a coroar o imperador e a imperatriz, com italianos, espanhóis, alemães, flamengos, mouros e índios a seus pés. Em 1539, em Florença, Carlos V foi recebido com um arco triunfal que celebrava a sua posição como imperador, com a personificação de Espanha, México, Peru, Alemanha, Itália e África como seus vassalos. Dois anos depois, em Milão, Giulio Romano construiu um arco em que o imperador representava a Europa, com um índio (a personificar o Novo Mundo), um mauritano (África) e um turco (Ásia) a seus pés. Foi uma das primeiras representações públicas dos quatro continentes. Em 1549, em Antuérpia, durante a entrada de Carlos V e do seu herdeiro, o príncipe Filipe, um cortejo representou as três partes do mundo governadas pelo príncipe, personificadas por figuras femininas que apresentavam uma turca como a Ásia e uma egípcia como a África. A índia que simbolizava o Novo Mundo não foi apresentada, mas havia uma inscrição que a citava. A representação continuava, mostrando Filipe expulsando turcos, mouros, árabes, sarracenos, africanos e mamelucos do palco, tendo como objetivo explícito a libertação das províncias da Grécia, do Norte da África e da Ásia Menor.
Os exemplos são infindáveis [3]...
Como exposto acima, uma vez que o termo mouro pode designar uma infinidade de significados, não há consenso a respeito da origem de Otelo. No próprio idioma inglês do período elizabetano, a palavra “negro” poderia significar muito além da cor de pele, incluindo também uma variedade de significados negativos. As representações renascentistas do termo mouro eram vagas, variadas, inconsistentes e contraditórias. O termo “mouro” se referia a pessoas de pele escura no geral, usado de forma intercambiável com termos como “africano”, “somali”, “etíope”, “negro”, “árabe”, “berbere” e assim por diante (BARTELS, 1990). Na Espanha e em Portugal, provérbios seculares testemunham o uso generalizado da palavra “mouro” (e “mourisco”) para dar conta de uma grande variedade de situações originalmente definidas pelo preconceito e pelo abuso étnico, servindo como prova das referências aos fenótipos desde os mais antigos períodos da história desses países (BETHENCOURT, 2018).
Alguns dos editores da peça de Shakespeare, como Michael Neill, observaram que as primeiras personificações da raça de Otelo o designam como sendo subsaariano. Ernest A.J. Hogmann, por sua vez, especulava se Otelo havia sido inspirado na figura do embaixador marroquino Abdel Ouahed ben Messaoud ben Mohammed Anoun, enviado pelo sultão marroquino Al-Mansur até a rainha Elizabeth I em 1600.
Otelo foi frequentemente representado como um árabe durante o século XIX. Independentemente do que Shakespeare pretendia ao chamar Otelo de "mouro" (se ele queria dizer que Otelo era muçulmano, ou negro ou ambos) no século XIX e grande parte do século XX, muitos críticos tendiam a ver a tragédia em termos raciais, vendo os casamentos interraciais como "aberrações" que poderiam acabar mal. Dada essa visão de Otelo, a peça tornou-se especialmente controversa na África do Sul da era do apartheid, onde os casamentos interraciais foram proibidos e as apresentações de Otelo foram desencorajadas. Curiosamente, na Idade Média eram comuns os casamentos interraciais entre mouros e princesas cristãs brancas na Península Ibérica.
Ao longo da história, Otelo seria interpretado tanto por brancos quanto por negros, mas o termo “mouro” nunca pôde ser desassociado da peça, uma vez que está no próprio título da obra de William Shakespeare.
NOTAS
[1] Muito embora a união cristã tenha perdido na maioria das batalhas e o Império Otomano tenha saído fortalecido dos conflitos, a batalha de Lepanto serviu como um marco propagandístico para o Ocidente cristão, tão qual havia sido a Reconquista um século antes. Assim, a tradição católica atribui à Lepanto uma das famosas aparições da Virgem Maria, que supostamente teria aparecido para auxiliar as frotas cristãs contra os Otomanos, sendo esse milagre o motivo da vitória cristã sobre os muçulmanos.
O Papa Pio V instruiu que as palavras do salmista – “isto é obra do Senhor” – fossem estampadas em medalhões comemorativos da destruição da armada otomana pela Liga Sagrada em Lepanto em 7 de outubro de 1571. Dos 230 navios de guerra inimigos, apenas trinta escaparam, deixando para trás 30.000 mortos. Como os cristãos recitaram o rosário antes de entrar na batalha, o papa dedicou o dia da batalha à Nossa Senhora da Vitória, mas dois anos depois seu sucessor, Gregório VIII, rebatizou-o para Nossa Senhora do Rosário. Abaixo da representação da batalha no palácio do Doge, o Senado veneziano inscreveu: “Não nosso poder e armas, nem nossos líderes; mas a Madonna do Rosário ajudou-nos a vencer”.
[2] Aliança essa que duraria dois séculos, como pode ser visto no artigo aqui mesmo no site do História Islâmica.
[3] Dentre os inúmeros exemplos que podemos citar está o de Guillaume Postel, linguista francês do século XVI, chamava os mouros (norte-africanos) como os “piores miseráveis, infiéis e traidores entre todos os seguidores de Maomé” (na verdade, mahomediques, um insulto comum), atacando especialmente o fato da contribuição dos muçulmanos do norte da África para a conversão dos cristãos ao Islã.
REFERÊNCIAS
FINKEL, Caroline. Osman’s Dream: The Story of the Ottoman Empire. 1300-1923. John Murray, 2006.
HONIGMANN, E.A.J; THOMPSON, Ayanna. Othello (The Arden Shakespeare, Revised Edition). Bloomsburry Publishing, 2015.
MADDEN, Thomas F. Venice: A New History. Viking, 2012.
JENNINGS, Ronald. Christians and Muslims in Ottoman Cyprus and the Mediterranean World, 1571–1640. New York University Press, 1993.