É inimaginável a existência da física e da matemática moderna sem a álgebra, termo que deriva do árabe ‘’al-Jabr’’ ou ‘’a Redução’’, título do livro do grande matemático persa medieval al-Khwarizmi, ou mesmo nossos computadores, redes sociais e smartfones sem os algoritmos e algarismo, termo do latim medieval derivado do nome do próprio polímata oriental.

A matemática originada na Índia e depois adaptada, testada, refinada e exportada pelo mundo islâmico medieval revolucionou esta ciência no Ocidente, e uma prova cabal deste legado é que até hoje utilizamos termos arábicos e, os números arábicos adaptados, como o revolucionário conceito de 0, em basicamente tudo que realizamos. Até mesmo nossos termos monetários como ‘’cifra’’ derivam do árabe ‘’sifr’’. Mas como é fácil esquecer os débitos civilizacionais quando se chega ‘’lá’’...

Evolução do sistema numérico moderno 

De acordo com uma pesquisa realizada nos Estados Unidos em 2019 pela empresa de consultoria CivicSciencemais da metade da população considera que os números arábicos não deveriam ser ensinados nas escolas americanas. A pesquisa perguntou diretamente a 3.624 pessoas se os números arábicos deveriam fazer parte da grade de ensino das escolas. Dentre elas, cerca de 55% responderam categoricamente que não, 29% respondeu que sim e 15% disse não ter opinião. O objetivo desta pesquisa foi demonstrar o preconceito e discriminação da população geral americana com tudo que carrega o nome ‘’árabe’’ no meio.

Em 2015, a mesma CivicScience fez uma sondagem do género, na qual questionava os entrevistados se concordavam que o governo americano deveria bombardear Agrabah. Dos republicanos, 30% mostraram-se a favor. O problema é que tal lugar é um reino-cidade ficcional do filme da Disney “Aladin“.

Tabela da pesquisa da CivicSience 

Tais pesquisas demonstram o quanto a propaganda político-midiática recente sobre quem são os ‘’inimigos da civilização’’ distorceu a percepção das pessoas. É muito difícil encontrar algum campo científico moderno que não tenha sido influenciado ou diretamente criado nas bases intelectuais deixadas pelos árabes muçulmanos medievais. Mas ainda assim, é triste ver toda uma cultura, civilização e religião ser simplesmente associada a seus expoentes ou aspectos mais negativos, ao ponto de pais não quererem seus filhos aprendendo ‘’números arábicos’’ que já utilizamos há quase mil anos, ou quererem bombardear a casa do pobre do Aladin.